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PRIMEIRA VEZ
Reino islâmico reprime liberdade de expressão; centenas de manifestantes foram dispersados a tiros e a gás
Oposição faz passeata na Arábia Saudita
DA REDAÇÃO
Em iniciativa excepcional num
país que proíbe manifestações
públicas e reprime a liberdade de
expressão, centenas de sauditas
saíram ontem às ruas de Riad para reivindicar a instituição de direitos civis praticados pelas democracias ocidentais.
A polícia dispersou a passeata
com tiros para o ar e bombas de
gás lacrimogêneo. Cerca de 50
manifestantes foram presos, segundo a agência Reuters. Já testemunhas citadas pela Associated
Press disseram que os detidos beiram 300.
A Arábia Saudita é uma monarquia absolutista, que aplica uma
interpretação conservadora da
sharia (lei islâmica) na solução
dos litígios. Fundada em 1932, é
governada por um gabinete subordinado ao rei Fahd e ao príncipe Abdullah. O Executivo é auxiliados por um Conselho Consultivo de 120 membros nomeados.
O gabinete havia anunciado anteontem a realização, dentro de
um ano, das primeiras eleições na
história do país, para a escolha da
metade dos vereadores das 14 câmaras municipais. A outra metade seria nomeada pelo governo.
A passeata de ontem foi convocada pelo Movimento pela Reforma Islâmica, de orientação liberal
e com sede em Londres, que defende reformas políticas e administrativas, num país em que o
poder está concentrado no rei.
Os EUA também pressionam o
reino a reformar suas instituições.
A aplicação da lei islâmica cria
tensões das quais se aproveitariam os grupos radicalizados como a Al Qaeda, responsável pelos
ataques terroristas do 11 de Setembro -Osama bin Laden e 15
dos 19 sequestradores do ataque
eram sauditas. Em maio último
atentados em Riad deixaram um
saldo de 35 mortes, levando o governo a realizar uma ofensiva
contra os extremistas.
Comunicado do governo saudita não admitiu ontem ter acontecido uma passeata. Referiu-se
apenas a pessoas que bloqueavam
o trânsito no centro de Riad e que
precisaram ser "removidas" para
permitir que os automóveis voltassem a circular.
A última tentativa de manifestação de que se tem conhecimento
data dos anos 90, quando, em desafio à lei que proíbe mulheres ao
volante, cerca de 50 delas participaram de uma carreta na qual pediram maior liberdade. Elas foram presas, perderam seus empregos e tiveram seus passaportes
confiscados por dois anos.
No mês passado, cerca de 300
homens e mulheres assinaram
um documento no qual pediram
que o governo institua um regime
de amplas liberdades civis.
A passeata de ontem coincidiu
com a abertura, também em Riad,
de uma conferência sobre direitos
humanos, organizada pelo Crescente Vermelho Saudita, durante
a qual alguns participantes previsivelmente criticaram o regime.
A intenção do governo era de,
por meio do encontro, dissociar o
islamismo do terrorismo. Entidades como a Anistia Internacional
não foram convidadas à conferência, embora elogiassem o interesse que o trono saudita estaria
demonstrando pelo tema.
Em janeiro, uma outra organização, a Human Rights Watch,
enviou missão à Arábia Saudita e
sinalizou a vontade do governo
local em respeitar os direitos humanos. Entre as medidas prometidas estão a reforma do Judiciário
para admitir advogados de defesa
em todos os processos e o fim de
penas inumanas, como a amputação da mão direita dos ladrões e a
decapitação dos traficantes.
Com agências internacionais
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