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São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

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VIZINHO EM CRISE

Bolívia vive novo dia de protestos; militares e base de apoio político se distanciam de Sánchez de Lozada

Aliados falam em renúncia presidencial

David Mercado/ Folha Imagem
Manifestantes constróem barricada em praça de La Paz


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A COCHABAMBA

Os protestos na Bolívia se espalharam pelo país ontem enquanto o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada via seu apoio se esvair.
Um dos partidos da base governista afirmou estudar a renúncia do presidente e o comandante das Forças Armadas afirmou que não apóia Sánchez de Lozada "como pessoa", mas sim "um governo legitimamente constituído".
Em entrevista exclusiva à Folha, o líder do MAS (Movimento ao Socialismo), Evo Morales, disse que "não há negociação antes da renúncia de Sánchez de Lozada".
O presidente afirmara que as manifestações são "um grande projeto subversivo, organizado e financiado no exterior, para destruir a democracia boliviana". Os manifestantes, que começaram exigindo o fim do plano para exportar gás boliviano usando o Chile como saída para o mar, já suspenso, afirmam que só pararão se Sánchez de Lozada renunciar. Ele, que assumiu em agosto de 2002 com mandato de cinco anos, se nega a deixar o poder.
Segundo Morales, que participa da coordenação dos protestos a partir de Cochabamba, a oposição defende a "nacionalização da produção de gás boliviano", mas nega que a proposta afetaria a brasileira Petrobras, a maior empresa em atuação na Bolívia.
"Queremos nacionalizar as empresas multinacionais que produzem hidrocarbono, mas, para nós, a Petrobras não é uma multinacional, e sim uma empresa do povo irmão brasileiro". Morales disse que não há risco para as operações da Petrobras na Bolívia.

Base solapada
A base de apoio ao presidente vem ruindo a cada dia. Anteontem, o vice-presidente, Carlos Mesa, também presidente do Congresso, rompeu com o governo e quatro ministros se demitiram. As Forças Armadas também ensaiam um distanciamento.
"Não é apoio ao presidente como pessoa. As Forças Armadas cumprem um mandato constitucional. A Constituição nos manda defender um governo legítimo", disse o general Roberto Claros.
Mais tarde, no entanto, as Forças Armadas emitiram comunicado em que "reiteram sua subordinação, obediência e apoio ao presidente" diante dos protestos que duram mais de três semanas e mataram ao menos 56 pessoas.
O líder da Nova Força Republicana (NFR), que faz parte do governo e à qual são filiados três dos ministros que renunciaram, afirmou estar considerando a saída de Sánchez de Lozada. "Temos que considerar se a preservação da democracia passa pela renúncia", disse Manfred Reyes Villa. "Não estou com o governo, estou com a democracia."
Reyes Villa ficou em terceiro lugar nas eleições de 2002 -atrás de Sánchez de Lozada e Morales.
Já o Movimento Bolívia Livre (MBL), que deixara a base do governo em fevereiro, alinhou-se aos manifestantes que pedem a renúncia do presidente. O partido, dirigido pelo cônsul boliviano no Chile, Víctor Rico, declarou apoio a Mesa e pediu que Sánchez de Lozada recue em prol da paz.
Horas antes, o ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-93) declarara seu apoio a Sánchez de Lozada. "Que difícil é amar a Bolívia", disse. Em contrapartida, a Ação Democrática Nacionalista (ADN), do ex-presidente Jorge Quiroga (2001-2002), pediu ao presidente "um gesto de grandeza: escutar o povo".
O prefeito de La Paz, Juan del Granado, também pediu a renúncia de Sánchez de Lozada e a formação de "um governo de transição" em torno do vice-presidente.
Com agências internacionais

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