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Governo faz ofensiva final em pleito chileno
Com 80% de aprovação, Bachelet tenta transferir preferência a Eduardo Frei, que ficou em 2º no 1º turno
THIAGO GUIMARÃES
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
O governo do Chile vive um
paradoxo: o candidato da presidente mais apreciada nos últimos 20 anos conseguiu o pior
resultado nas urnas em cinco
eleições no período.
Diante da ameaça de derrota
para Sebastián Piñera, um empresário de centro-direita que
venceu o primeiro turno com
44% dos votos, o governo da socialista Michelle Bachelet,
aprovado por quase 80% dos
chilenos, entrou de cabeça na
campanha no segundo turno.
Para tentar transferir votos
ao ex-presidente Eduardo Frei
(1994-1999), dono de 29% dos
votos no primeiro turno, Bachelet cedeu assessores-chave
à campanha, direcionou a agenda legislativa do governo e reforçou o discurso em temas caros à esquerda -como os direitos humanos, objeto do Museu
da Memória, projeto de US$ 20
milhões inaugurado na última
segunda, a seis dias do pleito.
A construção recorda violações cometidas no regime militar (1973-1990), principal munição da Concertação -a coalizão de Bachelet e Frei- contra
a direita no país.
Na semana anterior, a presidente havia dado urgência a
projetos de lei defendidos por
Marco-Enríquez Ominami, o
deputado dissidente do governo que teve 20% no primeiro
turno. Depois do anúncio, Ominami declarou voto em Frei.
Logo após o primeiro turno,
Bachelet já havia impulsionado
projeto que obriga governantes
com mais de US$ 19 milhões de
patrimônio a abrir mão da gestão de bens durante o mandato.
Uma das maiores apostas de
Frei é apontar conflito de interesses pela condição de empresário de Piñera, cujo patrimônio é estimado em US$ 1 bilhão.
"O governo jogou forte para
ajudar Frei na reta final, quase
transpondo o limite da prudência", disse à Folha o analista
Guillermo Holzmann, da Universidade de Valparaíso.
Piñera acusou o golpe ao criticar ontem intervenção "abusiva" do governo na campanha.
O esforço contra Piñera se reflete nos números: Frei reduziu a diferença e chega à eleição
de amanhã 1,8 ponto atrás do
rival -empate técnico, segundo pesquisa Mori. O próprio
comando do empresário reconhece que a campanha de Frei
melhorou no segundo turno.
"Houve uma mudança de
equipe. Incorporaram à campanha uma nova geração de líderes da Concertação. Impregnaram-se de uma nova energia,
e isso se sentiu na última semana", disse à Folha o coordenador de marketing de Piñera,
Hernán Matte.
O comando da campanha de
Frei mudou de cara com a chegada de nomes jovens de peso
do gabinete de Bachelet, como
a ex-porta-voz e ministra de
Governo Carolina Tohá, 44.
Mas a dois dias da eleição, o
favoritismo de Piñera -ainda
que estreito- permanecia ontem, o que se refletia pela manhã na sede do comando de
Frei. Lá, a Folha observou desânimo e tensão nas expressões de líderes da campanha.
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