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LULA LÁ
Em Paris, esquerdistas e antiglobalizantes apontam erros e acertos do governo
Lula é criticado em Fórum Social
FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PARIS
A eleição de Luiz Inácio Lula da
Silva para a Presidência do Brasil
ganhou contornos de esperança
para as esquerdas no mundo e para os militantes antiglobalização,
mas, passados quase 11 meses, seu
governo não alcança a unanimidade entre participantes do Fórum Social Europeu, em Paris.
O deputado e economista Alain
Lipietz, candidato do Partido
Verde na última eleição presidencial francesa (2002), revela não ter
se surpreendido com o desempenho do brasileiro: "Não esperava
muita coisa da experiência Lula
no Brasil. Sou bastante pessimista
em relação à capacidade de Lula
realizar as reformas sociais necessárias, mesmo reformas social-democratas, não radicais e não
anticapitalistas".
Segundo ele, o PT cometeu um
"erro trágico" ao fazer alianças
com forças de centro-direita. "Já
disse isso aos meus amigos do PT.
O PSDB se aliou com a centro-direita, o PT também, e qualquer
um dos dois que vencesse as eleições colocaria os conservadores
no poder. A política de Lula na
agricultura é ditada pelas forças
conservadoras agroexportadoras,
partidárias dos transgênicos."
O italiano Franco Russo, um
dos organizadores do Fórum Social na Itália, se diz consciente das
dificuldades de Lula, mas acha
"duvidosa" a boa relação do governo com o mercado financeiro.
"Ele assumiu compromissos para
obter metas inflacionárias e manter o capital sob controle. Isso estrangula o governo Lula. Ele não
pode se submeter aos organismos
financeiros internacionais."
A socióloga e filósofa espanhola
Mariajosé Aubet mostra também
uma certa apreensão. "Sentimos
um grande entusiasmo pela vitória de um presidente eleito pelo
PT, mas os ecos que nos chegam
revelam que está bastante difícil
resolver a política agrária. Se Lula
não se impuser diante dos latifundiários, bancos e instituições financeiras, creio que perderá muito apoio popular, tanto no Brasil
como aqui na Europa", sustentou.
O francês Bernard Cassen, presidente de honra do grupo antiglobalização Attac (Associação
pela Taxação das Transações Financeiras para Ajuda aos Cidadãos) e diretor-geral do jornal "Le
Monde Diplomatique", é contra
uma "crítica esquerdista imediata" do governo Lula. "Não vamos
nos precipitar no julgamento, não
estamos no Brasil."
Mesmo assim, Cassen critica a
política macroeconômica do governo -"certamente, não é aquela que nós realizaríamos se estivéssemos no poder"- e outras
medidas: "Fiquei chocado com os
três dias de luto decretados na
morte de Roberto Marinho, fundador da Globo e grande amigo
dos militares. Não sei que dívida
Lula queria pagar com isso".
O líder sindicalista belga Daniel
Van Daele defende o apoio a Lula.
"É normal que ele seja contestado.
Quando o líder sindicalista polonês Lech Walesa se tornou presidente, ocorreu o mesmo. Não se
pode misturar política e sindicato.
Mas a crítica é necessária", disse.
Entre brasileiros presentes em
Paris, as opiniões se equilibram.
Para Sérgio Hadad, presidente da
Associação Brasileira de ONGs, as
medidas macroeconômicas foram uma "dose bastante dura"
aplicada pelo governo brasileiro.
Já Oded Grajew, ex-assessor especial do presidente, considera importantes as críticas ao governo,
mas avalia o balanço até aqui como "altamente positivo".
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