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Em Bagdá, sensação é de alívio e medo
Apesar da festa, há tensão; "todos querem saber o que acontecerá com Saddam", diz morador à Folha
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim como no dia da queda do
regime de Saddam Hussein, no
dia 9 de abril, também ontem a
população de Bagdá se dividiu
quanto às comemorações da prisão do ex-líder.
Parte foi às ruas expressar sua
alegria de uma maneira muito comum no mundo árabe, particularmente no Iraque: com tiros de
fuzil para o alto.
"Nesse momento, o céu da cidade está coberto de balas", disse à
Folha por telefone o bagdali Ahmed Bahgid no começo da tarde.
"Muita gente está andando nos
carros com as janelas e portas
abertas e disparando sem parar
seus fuzis AK-47 para o alto."
No entanto, segundo o empreiteiro de 41 anos, pai de dois filhos,
que realiza pequenos trabalhos de
construção para a autoridade
norte-americana no país, a maioria das pessoas continuava
apreensiva, esperando por mais
informações sobre a captura e o
futuro do Iraque.
Informações que não vinham,
por um problema frequente em
Bagdá. "Assistimos à notícia da
captura pela televisão, mas logo a
energia acabou", disse à Folha,
também por telefone, Nadyia
Hassan, 30. "A cidade tem energia
por apenas seis horas diárias, em
média."
De acordo com a iraquiana, desempregada como boa parte da
população local, a partir do anúncio oficial grupinhos foram se formando nas ruas de pessoas discutindo o que tinham conseguido
ouvir durante os 60 minutos em
que a TV permaneceu no ar.
"Todos querem saber o que vai
acontecer com Saddam, se vão levá-lo embora ou se ele vai ser julgado aqui mesmo no Iraque", disse Hassan.
Falta de condições
Ahmed Bahgid, que mora no
bairro de classe média Al Mansur,
afirmou que as pessoas com
quem conversou estão aliviadas
com a prisão do ex-ditador iraquiano, mas se preocupam ainda
mais com as condições de vida no
país, principalmente no tocante a
segurança e infra-estrutura.
"Antes, eu fechava meu escritório no centro às 22h, agora tenho
de trancar o edifício às 20h para
não ser assaltado", conta. "Você
não vê mais soldados norte-americanos nas ruas, eles passam rapidamente em seus carros blindados, com medo de atentados."
Outro problema é o abastecimento. O litro de gasolina continua a preços incrivelmente baixos
para os padrões ocidentais -enche-se um tanque de 80 litros com
o equivalente em dinar a US$ 1-,
mas há uma espera de até 24 horas nos postos de combustível.
"Nós temos de pagar pessoas
para ficar nas filas dos postos para
nós", disse o empreiteiro. "Quando vai chegando a nossa vez, alguém vem avisar em casa." Outra
opção é o mercado negro; aí, o
preço dispara, e US$ 1 passa a
comprar um galão, ou 3,74 litros.
Festa na praça Al Firdos
Durante todo o dia de ontem,
centenas de iraquianos faziam
carreata em torno da praça Al Firdos, ao lado do Hotel Palestine, a
mesma que virou símbolo da queda do regime de Saddam Hussein
em 9 de abril, quando uma estátua do ditador foi derrubada depois da tomada da cidade.
Os festejos eram liderados principalmente por xiitas, que representam 60% da população bagdali
e foram o braço islâmico mais
perseguido pelo regime de Saddam, um sunita, da facção rival.
Aos poucos, as guias foram cobertas por cápsulas de balas vazias, enquanto homens distribuíam doces às crianças -e algumas delas balançavam pequenas
bandeiras norte-americanas.
"É ele, é ele!", gritavam alguns
pelas ruas. "Saddam foi capturado, morte aos baathistas", gritavam outros, referindo-se aos integrantes do partido Baath, do qual
faziam parte o ex-ditador, seus
ministros e seguidores.
(SÉRGIO DÁVILA)
Com agências internacionais
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