UOL


São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LULA LÁ

Em Paris, esquerdistas e antiglobalizantes apontam erros e acertos do governo

Lula é criticado em Fórum Social

FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PARIS

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência do Brasil ganhou contornos de esperança para as esquerdas no mundo e para os militantes antiglobalização, mas, passados quase 11 meses, seu governo não alcança a unanimidade entre participantes do Fórum Social Europeu, em Paris.
O deputado e economista Alain Lipietz, candidato do Partido Verde na última eleição presidencial francesa (2002), revela não ter se surpreendido com o desempenho do brasileiro: "Não esperava muita coisa da experiência Lula no Brasil. Sou bastante pessimista em relação à capacidade de Lula realizar as reformas sociais necessárias, mesmo reformas social-democratas, não radicais e não anticapitalistas".
Segundo ele, o PT cometeu um "erro trágico" ao fazer alianças com forças de centro-direita. "Já disse isso aos meus amigos do PT. O PSDB se aliou com a centro-direita, o PT também, e qualquer um dos dois que vencesse as eleições colocaria os conservadores no poder. A política de Lula na agricultura é ditada pelas forças conservadoras agroexportadoras, partidárias dos transgênicos."
O italiano Franco Russo, um dos organizadores do Fórum Social na Itália, se diz consciente das dificuldades de Lula, mas acha "duvidosa" a boa relação do governo com o mercado financeiro. "Ele assumiu compromissos para obter metas inflacionárias e manter o capital sob controle. Isso estrangula o governo Lula. Ele não pode se submeter aos organismos financeiros internacionais."
A socióloga e filósofa espanhola Mariajosé Aubet mostra também uma certa apreensão. "Sentimos um grande entusiasmo pela vitória de um presidente eleito pelo PT, mas os ecos que nos chegam revelam que está bastante difícil resolver a política agrária. Se Lula não se impuser diante dos latifundiários, bancos e instituições financeiras, creio que perderá muito apoio popular, tanto no Brasil como aqui na Europa", sustentou.
O francês Bernard Cassen, presidente de honra do grupo antiglobalização Attac (Associação pela Taxação das Transações Financeiras para Ajuda aos Cidadãos) e diretor-geral do jornal "Le Monde Diplomatique", é contra uma "crítica esquerdista imediata" do governo Lula. "Não vamos nos precipitar no julgamento, não estamos no Brasil."
Mesmo assim, Cassen critica a política macroeconômica do governo -"certamente, não é aquela que nós realizaríamos se estivéssemos no poder"- e outras medidas: "Fiquei chocado com os três dias de luto decretados na morte de Roberto Marinho, fundador da Globo e grande amigo dos militares. Não sei que dívida Lula queria pagar com isso".
O líder sindicalista belga Daniel Van Daele defende o apoio a Lula. "É normal que ele seja contestado. Quando o líder sindicalista polonês Lech Walesa se tornou presidente, ocorreu o mesmo. Não se pode misturar política e sindicato. Mas a crítica é necessária", disse.
Entre brasileiros presentes em Paris, as opiniões se equilibram. Para Sérgio Hadad, presidente da Associação Brasileira de ONGs, as medidas macroeconômicas foram uma "dose bastante dura" aplicada pelo governo brasileiro. Já Oded Grajew, ex-assessor especial do presidente, considera importantes as críticas ao governo, mas avalia o balanço até aqui como "altamente positivo".


Texto Anterior: Turbulência mantém o país em recessão
Próximo Texto: Lei: Argentina endurece punição a policiais
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.