São Paulo, quinta-feira, 15 de novembro de 2007

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Cristina mantém ministros do marido

Dos 11 integrantes do atual gabinete, só quatro sairão; mudança na pasta da Economia não deve afetar orientação para a área

Presidente eleita cria Ministério da Ciência e Tecnologia e continua com três mulheres no gabinete, mesmo número anterior

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

A presidente eleita da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, manterá em seu governo sete dos 11 ministros do gabinete de seu marido, Néstor Kirchner. O ministro da Economia, Miguel Peirano, porém, será substituído por Martín Lousteau, presidente do Banco da Província de Buenos Aires.
O gabinete de Cristina foi anunciado na manhã de ontem por Alberto Fernández, chefe-de-gabinete de Kirchner (o equivalente ao ministro da Casa Civil no Brasil). Fernández, principal articulador político de Kirchner e um dos participantes do pequeno grupo que toma as principais decisões de governo, é um dos que continuam em seus cargos.
Além dele, seguem no governo a irmã do presidente, Alicia Kirchner (Desenvolvimento Social), Jorge Taiana (Relações Exteriores), Carlos Tomada (Trabalho), Nilda Garré (Defesa) e Julio de Vido (Planejamento). Os dois últimos protagonizaram alguns dos escândalos que abalaram o governo neste ano.
Outro ministro que continua, mas em outra pasta, é Aníbal Fernández: deixa o Interior e vai para a Justiça.

Experiência chilena
A manutenção da maioria da equipe de seu marido dá claros indícios de que o governo de Cristina será de continuidade. Em um primeiro momento, cogitou-se que poderia haver uma mudança mais radical nos ministérios, mas o governo argentino considera um modelo negativo o que ocorreu no Chile, quando Michelle Bachelet, embora aliada de Ricardo Lagos, desmontou o gabinete deixado por seu antecessor.
Duas das quatro mudanças de Cristina foram provocadas por eleições: Daniel Filmus deixa a Educação e vai para o Senado; ele será substituído pelo número dois na pasta, Juan Carlos Tedesco. Ginés González Garcia vai liderar na Câmara Legislativa de Buenos Aires a oposição ao prefeito Mauricio Macri, um dos principais adversários do kirchnerismo, e deixará sua vaga na Saúde para Graciela Ocaña, diretora do Pami (equivalente argentino ao INSS).
No Interior, assume Florencio Randazzo, que ocupava cargo semelhante no governo de Buenos Aires. Cristina decidiu criar um Ministério da Ciência e Tecnologia, que será ocupado pelo presidente da Agência Nacional de Promoção Científica, Lino Barañao.
A única mudança substantiva, portanto, foi na Economia. As desavenças com o secretário do Comércio Interior, Guillermo Moreno, responsável pela polêmica intervenção no instituto oficial de estatísticas (Indec) e a suposta manipulação dos índices de inflação teriam custado o cargo a Peirano, que nunca foi muito forte no posto -assumiu em julho deste ano de maneira emergencial, depois que a então ocupante do cargo, Felisa Miceli, foi flagrada com uma bolsa com dinheiro no banheiro de seu gabinete.
A troca de nomes no ministério não sinaliza mudança: como Peirano, Lousteau é considerado um desenvolvimentista e defende um dos pilares da política econômica atual, o peso desvalorizado.

Sem radicais
Para surpresa de alguns, a defesa do gênero feminino feita por Cristina no discurso da vitória não chegará ao gabinete: só três dos 12 ministros serão mulheres, mesmo número que havia no gabinete de Kirchner até a demissão de Miceli.
Cristina também não dará em seu gabinete vaga a nenhum dos chamados "radicais K", integrantes da União Cívica Radical que apóiam o kirchnerismo. O vice de Cristina, Julio Cobos, é "radical K", e durante a campanha ela defendeu a importância da "concertação plural" entre peronismo e radicalismo iniciada por seu marido.


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