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São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2003

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GUERRA SEM LIMITES

Relatório vê fracasso de sistema criado para combater rede porque países não cumprem determinações

Al Qaeda segue arrecadando, diz ONU

MARK TURNER
EDWARD ALDEN
DO "FINANCIAL TIMES"

O sistema internacional criado para estrangular o fluxo de recursos financeiros que chegam à rede terrorista Al Qaeda está sendo perigosamente prejudicado por cooperação insuficiente, brechas legislativas e falta de determinação política, avisa a ONU.
Um relatório da ONU recém-divulgado revela que, apesar dos "avanços consideráveis" no combate ao financiamento do terror, empresas e entidades beneficentes ligadas à Al Qaeda seguem operando em todo o mundo.
O relatório destacou as atividades de Youssef Nada e Idris Nasreddin, diretores do grupo financeiro Al Taqwa, que, para os EUA, é o maior responsável pela arrecadação de fundos para a rede.
O relatório afirma que Nada e Nasreddin continuam a manter interesses comerciais e bens na Itália e na Suíça, apesar de terem sido identificados como financistas do terror. Nada teria viajado a Liechtenstein em janeiro e tentado registrar novamente duas empresas ligadas à Al Taqwa, sob nomes novos. Ao fazê-lo, violou a proibição de viajar à qual é sujeito, decretada pela ONU.
Exemplos como esse ""refletem pontos fracos graves e contínuos relativos ao controle de bens e atividades comerciais que não sejam contas bancárias", diz o relatório da ONU. "A Al Qaeda, o Taleban e as pessoas associadas à rede ainda podem obter, solicitar, recolher, transferir e distribuir somas consideráveis. Sem uma resolução mais abrangente que obrigue os países a tomar as medidas indicadas, o papel da ONU corre o risco de ser marginalizado."
O "Financial Times" não conseguiu entrar em contato com Nada na quinta-feira. Em janeiro do ano passado, ele disse ao jornal "The New York Times" que as alegações de que sua empresa poderia ter tido vínculos com grupos extremistas eram "realmente bobagem" e que as investigações "estavam equivocadas, todas, desde os EUA até a Suíça".
Várias resoluções da ONU intensificadas após o 11 de Setembro prevêem que os países membros devem enviar os nomes de pessoas e organizações ligadas à Al Qaeda e ao Taleban a um comitê especial da ONU. Depois de checados, os nomes são incluídos numa lista conjunta e ficam sujeitos a proibição de viajar, congelamento de seus bens e um embargo de armas. Mas a ONU afirma que muitos países não vêm compartilhando informações em nível adequado, não têm incorporado todos os nomes necessários às listas "de proibidos" e vêm relutando em confiscar bens e empresas.
O chileno Heraldo Muñoz, presidente do comitê de sanções da ONU, avisou nesta semana que apenas 84 países-membros da ONU -ou seja, menos de metade do total de 191- já enviaram à organização relatórios sobre a aplicação das sanções.
Muñoz disse ainda que apenas 372 nomes foram incluídos na lista, apesar do fato de 4.000 pessoas supostamente ligadas à Al Qaeda terem sido presas ou detidas em 102 países. "Até o final do ano, farei um relatório sobre os países que não estão seguindo as recomendações", disse ele. "É uma questão urgente. Há pessoas morrendo."
O relatório também destaca a continuidade das operações de organizações beneficentes envolvidas no financiamento da Al Qaeda e diz que o controle delas é dificultado pelo fato de também se envolverem com trabalho humanitário legítimo.
De acordo com o relatório, o embargo de armas contra a Al Qaeda parece estar sendo "totalmente ineficaz" sob diversos aspectos e precisa ser "inteiramente reformulado". Os contrabandistas de armas estariam usando a Somália e o Iêmen como pontos de passagem de seu comércio regional, que se estende pela África e o Oriente Médio.


Tradução de Clara Allain


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