São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2002

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COLÔMBIA

Washington admite que está revendo seu auxílio a Bogotá; Pastrana quer acordo para cessar-fogo até domingo

EUA podem se envolver mais na Colômbia

DA REDAÇÃO

O Departamento de Estado dos EUA admitiu ontem que sua política de ajuda à Colômbia está em revisão, mas não quis comentar se isso incluiria ajuda militar para combater as guerrilhas.
A informação foi confirmada pelo porta-voz do Departamento de Estado, Philip Reeker, um dia após o governo colombiano e o principal grupo guerrilheiro do país, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) terem retomado o processo de paz após a crise mais grave nos diálogos em seus mais de três anos.
Segundo reportagem publicada ontem pelo jornal "The Washington Post", o governo de George W. Bush pretende se envolver mais na luta contra as organizações rebeldes colombianas, classificadas pelo Departamento de Estado como terroristas.
Atualmente, os EUA já contribuem com US$ 1,3 bilhão em equipamentos militares e treinamento para o Plano Colômbia de combate ao narcotráfico. Esses recursos, porém, não podem ser utilizados para o combate às guerrilhas. As Farc, assim como os grupos paramilitares de direita que as combatem, são acusados de se financiar cobrando contribuições em troca de proteção aos produtores de coca.
Em discurso recente, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, havia dito que o Plano Colômbia também é um plano de combate ao terrorismo.
Durante a crise no processo de paz, nos últimos dias, Powell havia dado seu apoio à iniciativa de Pastrana de dar um ultimato às Farc.
Na noite de anteontem, o grupo guerrilheiro anunciou que voltaria à mesa de diálogo pouco mais de quatro horas antes do fim do prazo dado por Pastrana para que eles se retirassem da zona desmilitarizada ao sul do país. A zona havia sido concedida em 1998 como condição para o início do diálogo.

Cessar-fogo
Vencida a primeira queda de braço, Pastrana anunciou, em discurso transmitido pela TV, que exigirá das Farc a discussão de pontos como um cessar-fogo e o fim dos sequestros para renovar a vigência da zona desmilitarizada, que vence neste domingo, dia 20.
"Agora nós temos até o dia 20 de janeiro, data em que expira o prazo da zona desmilitarizada. Agora o tempo está correndo para chegarmos a um acordo que possa mostrar ao país que as Farc realmente querem o processo de paz", disse Pastrana.
Desde o começo do processo, ele já havia prorrogado o prazo de vigência da zona nove vezes -a última delas em outubro. Segundo Pastrana, uma nova prorrogação depende dos resultados desta semana.
"O que queremos agora é um cronograma muito, muito preciso, com um plano de trabalho", disse o comissário de paz do governo, Camilo Gómez. As negociações entre as duas partes devem ser retomadas hoje, na cidade de Los Pozos, na zona desmilitarizada.
Gómez disse que seria "ilusório e irresponsável" imaginar que as Farc possam deixar de lado todas as suas ações armadas em cinco dias, mas afirmou em entrevista a uma rádio: "O tempo é definitivamente curto mas suficiente. Então, é importante trabalhar duro, sem descanso".
O principal objetivo do encontro de hoje será a retomada do acordo de San Francisco de la Sombra, de outubro do ano passado, que previa a discussão imediata de um cessar-fogo e do fim dos sequestros.
Para muitos analistas, o endurecimento das posições do governo colombiano no diálogo com as Farc se deve em parte às pressões do governo dos EUA, que nunca viram com bons olhos a concessão da zona desmilitarizada e a condução dada ao diálogo de paz.
O chanceler colombiano, Guillermo Fernández de Soto, negou ontem que tivesse havido pressões americanas. Segundo ele, o governo dos EUA atuou de maneira "muito respeitosa".


Com agências internacionais


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