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São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

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PRIMEIRA VEZ

Reino islâmico reprime liberdade de expressão; centenas de manifestantes foram dispersados a tiros e a gás

Oposição faz passeata na Arábia Saudita

DA REDAÇÃO

Em iniciativa excepcional num país que proíbe manifestações públicas e reprime a liberdade de expressão, centenas de sauditas saíram ontem às ruas de Riad para reivindicar a instituição de direitos civis praticados pelas democracias ocidentais.
A polícia dispersou a passeata com tiros para o ar e bombas de gás lacrimogêneo. Cerca de 50 manifestantes foram presos, segundo a agência Reuters. Já testemunhas citadas pela Associated Press disseram que os detidos beiram 300.
A Arábia Saudita é uma monarquia absolutista, que aplica uma interpretação conservadora da sharia (lei islâmica) na solução dos litígios. Fundada em 1932, é governada por um gabinete subordinado ao rei Fahd e ao príncipe Abdullah. O Executivo é auxiliados por um Conselho Consultivo de 120 membros nomeados.
O gabinete havia anunciado anteontem a realização, dentro de um ano, das primeiras eleições na história do país, para a escolha da metade dos vereadores das 14 câmaras municipais. A outra metade seria nomeada pelo governo.
A passeata de ontem foi convocada pelo Movimento pela Reforma Islâmica, de orientação liberal e com sede em Londres, que defende reformas políticas e administrativas, num país em que o poder está concentrado no rei.
Os EUA também pressionam o reino a reformar suas instituições. A aplicação da lei islâmica cria tensões das quais se aproveitariam os grupos radicalizados como a Al Qaeda, responsável pelos ataques terroristas do 11 de Setembro -Osama bin Laden e 15 dos 19 sequestradores do ataque eram sauditas. Em maio último atentados em Riad deixaram um saldo de 35 mortes, levando o governo a realizar uma ofensiva contra os extremistas.
Comunicado do governo saudita não admitiu ontem ter acontecido uma passeata. Referiu-se apenas a pessoas que bloqueavam o trânsito no centro de Riad e que precisaram ser "removidas" para permitir que os automóveis voltassem a circular.
A última tentativa de manifestação de que se tem conhecimento data dos anos 90, quando, em desafio à lei que proíbe mulheres ao volante, cerca de 50 delas participaram de uma carreta na qual pediram maior liberdade. Elas foram presas, perderam seus empregos e tiveram seus passaportes confiscados por dois anos.
No mês passado, cerca de 300 homens e mulheres assinaram um documento no qual pediram que o governo institua um regime de amplas liberdades civis.
A passeata de ontem coincidiu com a abertura, também em Riad, de uma conferência sobre direitos humanos, organizada pelo Crescente Vermelho Saudita, durante a qual alguns participantes previsivelmente criticaram o regime.
A intenção do governo era de, por meio do encontro, dissociar o islamismo do terrorismo. Entidades como a Anistia Internacional não foram convidadas à conferência, embora elogiassem o interesse que o trono saudita estaria demonstrando pelo tema.
Em janeiro, uma outra organização, a Human Rights Watch, enviou missão à Arábia Saudita e sinalizou a vontade do governo local em respeitar os direitos humanos. Entre as medidas prometidas estão a reforma do Judiciário para admitir advogados de defesa em todos os processos e o fim de penas inumanas, como a amputação da mão direita dos ladrões e a decapitação dos traficantes.


Com agências internacionais

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