São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Protesto segue crítica do aiatolá Al Sistani; Bremer vai à Casa Branca debater transição com Bush e Rice

25 mil xiitas vão às ruas por eleições diretas

DA REDAÇÃO

Cerca de 25 mil xiitas saíram ontem às ruas de Basra, a segunda maior cidade do Iraque, em protesto contra a proposta americana para a escolha de um governo interino para o país. Apoiando o aiatolá Ali al Sistani, um dos principais líderes religiosos do país, os manifestantes exigiram eleições diretas para escolher quem assumirá o poder em 30 de junho.
Manifestações menores ocorreram em Bagdá, Ramadi e Mossul.
Os xiitas, que perfazem 60% da população iraquiana, foram preteridos durante os 24 anos da ditadura de Saddam Hussein, um sunita. Com um pleito direto, é provável que haja a eleição de um governo favorável a eles. Os EUA, por sua vez, temem a instauração de um governo islâmico no Iraque, preferindo o laicismo.
Ao contrário de uma onda de recentes protestos nas últimas semanas que resultou na morte de cerca de 20 pessoas, a manifestação em Basra transcorreu sem violência. Aos gritos de "Não à América" e "Sim para o islã", os xiitas marcharam até uma mesquita, onde ouviram um discurso do clérigo Ali al Hakim al Safi.
"Não precisamos usar violência para obter nossos direitos quando ainda há meios pacíficos que podem funcionar", disse Al Safi. "Mas, se os meios pacíficos não estiverem mais disponíveis, teremos que buscar outros meios."
Perto do local do protesto, foi desarmada uma bomba.

Convenções regionais
Os EUA afirmam que um pleito direto agora é impraticável, pois o Iraque ainda carece de uma nova Constituição e de um censo para registrar e contabilizar todos os seus possíveis eleitores. Para o diplomata Paul Bremer, chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, isso só será possível em 2005.
Por enquanto, a idéia americana é escolher o novo governo por meio de convenções regionais. O Conselho de Governo Iraquiano, submetido à APC, indicaria comissões para cada uma das 18 unidades políticas regionais iraquianas, chamadas de "governorados". Essas comissões apontariam seus representantes nas convenções, que, por sua vez, votariam no governo interino.
O aiatolá afirma que esse sistema não garantirá a escolha de um governo verdadeiramente representativo, cuja legitimidade, temem os EUA, pode vir a ser contestada pela população.
Com as queixas, os EUA se viram obrigados a rever o modelo e estudam incluir nas convenções representantes indicados por conselhos municipais.
Um clérigo próximo a Al Sistani, Mohammad Baqer al Mohri, sediado no Kuait, afirmou que o aiatolá pode emitir nos próximos dias um decreto pedindo o boicote do governo interino caso ele seja escolhido de forma indireta.
"Com isso, a população iraquiana não vai obedecer esse governo interino, que seria uma caricatura, nomeada pelos americanos", disse Al Mohri à TV Abu Dhabi

Casa Branca
Bremer viajou ontem a Washington para debater a transição iraquiana com o presidente George W. Bush e sua assessora de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, responsável por centralizar as decisões sobre o Iraque.
Na segunda-feira, o diplomata deve se reunir com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para discutir a participação das Nações Unidas no processo. Inicialmente, apenas membros do Conselho de Governo Iraquiano participariam da reunião.
A ONU retirou seus funcionários estrangeiros do Iraque após ter sua sede no país atingida por dois atentados, em agosto e setembro, que mataram 24 pessoas -incluindo o representante de Annan, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Nos próximos dias, o organismo internacional enviará uma equipe para avaliar a situação de segurança na capital.


Com agências internacionais

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