São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2002

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Duhalde volta a falar em "banho de sangue"

DE BUENOS AIRES E

DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O presidente Eduardo Duhalde voltou a afirmar ontem pela manhã que a Argentina ""está próxima de um banho de sangue" e que há uma bomba social.
""Milhões de pessoas foram agregadas aos contingentes de pobres em nosso país. Para além da vertiginosa transição de pessoas de classe média para pobres, existe um contingente de excluídos que, neste momento de crise, vê aqueles que estão incluídos como oponentes", disse ele.
""Na Argentina, por causa da depressão econômica, nos sentimos em um pântano em que não sabemos se já tocamos o fundo", afirmou o presidente argentino em uma entrevista coletiva para correspondentes estrangeiros.
Duhalde disse ter certeza de que o FMI (Fundo Monetário Internacional) apoiará financeiramente seu governo. ""Um governo, quando começa a trabalhar, supõe que terá ajuda dos organismos dos quais é sócio. Contamos com a ajuda. Todos sabem que a situação da Argentina é difícil."
Criticou, como fizera no final de semana, governos que o antecederam ""por procurarem os organismos internacionais em busca de socorro financeiro sem terem um plano econômico sustentável". ""Iremos aos organismos internacionais com projetos definidos sobre o que queremos fazer."
O presidente afirmou que não dá para ter um plano completo depois de apenas uma semana de assumir o comando de um país com uma crise tão grave.
Duhalde não perdeu a oportunidade para responder ao ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), que tem criticado seu governo reiteradas vezes.
Menem "deveria guardar um respeitoso silêncio, porque a Argentina está em pranto e luto. Será a história que pontuará as cotas de responsabilidade de cada um [pela atual crise". Mas é indiscutível que uma grande porcentagem corresponde a seu governo."
O presidente argentino declarou que ainda nesta semana serão conhecidos os rumos para a economia do país. Ele afirmou que o governo fará o possível para evitar que o sistema financeiro quebre. No fim de semana, o presidente disse que alguns bancos podem quebrar, como é comum em crises da magnitude da que assola a Argentina. "O governo não está defendendo instituições financeiras e sim as economias dos argentinos que estão nos bancos."
O presidente voltou a classificar o "curralzinho" (o bloqueio das contas bancárias) como uma "bomba relógio" que, se explodir, não permitirá que ninguém receba os recursos depositados nos bancos. Por enquanto, não seria possível acabar com o "curralzinho", segundo o presidente, pois os bancos não têm dinheiro para devolver o que foi depositado.
Duhalde, que afirmou no fim de semana que os panelaços "são absolutamente legítimos", contou que uma de suas filhas participou de um. Questionado se foi contra seu governo, o presidente desconversou. "Os jovens, quando vêem um protesto que quer mudar uma situação, se animam." (FV E JAD)



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