São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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EFEITO "DESNARCOTIZAÇÃO"
Economia colombiana enfrenta a sua maior recessão desde 1906

do enviado especial a Bogotá

A economia colombiana começa, lentamente, a se "desnarcotizar". Significa o seguinte: com o desmantelamento dos cartéis de Cali e Medellín, uma parte do comércio da droga (que é o filé mignon do ""narconegócio") passou para as mãos de outras máfias, em especial a mexicana.
Consequência: parte dos US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões que as máfias injetavam na economia anualmente, na última década, desapareceu (ou, mais exatamente, está sendo gasta no México).
O que parece uma boa notícia tem, no entanto, conseqüências funestas: em alguma medida, a recessão econômica deste ano se explica pela ""desnarcotização" da economia.
E é uma recessão inédita na história das estatísticas colombianas, que começaram a ser coletadas em 1906. Em 1931, no auge da crise mundial da época, o PIB colombiano (o que o país produz de bens e serviços, o Produto Interno Bruto) encolheu 1,6%. Este ano, a previsão do governo, no acordo que está fechando com o FMI (Fundo Monetário Internacional), é de uma contração de 2%.
Era inevitável nesse cenário que aumentasse brutalmente o número de pobres. Só nos últimos 12 meses, o país passou a ter 1,8 milhão de novos pobres, conforme investigação de Fábio Sánchez para o Cede (Centro de Estudos para o Desenvolvimento Econômico).
Com isso, a pobreza afetava, em junho, 18,4 milhões de colombianos ou 44,2% dos 41,6 milhões de habitantes.
Um segundo fator a contribuir para a crise econômica é o brutal custo da guerra interna. Foram US$ 3,4 bilhões ou 9% do PIB, entre 1991 e 1996, conforme recente estudo divulgado pelo Departamento Nacional de Planejamento do governo.
A paz seria, portanto, um importante ativo econômico. Ainda mais se o governo e as Farc conseguirem de fato chegar a um acordo sobre uma agenda de negociações vastíssima. São 48 itens que vão da reforma agrária à política petrolífera, passando pela dívida externa, outro pesadelo.
Uma reforma econômica que privilegiasse o gasto social e o tornasse mais eficaz ajudaria a diminuir a pobreza e o desemprego (19,8% em junho, outro recorde histórico).
Mesmo sem reforma econômica, a pacificação do país produziria resultados econômicos benéficos: exato US$ 1,1 bilhão por ano (1,1% do PIB), conforme o citado estudo do Departamento Nacional de Planejamento.
Já a continuação da guerra e a recessão teriam o óbvio efeito inverso.
"Na medida em que continuar aumentando o nervosismo, as pessoas vão começar a retirar dinheiro do país", imagina Erika Montañez, analista da firma de investimentos Corretores Associados. (CR)

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