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Cristina mantém ministros do marido
Dos 11 integrantes do atual gabinete, só quatro sairão; mudança na pasta da Economia não deve afetar orientação para a área
Presidente eleita cria Ministério da Ciência e Tecnologia e continua com três mulheres no gabinete, mesmo número anterior
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
A presidente eleita da Argentina, Cristina Fernández de
Kirchner, manterá em seu governo sete dos 11 ministros do
gabinete de seu marido, Néstor
Kirchner. O ministro da Economia, Miguel Peirano, porém,
será substituído por Martín
Lousteau, presidente do Banco
da Província de Buenos Aires.
O gabinete de Cristina foi
anunciado na manhã de ontem
por Alberto Fernández, chefe-de-gabinete de Kirchner (o
equivalente ao ministro da Casa Civil no Brasil). Fernández,
principal articulador político
de Kirchner e um dos participantes do pequeno grupo que
toma as principais decisões de
governo, é um dos que continuam em seus cargos.
Além dele, seguem no governo a irmã do presidente, Alicia
Kirchner (Desenvolvimento
Social), Jorge Taiana (Relações
Exteriores), Carlos Tomada
(Trabalho), Nilda Garré (Defesa) e Julio de Vido (Planejamento). Os dois últimos protagonizaram alguns dos escândalos que abalaram o governo
neste ano.
Outro ministro que continua, mas em outra pasta, é Aníbal Fernández: deixa o Interior
e vai para a Justiça.
Experiência chilena
A manutenção da maioria da
equipe de seu marido dá claros
indícios de que o governo de
Cristina será de continuidade.
Em um primeiro momento, cogitou-se que poderia haver uma
mudança mais radical nos ministérios, mas o governo argentino considera um modelo negativo o que ocorreu no Chile,
quando Michelle Bachelet, embora aliada de Ricardo Lagos,
desmontou o gabinete deixado
por seu antecessor.
Duas das quatro mudanças
de Cristina foram provocadas
por eleições: Daniel Filmus deixa a Educação e vai para o Senado; ele será substituído pelo número dois na pasta, Juan Carlos
Tedesco. Ginés González Garcia vai liderar na Câmara Legislativa de Buenos Aires a oposição ao prefeito Mauricio Macri,
um dos principais adversários
do kirchnerismo, e deixará sua
vaga na Saúde para Graciela
Ocaña, diretora do Pami (equivalente argentino ao INSS).
No Interior, assume Florencio Randazzo, que ocupava cargo semelhante no governo de
Buenos Aires. Cristina decidiu
criar um Ministério da Ciência
e Tecnologia, que será ocupado
pelo presidente da Agência Nacional de Promoção Científica,
Lino Barañao.
A única mudança substantiva, portanto, foi na Economia.
As desavenças com o secretário
do Comércio Interior, Guillermo Moreno, responsável pela
polêmica intervenção no instituto oficial de estatísticas (Indec) e a suposta manipulação
dos índices de inflação teriam
custado o cargo a Peirano, que
nunca foi muito forte no posto
-assumiu em julho deste ano
de maneira emergencial, depois que a então ocupante do
cargo, Felisa Miceli, foi flagrada
com uma bolsa com dinheiro
no banheiro de seu gabinete.
A troca de nomes no ministério não sinaliza mudança: como
Peirano, Lousteau é considerado um desenvolvimentista e
defende um dos pilares da política econômica atual, o peso
desvalorizado.
Sem radicais
Para surpresa de alguns, a defesa do gênero feminino feita
por Cristina no discurso da vitória não chegará ao gabinete:
só três dos 12 ministros serão
mulheres, mesmo número que
havia no gabinete de Kirchner
até a demissão de Miceli.
Cristina também não dará
em seu gabinete vaga a nenhum
dos chamados "radicais K", integrantes da União Cívica Radical que apóiam o kirchnerismo.
O vice de Cristina, Julio Cobos,
é "radical K", e durante a campanha ela defendeu a importância da "concertação plural"
entre peronismo e radicalismo
iniciada por seu marido.
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