São Paulo, Segunda-feira, 15 de Novembro de 1999
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PRESSÃO
Medida determina embargo aéreo e bancário a guerrilha islâmica; escritório das Nações Unidas é atacado
ONU impõe sanções ao Afeganistão

das agências internacionais

A ONU impôs sanções aéreas e econômicas ao Afeganistão como forma de pressionar o Taleban, guerrilha fundamentalista islâmica que controla 90% do país, a entregar aos EUA ou a outro país o saudita Osama bin Laden.
Bin Laden é acusado de ter planejado os atentados às embaixadas dos EUA na Tanzânia e no Quênia no ano passado, causando ao menos 224 mortes e deixando 4.000 feridos.
A partir de ontem aviões usados pelo movimento, incluindo os da linha aérea nacional Ariana, estão proibidos de usar aeroportos de outros países. A medida prevê também o congelamento das contas do Taleban no exterior.
Serão admitidas exceções por razões humanitárias, avaliadas por um comitê. Vôos levando peregrinos muçulmanos a Meca precisarão de autorização prévia.
Os EUA já haviam imposto suas próprias sanções ao país no início do ano, incluindo o congelamento dos ativos da empresa Ariana, proibição de realização de investimentos norte-americanos no país e de comércio com áreas sob controle do Taleban.
Embora o Taleban tenha ocupado a capital do país, Cabul, há mais de três anos, a oposição ainda representa o Afeganistão na ONU. Apenas o Paquistão, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos reconhecem o Taleban como o governo legítimo.
As sanções foram decididas pelo Conselho de Segurança da ONU, que as aprovou, por unanimidade, no dia 15 de outubro. O Taleban tinha um prazo de 30 dias para entregar Bin Laden e evitar a adoção das restrições.
O ministro das Relações Exteriores do Taleban, Wakil Ahmad Muttawakil, pediu que a ONU cancelasse ou ao menos adiasse a adoção das sanções e renovou oferta de conversar com Washington. Mas reiterou que não entregaria Bin Laden aos EUA contra a sua vontade.
Milhares de afegãos saíram às ruas ontem para protestar contra as medidas. Manifestantes apedrejaram dois escritórios da ONU no país e destruíram computadores, portões e janelas.
Nenhum funcionário da ONU ficou ferido, mas vários guardas do Taleban se machucaram ao tentar evitar os ataques.
Os manifestantes também gritaram slogans antiamericanos em frente à Embaixada dos EUA, fechada desde 89. "Morte à América, fora Clinton" e "longa vida ao Islã", gritavam os manifestantes.

Impacto
Uma das consequências do embargo será a interrupção do serviço de correio, uma das poucas ligações do país com o mundo externo. O Taleban proibiu o uso de TVs e videocassetes, por considerá-los contrários à moral islâmica. O grupo é sunita, uma das correntes do Islã, oposta aos xiitas.
As medidas também podem ter impacto sobre o já debilitado sistema de saúde do país. Autoridades afirmam que 50% dos remédios e equipamentos hospitalares usados nos hospitais de Cabul são trazidos por avião.
"Será o povo que irá sofrer, não os integrantes do Taleban. Estamos acostumados à guerra e às dificuldades", disse Azizur Rahman, encarregado de imprensa da embaixada do Taleban na Arábia Saudita. Ele minimizou o impacto das sanções financeiras. "O mundo existia antes de que os bancos fossem inventados."
O Taleban confirmou a suspensão dos vôos e afirmou que a companhia Ariana não fará viagens internacionais. Segundo o ministro da Aviação Civil, Akhtar Mohamad Mansur, o movimento não violará as sanções.
O movimento Taleban foi fundado pelo mulá Muhamad Omar, ex-guerrilheiro que lutou contra a ocupação soviética nos anos 80. O grupo surgiu de uma organização de estudantes de teologia. Desde 96, o Taleban controla a capital e a maior parte do território.


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