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Para ex-funcionário de Nixon, presidente americano mente para levar adiante uma guerra "ilegal e injusta"
Guerra igualará Bush a Saddam, diz ativista
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao atacar o Iraque, o presidente
dos EUA, George W. Bush, cometerá o mesmo tipo de agressão
protagonizada pela Alemanha de
Adolf Hitler e pelo Japão na Segunda Guerra. Não será muito diferente da invasão do Kuait realizada por Saddam Hussein há 12
anos, estopim da Guerra da Golfo.
As opiniões não são de um pacifista francês ou de um ativista muçulmano, mas de um ex-marine
americano, que teve papel importante na decisão do ex-presidente
Richard Nixon de retirar os EUA
do Vietnã na década de 70.
Há pouco mais de 30 anos, Daniel Ellsberg vazou 7.000 páginas
de documentos confidenciais do
Pentágono, que expuseram argumentos falsos do governo para
manter o país na guerra. Na época, era alto funcionário do Departamento de Estado.
Ele traça um paralelo entre Bush
e Nixon: "Nos dois casos, o presidente está enganando e mentindo
para a nação [..." É uma guerra injusta e ilegal".
Aos 71 anos, Ellsberg mantém-se como ativista aguerrido contra
as ações bélicas promovidas pelos
EUA. Nos últimos sete anos, dedicou-se ao livro "Segredos - Memórias do Vietnã e os Documentos do Pentágono", lançado em
outubro passado, no qual conta a
história do vazamento das informações confidenciais.
Leia trechos da entrevista que
Ellsberg concedeu à Folha, por telefone, de sua casa na Califórnia.
Folha - O que o sr. achou do discurso de Bush ao Congresso, em
que falou sobre o Iraque?
Daniel Ellsberg - Ele falhou na
tentativa de explicar sua guerra,
não apresentou provas nem argumentos lógicos. Ele está conclamando o país a apoiá-lo em uma
guerra agressiva e injusta. Há um
sentido ilegal, no aspecto técnico.
Parece a invasão do Kuait feita
por Saddam.
É claramente um dos casos de
agressão, como os ataques japoneses na Segunda Guerra, ou os
ataques de Hitler a Praga, Polônia
e Rússia.
Ele [Bush" diz que o desarmamento do Iraque é parte da guerra
contra o terrorismo. Se ele pudesse comprovar sua afirmação, haveria justificativa para sua política. Mas ele não fornece nenhuma
prova. Ele argumenta também
que o Iraque está trabalhando diretamente com a Al Qaeda.
Folha - O sr. acredita nessa associação entre a Al Qaeda e Saddam?
Ellsberg - Não é que seja implausível, mas ninguém que eu conheça, incluindo a CIA -embora tenham tentado- surgiu com nenhuma prova para sustentar essa
hipótese. E há uma razão para
acreditar que isso não seja verdade. Há diferenças entre a Al Qaeda
e o regime de Saddam. A Al Qaeda é um movimento extremista
do fundamentalismo islâmico, e a
natureza do regime de Saddam é
uma ditadura brutal, secular, o
que Osama bin Laden [líder da al
Qaeda" despreza.
Folha - Os EUA partirão para a
guerra mesmo sem o aval da ONU?
Ellsberg - Eu acredito que isso
seja claramente ilegal, uma verdadeira violação da Carta da ONU.
Além disso, uma clara violação do
próprio juramento [do presidente
americano, ao assumir o poder"
de defender as leis do país, que
implica respeitar a Carta da ONU.
Se o Conselho de Segurança da
ONU autorizar, será, mesmo assim, uma inconsequência.
Folha - Que paralelo o sr. traça
entre esta guerra e a do Vietnã?
Ellsberg - O maior paralelo é que
nos dois casos o presidente está
enganando e mentindo para a nação, em direção a uma guerra sem
sentido.
Folha - Quais seriam os interesses
americanos por trás desta guerra?
Ellsberg - Eu acho que, se as pessoas ouvissem os administradores que moldam a política do governo, como Dick Cheney [vice-presidente dos EUA", Donald
Rumsfeld [secretário da Defesa",
Paul Wolfowitz [subsecretário da
Defesa"... Há adjetivos muito difundidos para hegemonia mundial, dominação, e para isso é
muito importante controlar as reservas de óleo do Oriente Médio,
não somente do Iraque, mas também do Irã, da Arábia Saudita, da
região do Mar Cáspio -esse é o
instrumento que eles de fato vêem
como necessário para controlar o
mundo. Eles querem o petróleo. É
por isso que eles não vêem com
muita urgência o caso da Coréia
do Norte; este país sim, representa um perigo real neste momento.
Folha - Quais setores da economia americana seriam beneficiados por essa guerra?
Ellsberg - Multinacionais do petróleo e a indústria de armas. Mas
isso não significa que eu acredite
que as corporações de petróleo
estejam realmente pressionando
[o governo" para a guerra. Embora eu entenda que essas empresas
sejam beneficiadas, as incertezas e
as condições caóticas na região
crescerão com a guerra.
Folha - Há rumores de que muitas
pessoas do alto escalão do governo
estão contra essa guerra. O sr. acredita nisso?
Ellsberg - Muitas pessoas têm
vazado informações confidenciais porque acreditam que essa
seja uma guerra sem sentido.
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