São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2002

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Volta ao diálogo é vitória pessoal para Pastrana

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

A retomada das negociações de paz com as Farc é uma vitória pessoal para o presidente Andrés Pastrana, dividido entre o desejo de levar adiante o processo e a pressão contrária da opinião pública, dos militares e do governo dos EUA.
Após mais de três anos de negociações, para tentar pôr fim a uma guerra civil que já dura quatro décadas, Pastrana tinha muito pouco a comemorar. Apesar de ter concedido às Farc um encrave de 42 mil km2 ao sul do país (área pouco superior à da Suíça), o governo não conseguiu das guerrilhas até agora nenhum avanço concreto na direção da paz.
A própria questão que gerou o impasse nas negociações, sobre os controles no entorno da zona desmilitarizada, implicava a discussão das condições para o diálogo, e não temas fundamentais como cessar-fogo, fim dos sequestros, fim das hostilidades ou erradicação de plantações de coca.
Com a primeira grande queda de braço do processo vencida, Pastrana, agora fortalecido, insiste nesses pontos como forma de mostrar àqueles agentes que antes o pressionavam avanços concretos no processo. O presidente sonha em poder deixar o cargo ao seu sucessor, em agosto, com um processo em bom caminho.

Antecedentes
O esforço de Pastrana foi iniciado antes mesmo de ele assumir o cargo, em 1998, num encontro que manteve com o fundador do grupo guerrilheiro, Manuel "Tirofijo" Marulanda.
O mesmo Marulanda, porém, deixou-o na mão no primeiro encontro oficial que teriam após o início das negociações, em janeiro de 1999, dentro da zona desmilitarizada. A imagem de Pastrana ao lado da cadeira vazia de Marulanda foi o primeiro revés a municiar os críticos do processo.
Reiteradas vezes, as Farc ameaçaram abandonar o diálogo por causa da suposta conivência do Exército do país com a ação dos paramilitares de direita que combatem as guerrilhas. Os paramilitares são acusados por inúmeros massacres a populações civis nas quais as guerrilhas têm supostamente algum tipo de apoio.
Desde seu início o processo vem enfrentando crises, mas nenhuma tão grave como a que quase provocou a sua ruptura definitiva, nesta semana. Pastrana tenta agora provar aos críticos que sua principal bandeira de campanha na eleição presidencial de 1998 é viável e que não terá o mesmo destino das iniciativas anteriores de diálogo, todas fracassadas.
Se a retomada do diálogo com as Farc se confirmar, com avanços concretos na direção da paz, Pastrana pode ver ainda facilitadas as negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN), a segunda maior guerrilha do país, com cerca de 5.000 membros (as Farc têm um efetivo de cerca de 17 mil homens).
Por enquanto, o governo mantém com as ELN encontros não oficiais em Havana.


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