São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 2000

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Conheça os princípios da política externa de Bush



DAVID STOREY
DA "REUTERS"

George W. Bush não conquistou a Presidência por sua experiência ou habilidade em política externa. O governador do Texas até hoje manifestou pouco interesse pelo mundo fora dos EUA, tendo viajado para o exterior apenas três vezes em seus 54 anos (com a exceção de várias viagens ao México, vizinho do Texas).
Desde a eleição de 7 de novembro, porém, Bush vem dando atenção especial à política externa e o vem fazendo publicamente, talvez com o intuito de mostrar ao mundo preocupado que, apesar das semanas de incerteza quanto ao resultado da eleição, não haverá hiato na política externa.
Para compensar sua inexperiência e fortalecer sua legitimidade após a estreita vitória, Bush escolherá os integrantes de sua equipe de segurança nacional entre um grupo de assessores experientes, incluindo o general da reserva Colin Powell, o mais cotado para o cargo de secretário de Estado (chanceler).
Numa campanha dominada por questões nacionais, Bush traçou alguns princípios de política externa diferentes de Bill Clinton. Um ponto destacado é sua relutância maior em intervir em conflitos no exterior.
Ele vai manter o compromisso dos EUA com o livre comércio e a Otan (aliança militar ocidental), apesar de ter preocupado os aliados europeus ao sugerir a retirada das forças americanas de manutenção da paz da Bósnia, dizendo que as tropas americanas se destinam a "travar guerras", não a manter a paz.
Diz que vai manter as sanções rígidas impostas ao Iraque e a cooperação com a China, embora veja o gigante comunista mais como "concorrente estratégico" do que como "parceiro estratégico".
Na primeira entrevista que concedeu após a eleição, Bush procurou dissipar esses temores, fazendo questão de enfatizar que os EUA precisam assumir suas responsabilidades no mundo, fortalecer suas alianças mais importantes e não retroceder para o isolacionismo. "Os EUA não podem vencer sozinhos", disse à TV CBS. "A principal ameaça que confronta o país é o isolacionismo. Precisamos fortalecer nossas alianças e trabalhar com nossos amigos."
Bush prometeu seguir adiante com o polêmico sistema nacional de defesa antimísseis, expandindo-o para proteger não apenas os EUA, mas também os aliados e as tropas americanas em todo o mundo, apesar das ameaças russas de que isso selará o fim dos tratados internacionais de armas.
Seus comentários suscitaram em Moscou o temor de que a era dos acordos formais sobre armas, base da estabilidade mundial durante a Guerra Fria, possa ter chegado ao fim e que uma Casa Branca ocupada por Bush possa adotar uma estratégia mais unilateral.
Aparentemente no intuito de afastar os temores de que possa incentivar uma atitude mais arrogante dos EUA, Bush diz que o país precisa demonstrar humildade e, ao mesmo tempo, manter-se firme em seus princípios.
Na entrevista à CBS, Bush disse que os EUA devem manter no mundo "uma presença humilde, porém consistente". "Quando dissermos alguma coisa, estaremos falando a sério e transformaremos nossas palavras em ação".
Bush já disse que preferirá deixar que os aliados regionais dos EUA arquem com o peso maior em conflitos regionais, como o dos Bálcãs. Ao mesmo tempo, concentrará forças para dominar os inimigos em conflitos maiores que afetem os EUA diretamente, como no golfo Pérsico ou no Sudeste Asiático. É a posição do carismático e amplamente respeitado Powell, que comandou as tropas na Guerra do Golfo (91).
Em relação ao Oriente Médio, a posição de Bush é semelhante à de Clinton. Mas diferem sobre um ponto importante: Bush diz que dará início aos preparativos para transferir a embaixada americana de Tel Aviv a Jerusalém assim que tomar posse, uma antiga reivindicação israelense.


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