São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2011

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FOCO

Espanhóis voltam ao campo, tomando lugar de africanos

LUISA BELCHIOR
DE MADRI

Os campos do sul da Espanha viraram palco de disputa de trabalho entre espanhóis e imigrantes africanos.
Afetados pela crise que deixou 22% da população desempregada, os espanhóis voltaram a buscar emprego na agricultura, setor que abandonaram há uma década pelo boom imobiliário.
Respaldados por medidas protecionistas, eles estão tomando o lugar de milhares de imigrantes africanos, que têm no salário das colheitas a principal fonte de renda.
Em 2005, produtores espanhóis recrutaram 35 mil africanos. Em 2009, já em crise, o país chamou apenas 5.000. Neste ano, o Ministério do Trabalho espanhol decidiu proibir as contratações de estrangeiros em seus países de origem para as colheitas.
A medida divide produtores locais -que, embora queiram ajudar seus conterrâneos, dizem ainda precisar do "know how" dos africanos.
"Os espanhóis deixaram os campos sem nem dar 'tchau'. Tivemos de buscar gente de fora para não fechar as portas. Não acho justo demitir esses imigrantes que nos ajudaram", diz o empresário agrícola Antonio González.
A solução de muitos produtores nos últimos anos vinha sendo recolocar no mercado desempregados de cidades próximas às colheitas, principalmente Huelva, no sul, que tem as maiores plantações de morango da Europa e produz 250 mil toneladas da fruta por ano.
Anualmente, os produtores dali, com respaldo do governo, contratavam marroquinos e argelinos, em um dos poucos casos de migração bem recebida na Europa.
"Todos os lados saem satisfeitos", diz Iván Martín, coordenador do projeto Metoikos, da União Europeia, que pesquisa a migração circular entre Marrocos e Espanha.
Pelo programa, durante os cerca de três meses da colheita, os africanos trabalham por um salário de € 38 (R$ 90)ao dia, nove vezes o que eles ganhariam no Marrocos.
"Esse trabalho na Espanha ajuda para o ano inteiro. Não sei o que faremos agora", afirma o marroquino Mahed Lothi, que trabalhou em Huelva nas últimas três colheitas.
Agora, os únicos estrangeiros que podem ser contratados são os que já vivem em território espanhol e têm visto de trabalho permanente.
"Estamos sem emprego, e esse é um setor em que trabalharam nossos pais e nossos avôs", diz Rafael Barrez, 38.
O governo não tem previsão de quanto tempo durará o cancelamento das contratações de estrangeiros.
"Nosso desafio hoje é justificar que o governo apoie a busca por trabalhadores fora quando há tantos aqui desempregados", disse o diretor geral de imigração do governo, Marcus Beifuss.



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