São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMÉRICA LATINA EM CRISE

AMÉRICA DO SUL

Queda do petróleo afeta a saúde do país

Venezuela enfrenta crise com aumento de impostos e de juros

DA REDAÇÃO

A crise argentina é a mais evidente e dramática do continente, mas outros países latino-americanos também enfrentam a deterioração de sua saúde econômica. É o caso da Venezuela.
A moeda do país, o bolívar, sofre um ataque especulativo desde o mês passado. No ano passado, ela se desvalorizou 7%. O Banco Central, que adota bandas cambiais, foi obrigado a queimar reservas e elevar os juros para conter a alta do dólar. Ontem, as taxas foram de 37% para 38,5% ao ano, depois de terem subido duas vezes em dezembro (de 34% para 35% e, depois, de para 35,5%).
O presidente Hugo Chávez, cuja popularidade desabou de 99 para cá, foi ao Congresso ontem anunciar medidas impopulares, como a volta da cobrança de uma taxa sobre as transações financeiras.
Há duas razões para a crise. Primeiro, a queda no preço do petróleo, principal combustível da economia venezuelana. Depois a instabilidade política. Some-se a isso uma moeda que, segundo analistas, estaria sobrevalorizada.
A indústria petrolífera como um todo controla 80% da economia do país. O problema é que a queda na demanda, por causa da retração da economia global, derrubou a cotação do barril para menos de US$ 20, ante picos de US$ 35 em 2000.
De acordo com o Ministério das Finanças, o comércio internacional de petróleo e derivados renderá neste ano US$ 8 bilhões. Isso representaria um redução de cerca de 40% em relação aos US$ 13 bilhões de 2001.

O fator político
Chávez tomou posse em fevereiro de 1999 com 90% de apoio popular. No final de 2001, a aprovação não chegava a 30%, e mais da metade dos entrevistados de uma sondagem opinou que o presidente deveria deixar o cargo.
O presidente venezuelano, de tendência socialista, nunca contou com o apoio dos empresários -que chegaram a convocar um locaute, no mês passado, contra o aumento de impostos e a desapropriação de terras. Mas agora são os mais pobres que começam a se opor ao governo.
Mais da metade os venezuelanos trabalha na informalidade. A taxa de desemprego, que está em 15,4%, deverá atingir 17%, segundo estudo do instituto Datanálisis. O país deverá crescer 1,3% neste ano, metade do que se estimava em meados do ano passado.
Numa tentativa de combater a crise e reduzir o impacto da perda de receita com o petróleo (responsável por metade da arrecadação do governo), Chávez anunciou ontem um projeto de elevação de impostos.
Será cobrada, por um ano, uma taxa de 0,75% sobre as transações bancárias. O imposto sobre valor agregado deverá ser reformulado e o governo estuda ainda a cobrança de uma sobretaxa de 10% sobre artigos de luxo.



Texto Anterior: Saiba mais: FMI veta adoção de sistema de câmbio duplo
Próximo Texto: Chile já admite prejuízos com crise argentina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.