São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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Brasil tem menos alternativas para influenciar do que os EUA

da Sucursal de Brasília

A crise colombiana pode se tornar a mais complicada questão de política externa do Brasil desde as guerras sul-americanas de que participou no Império.
Instabilidade explosiva provocada por narcotráfico e por guerrilhas em nação influente com quem compartilha mais de 1.500 km de fronteira amazônica e que desperta o interesse estratégico dos EUA: este é o quadro complexo diante do qual o país tem de se posicionar sem danificar sua liderança regional.
A questão colombiana se agrava com a turbulência em outros países vizinhos, como Venezuela, Equador e Peru, quase todo o norte da América do Sul.
O Brasil não pode demonstrar inércia nem embarcar em aventuras com poucas chances de êxito político (como fez ao enviar 1.100 soldados para a força de paz que, em 66, ocupou a República Dominicana sob inspiração dos EUA).
Também é impossível realizar alguma ação sem ter recebido solicitação do governo da Colômbia, ainda não enviada.
As alternativas para o Brasil são ainda menores que as dos EUA. O país não tem dinheiro para mandar para a Colômbia, nem sofisticação em tecnologia militar que se compare à dos norte-americanos para entrar com apoio logístico significativo.
Embora possa participar de eventual esforço coletivo de manutenção de paz (como fez nesta década em Angola), o governo brasileiro vem reiterando que não tem intenção de mandar tropas para a Colômbia.
Portanto, a contribuição brasileira será prioritariamente política. Mesmo aí, a iniciativa depende muito do desejo da Colômbia de ter apoio do Brasil.
Os EUA, a pedido do governo Pastrana, já conversaram com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), maior grupo guerrilheiro do país. O Brasil não reconhece status nas Farc para dialogar com elas.
Sem a solicitação do governo da Colômbia, qualquer gesto brasileiro em direção às Farc (como o do presidente venezuelano Hugo Chávez, que anunciou a neutralidade de seu país no conflito colombiano, como se os guerrilheiros fossem um Estado) pode atrapalhar, não ajudar.
O Brasil está disposto a participar de uma comissão de observadores das negociações entre governo e Farc, que já deveria estar em funcionamento. Mas as duas partes nem conseguem sentar juntas para discutir se a comissão será formada por Estados nacionais ou personalidades.
O impasse e o crescente interesse da opinião pública pressionam o governo brasileiro a tomar algumas decisões rápidas sob o risco de ver sua imagem interna e externa abalada.
Com os problemas argentinos cada vez mais importantes para a política doméstica brasileira (por causa da integração econômica promovida pelo Mercosul), a crise colombiana ajuda a confirmar a inevitabilidade de uma nova realidade política no Brasil: a de que, no século 21, as questões externas terão relevância na agenda nacional como não tiveram em nenhum momento deste. (CELS)

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