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IRAQUE OCUPADO
Protesto segue crítica do aiatolá Al Sistani; Bremer vai à Casa Branca debater transição com Bush e Rice
25 mil xiitas vão às ruas por eleições diretas
DA REDAÇÃO
Cerca de 25 mil xiitas saíram
ontem às ruas de Basra, a segunda
maior cidade do Iraque, em protesto contra a proposta americana
para a escolha de um governo interino para o país. Apoiando o
aiatolá Ali al Sistani, um dos principais líderes religiosos do país, os
manifestantes exigiram eleições
diretas para escolher quem assumirá o poder em 30 de junho.
Manifestações menores ocorreram em Bagdá, Ramadi e Mossul.
Os xiitas, que perfazem 60% da
população iraquiana, foram preteridos durante os 24 anos da ditadura de Saddam Hussein, um
sunita. Com um pleito direto, é
provável que haja a eleição de um
governo favorável a eles. Os EUA,
por sua vez, temem a instauração
de um governo islâmico no Iraque, preferindo o laicismo.
Ao contrário de uma onda de
recentes protestos nas últimas semanas que resultou na morte de
cerca de 20 pessoas, a manifestação em Basra transcorreu sem
violência. Aos gritos de "Não à
América" e "Sim para o islã", os
xiitas marcharam até uma mesquita, onde ouviram um discurso
do clérigo Ali al Hakim al Safi.
"Não precisamos usar violência
para obter nossos direitos quando
ainda há meios pacíficos que podem funcionar", disse Al Safi.
"Mas, se os meios pacíficos não
estiverem mais disponíveis, teremos que buscar outros meios."
Perto do local do protesto, foi
desarmada uma bomba.
Convenções regionais
Os EUA afirmam que um pleito
direto agora é impraticável, pois o
Iraque ainda carece de uma nova
Constituição e de um censo para
registrar e contabilizar todos os
seus possíveis eleitores. Para o diplomata Paul Bremer, chefe da
Autoridade Provisória da Coalizão, isso só será possível em 2005.
Por enquanto, a idéia americana é escolher o novo governo por
meio de convenções regionais. O
Conselho de Governo Iraquiano,
submetido à APC, indicaria comissões para cada uma das 18
unidades políticas regionais iraquianas, chamadas de "governorados". Essas comissões apontariam seus representantes nas convenções, que, por sua vez, votariam no governo interino.
O aiatolá afirma que esse sistema não garantirá a escolha de um
governo verdadeiramente representativo, cuja legitimidade, temem os EUA, pode vir a ser contestada pela população.
Com as queixas, os EUA se viram obrigados a rever o modelo e
estudam incluir nas convenções
representantes indicados por
conselhos municipais.
Um clérigo próximo a Al Sistani, Mohammad Baqer al Mohri,
sediado no Kuait, afirmou que o
aiatolá pode emitir nos próximos
dias um decreto pedindo o boicote do governo interino caso ele seja escolhido de forma indireta.
"Com isso, a população iraquiana não vai obedecer esse governo
interino, que seria uma caricatura, nomeada pelos americanos",
disse Al Mohri à TV Abu Dhabi
Casa Branca
Bremer viajou ontem a Washington para debater a transição
iraquiana com o presidente George W. Bush e sua assessora de Segurança Nacional, Condoleezza
Rice, responsável por centralizar
as decisões sobre o Iraque.
Na segunda-feira, o diplomata
deve se reunir com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para
discutir a participação das Nações
Unidas no processo. Inicialmente, apenas membros do Conselho
de Governo Iraquiano participariam da reunião.
A ONU retirou seus funcionários estrangeiros do Iraque após
ter sua sede no país atingida por
dois atentados, em agosto e setembro, que mataram 24 pessoas
-incluindo o representante de
Annan, o brasileiro Sérgio Vieira
de Mello. Nos próximos dias, o
organismo internacional enviará
uma equipe para avaliar a situação de segurança na capital.
Com agências internacionais
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