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Brasil tem menos alternativas
para influenciar do que os EUA
da Sucursal de Brasília
A crise colombiana pode se tornar a mais complicada questão de
política externa do Brasil desde as
guerras sul-americanas de que
participou no Império.
Instabilidade explosiva provocada por narcotráfico e por guerrilhas em nação influente com
quem compartilha mais de 1.500
km de fronteira amazônica e que
desperta o interesse estratégico
dos EUA: este é o quadro complexo diante do qual o país tem de se
posicionar sem danificar sua liderança regional.
A questão colombiana se agrava
com a turbulência em outros países vizinhos, como Venezuela,
Equador e Peru, quase todo o
norte da América do Sul.
O Brasil não pode demonstrar
inércia nem embarcar em aventuras com poucas chances de êxito
político (como fez ao enviar 1.100
soldados para a força de paz que,
em 66, ocupou a República Dominicana sob inspiração dos EUA).
Também é impossível realizar
alguma ação sem ter recebido solicitação do governo da Colômbia, ainda não enviada.
As alternativas para o Brasil são
ainda menores que as dos EUA. O
país não tem dinheiro para mandar para a Colômbia, nem sofisticação em tecnologia militar que
se compare à dos norte-americanos para entrar com apoio logístico significativo.
Embora possa participar de
eventual esforço coletivo de manutenção de paz (como fez nesta
década em Angola), o governo
brasileiro vem reiterando que não
tem intenção de mandar tropas
para a Colômbia.
Portanto, a contribuição brasileira será prioritariamente política. Mesmo aí, a iniciativa depende
muito do desejo da Colômbia de
ter apoio do Brasil.
Os EUA, a pedido do governo
Pastrana, já conversaram com as
Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia (Farc), maior grupo
guerrilheiro do país. O Brasil não
reconhece status nas Farc para
dialogar com elas.
Sem a solicitação do governo da
Colômbia, qualquer gesto brasileiro em direção às Farc (como o
do presidente venezuelano Hugo
Chávez, que anunciou a neutralidade de seu país no conflito colombiano, como se os guerrilheiros fossem um Estado) pode atrapalhar, não ajudar.
O Brasil está disposto a participar de uma comissão de observadores das negociações entre governo e Farc, que já deveria estar
em funcionamento. Mas as duas
partes nem conseguem sentar
juntas para discutir se a comissão
será formada por Estados nacionais ou personalidades.
O impasse e o crescente interesse da opinião pública pressionam
o governo brasileiro a tomar algumas decisões rápidas sob o risco
de ver sua imagem interna e externa abalada.
Com os problemas argentinos
cada vez mais importantes para a
política doméstica brasileira (por
causa da integração econômica
promovida pelo Mercosul), a crise colombiana ajuda a confirmar
a inevitabilidade de uma nova
realidade política no Brasil: a de
que, no século 21, as questões externas terão relevância na agenda
nacional como não tiveram em
nenhum momento deste.
(CELS)
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