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Mina de ouro
Mineiros decidem criar um fundo para administrar dinheiro que será obtido com ofertas feitas por emissoras, editoras e revistas ao redor do mundo
Luis Hidalgo/Reuters
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Parente de um dos 33 mineiros varre o local do acampamento
DA ENVIADA A COPIAPÓ
As histórias dos 33 mineiros presos na mina San José
durante 70 dias estão sendo
disputadas na base de gordos cachês por emissoras de
televisão de todo o mundo.
Editoras estapeiam-se pelo privilégio de editar os diários da vida subterrânea e as
cartas que vários mineiros
escreveram durante o período de cativeiro.
E revistas de celebridades
querem comprar o direito de
registrar o casamento de um
mineiro que pediu a mão da
mulher ainda quando estava
preso a 700 metros de profundidade.
As ofertas são tantas e tão
diferentes, que os trabalhadores já discutem como se organizar para explorar a marca "33" da melhor forma possível para todos.
Um escrivão foi chamado
para elaborar o contrato pelo
qual todo o dinheiro obtido
por cada um dos resgatados
iria para um fundo comum e
depois seria dividido entre
todos, igualmente.
Fernando Orellana, primo-irmão de Luís Urzúa, líder dos mineiros soterrados,
confirmou à Folha que as
ofertas já começaram a ser
feitas.
"Eles esperaram muito
tempo para sair da mina. Não
vão decidir nada na base da
afobação", disse.
A mulher de um mineiro,
ontem na entrada do hospital, disse à Folha, sob a condição de não ser identificada,
que o contrato para a divisão
do dinheiro arrecadado é
uma ótima forma de evitar
que venham à tona as dificuldades de relacionamento
que eles enfrentaram ao longo dos 69 dias de convivência forçada.
A família de Ariel Ticona,
29, o motorista mineiro que
teve uma filha durante o confinamento subterrâneo (ele a
chamou de Esperanza, em
homenagem ao acampamento na porta da San José), já recebeu a proposta de uma televisão japonesa: uma entrevista por 7 milhões de pesos
(R$ 25 mil).
O mineiro Claudio Acuña,
44, operador de perfuradora,
que pediu em casamento,
ainda soterrado, a mulher
com quem vive há anos, recebeu a proposta de uma revista de celebridades: eles pagariam uma festança de casamento, em troca da exclusividade de registrar "as bodas".
LONGA-METRAGEM
Da mesma forma que o acidente na mina americana de
Quecreek (2002), no Estado
da Pensilvânia, foi transformada em filme, já se negociam os direitos para levar a
tragédia chilena com final feliz à tela.
Nome: "Os 33", é claro. Os
mineiros teriam participação
na bilheteria.
Como princípio geral, o
que deve entrar em consideração nessas tratativas é o valor do pagamento.
Os trabalhadores e seus familiares acham que têm o direito de aproveitar o sucesso
da operação de salvamento,
"já que sofreram tanto", segundo o pai do mineiro Ariel
Ticona, Mário.
Uma das peças mais disputadas é o diário elaborado
pelo mineiro Darío Segovia,
48, operador de máquina, ao
longo de todo o período de
confinamento.
Um irmão de Darío, Pedro,
confirmou ao jornal "La Tercera" ter recebido propostas
de órgãos de imprensa do
Chile, da França e do Brasil.
Segundo ele, propostas
vão até U$ 50 mil (R$ 85.000)
já estão na mesa. Também há
propostas de editoras.
Os mineiros também terão
muito trabalho para decidir a
quais empresas associarão
seus nomes.
Não faltam "ofertas" para
cruzeiros e viagens. Steve
Jobs, da Apple, "ofereceu" a
cada um dos 33 um iPod
Touch da nova geração.
"Tantas ofertas nada têm
de desinteressadas. São empresas que buscam associar
suas marcas à história de solidariedade, resistência e força de vontade representada
pelos 33. É natural que os mineiros recebam cachês para
aceitá-las", declarou à Folha, na porta do hospital de
Copiapó, o advogado Andrés
Almada.
Ele "oferecia" seus serviços jurídicos às famílias dos
heróis chilenos.
(LAURA CAPRIGLIONE)
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