São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 2010

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Governo faz ofensiva final em pleito chileno

Com 80% de aprovação, Bachelet tenta transferir preferência a Eduardo Frei, que ficou em 2º no 1º turno

THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

O governo do Chile vive um paradoxo: o candidato da presidente mais apreciada nos últimos 20 anos conseguiu o pior resultado nas urnas em cinco eleições no período.
Diante da ameaça de derrota para Sebastián Piñera, um empresário de centro-direita que venceu o primeiro turno com 44% dos votos, o governo da socialista Michelle Bachelet, aprovado por quase 80% dos chilenos, entrou de cabeça na campanha no segundo turno.
Para tentar transferir votos ao ex-presidente Eduardo Frei (1994-1999), dono de 29% dos votos no primeiro turno, Bachelet cedeu assessores-chave à campanha, direcionou a agenda legislativa do governo e reforçou o discurso em temas caros à esquerda -como os direitos humanos, objeto do Museu da Memória, projeto de US$ 20 milhões inaugurado na última segunda, a seis dias do pleito.
A construção recorda violações cometidas no regime militar (1973-1990), principal munição da Concertação -a coalizão de Bachelet e Frei- contra a direita no país.
Na semana anterior, a presidente havia dado urgência a projetos de lei defendidos por Marco-Enríquez Ominami, o deputado dissidente do governo que teve 20% no primeiro turno. Depois do anúncio, Ominami declarou voto em Frei.
Logo após o primeiro turno, Bachelet já havia impulsionado projeto que obriga governantes com mais de US$ 19 milhões de patrimônio a abrir mão da gestão de bens durante o mandato. Uma das maiores apostas de Frei é apontar conflito de interesses pela condição de empresário de Piñera, cujo patrimônio é estimado em US$ 1 bilhão.
"O governo jogou forte para ajudar Frei na reta final, quase transpondo o limite da prudência", disse à Folha o analista Guillermo Holzmann, da Universidade de Valparaíso.
Piñera acusou o golpe ao criticar ontem intervenção "abusiva" do governo na campanha. O esforço contra Piñera se reflete nos números: Frei reduziu a diferença e chega à eleição de amanhã 1,8 ponto atrás do rival -empate técnico, segundo pesquisa Mori. O próprio comando do empresário reconhece que a campanha de Frei melhorou no segundo turno.
"Houve uma mudança de equipe. Incorporaram à campanha uma nova geração de líderes da Concertação. Impregnaram-se de uma nova energia, e isso se sentiu na última semana", disse à Folha o coordenador de marketing de Piñera, Hernán Matte.
O comando da campanha de Frei mudou de cara com a chegada de nomes jovens de peso do gabinete de Bachelet, como a ex-porta-voz e ministra de Governo Carolina Tohá, 44.
Mas a dois dias da eleição, o favoritismo de Piñera -ainda que estreito- permanecia ontem, o que se refletia pela manhã na sede do comando de Frei. Lá, a Folha observou desânimo e tensão nas expressões de líderes da campanha.


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