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São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

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Saddam se diz triste e não coopera, afirma revista

DA REDAÇÃO

"Estou triste porque meu povo está escravizado." A resposta do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein foi dada durante o primeiro interrogatório após sua captura, anteontem, segundo transcrição obtida pela revista "Time", que teve trechos disponibilizados no site da publicação.
"Se eu beber água, terei de ir ao banheiro. Como vou conseguir ir ao banheiro sabendo que meu povo está escravizado?", retrucou, ao negar um copo d'água, sempre segundo a "Time".
Embora não tenha oferecido resistência ao ser preso e inicialmente estivesse "falante" e "colaborativo", segundo relatos dos militares americanos, o ex-ditador pouco colaborou com seus interrogadores.
Ele não respondeu nenhuma questão diretamente e, por vezes, foi incoerente. A transcrição, disse o oficial americano que leu o documento para a "Time", estava "cheia da retórica de Saddam". Indagado sobre o paradeiro de um piloto americano desaparecido na Guerra do Golfo (1991), disse que "nunca soube o que aconteceu". "Nunca mantivemos prisioneiros."
Sobre o suposto arsenal de destruição em massa iraquiano, nunca encontrado, afirmou que ele não existe. "Os EUA sonharam com ele para ter uma razão para ir à guerra". Questionado sobre a razão de impedir o acesso dos inspetores da ONU a determinados lugares, disse que não queria "intrusos nas áreas presidenciais".
Durante a prisão de Saddam, no entanto, os soldados encontraram "material escrito descritivo de valor significativo", segundo um comandante americano, que falou à agência Associated Press sob a condição de anonimato. O militar se negou a dizer se os escritos eram relacionados à resistência iraquiana.
Saddam foi levado para um centro de detenção em local ignorado -segundo a revista, uma cela no Aeroporto Internacional de Bagdá. Relatos não confirmados afirmam que ele teria sido levado para Qatar.
"Ele parecia cansado e abatido, mas não mostrava arrependimento e em alguns momentos tentava justificar seus crimes", disse Adnan Pachachi, membro do Conselho de Governo Iraquiano que viu o ex-ditador. "Quando lhe dissemos que fosse às ruas e visse as pessoas celebrando, ele respondeu que eram desordeiros. Quando lhe perguntamos sobre as valas comuns [em que estão enterrados dezenas de milhares de opositores do regime], ele disse que eram ladrões", disse o líder xiita Adel Abdel Mahdi.
Washington espera que a captura do ex-ditador ajude a interromper a onda de ataques iraquianos que, desde o anúncio do fim dos principais confrontos, em 1º de maio, já matou quase 200 soldados dos EUA.
Entretanto o general Ray Odierno, comandante da 4ª Divisão de Infantaria, ressaltou que não há sinal de que o ex-ditador estivesse por trás da insurgência. Nenhum aparelho para comunicação foi encontrado em seu esconderijo.
"Se eu espero um aumento em retaliação?", disse o general Ricardo Sanchez, comandante das tropas americanas em terra. "Não sei. Não poderia responder isso, mas posso dizer que estamos preparados e que derrotaremos esses elementos."
Já membros do Conselho de Governo Iraquiano disseram esperar que a prisão acelere a transição de poder, prevista para julho. A posição é compartilhada por analistas americanos que vêem na prisão uma forma de Bush acelerar a saída de tropas do Iraque e, com isso, reduzir a possibilidade de grandes baixas que atrapalhem suas chances de reeleição.


Com agências internacionais

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