São Paulo, terça-feira, 15 de novembro de 2005

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AMÉRICA LATINA

Crise diplomática cresce após último ataque retórico de Chávez contra Fox; mexicano ameaça romper relações

Venezuela e México retiram embaixadores

DA REDAÇÃO

A crise diplomática entre México e Venezuela se agravou ontem, depois que Caracas rechaçou um ultimato para que o presidente Hugo Chávez se desculpasse formalmente por declarações feitas anteontem contra o colega Vicente Fox e chamou o seu embaixador de volta. Em seguida, o México anunciou a retirada de seu embaixador da Venezuela.
Em entrevista à TV CNN ontem à tarde, Fox ameaçou romper de vez as relações diplomáticas. "Se continuarmos escutando o que temos escutado, claro que sim", ao ser questionado se a crise caminha pra uma ruptura. Com a saída dos embaixadores, as relações bilaterais ficaram reduzidas aos encarregados de negócios.
O ultimato mexicano veio em resposta às declarações de Chávez feitas anteontem, em seu programa de TV "Alô, Presidente", quando, em tom sério, ameaçou Fox: "Não se meta comigo, cavalheiro, porque sairá espinhado".
Em resposta, o porta-voz da Presidência mexicana, Rubén Aguilar, disse que Chávez teria de se desculpar até a meia-noite de ontem, caso contrário o embaixador mexicano seria chamado de volta e o representante venezuelano, "convidado" a deixar o país.
A Venezuela não esperou o prazo se esgotar e ordenou a volta do seu embaixador na Cidade do México, Vladimir Villegas. Em entrevista coletiva, o chanceler venezuelano, Ali Rodriguez, leu uma nota à imprensa na qual qualifica de "agressão sem sentido" o ultimato mexicano e diz que a crise é de "inteira responsabilidade do presidente Fox".
"Desde a sua chegada a Mar del Plata [Argentina], divulgou seus ataques à posição do governo venezuelano durante as negociações preparatórias da 4ª Cúpula das Américas", diz a nota, sobre o encontro realizado nos dias 4 e 5.
"Uma vez concluída a cúpula, o presidente Fox se arremeteu contra a posição venezuelana em termos desrespeitosos muito divulgados e nunca negados por tão alto mandatário contra o presidente Chávez", continua a nota.
No centro da polêmica entre Fox e Chávez estão as divergências entre as "duas Américas", termo cunhado por analistas para exprimir o impasse entre os países que defendiam a aceleração das negociações da Alca (EUA, México e outros 27 dos 34 países da região) e os que acreditam que ainda não há condições para isso (Brasil, Venezuela, Argentina e os demais países do Mercosul).
Logo após a cúpula, Fox já havia trocado farpas com o presidente argentino, Néstor Kirchner, sobre os resultados do encontro.
Na quarta-feira, Chávez tomou as dores e chamou Fox de "entreguista" e "filhote do império".
Dois dias depois, a crise tinha sido praticamente contornada após conversa telefônica entre os dois chanceleres. As declarações de Chávez anteontem, no entanto, colocaram tudo a perder.
O governo brasileiro preferiu não tomar partido na questão. Em nota divulgada ontem, o Itamaraty disse apenas que o "Brasil tem ótimas relações tanto com o México como com a Venezuela e espera que os dois países amigos superem suas divergências."
Para o analista político Lorenzo Meyer, a retirada dos embaixadores é "estritamente simbólica". "É um problema das elites dirigentes, mas que não transcende à sociedade mexicana. Para a vida cotidiana, a política externa só é importante quando afeta as suas relações com os Estados Unidos, para quem enviamos quase 90% das nossas exportações", disse.


Com agências internacionais

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