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Brasil é alvo de candidatos paraguaios
Ex-bispo de esquerda promete cobrar mais por energia de Itaipu e governista defende acordo comercial com os EUA
Campanha presidencial é a mais acirrada da história do país por desafiar hegemonia do Partido Colorado; brasiguaios correm risco
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
O Brasil está no centro da
campanha eleitoral mais disputada da história paraguaia. Os
candidatos prometem cobrar
até sete vezes mais pela energia
elétrica excedente que o Paraguai vende ao Brasil ou assinar
acordos de comércio com os
Estados Unidos, passando por
cima da "burocracia lenta" do
Mercosul.
Até os 800 mil brasiguaios
correm riscos. Reformas agrárias ou leis de expropriação de
terras na fronteira, com a desculpa da segurança nacional,
são esgrimidas para atingir justamente os brasileiros, maiores
produtores de soja no país.
Depois de 60 anos de modorrenta hegemonia do Partido
Colorado (incluídos 35 anos da
ditadura do colorado Alfredo
Stroessner), o Paraguai começa
a viver sua mais intensa campanha eleitoral.
As eleições acontecem em
abril do ano que vem, mas o
país já está em clima de campanha. O favorito é um novato na
política partidária, que nem
partido tem. O ex-bispo católico Fernando Lugo, 55, tem
imagem positiva para 83% dos
paraguaios e uma taxa de rejeição de apenas 9%.
Chamado de "bispo vermelho", o socialista defende a revisão do Tratado de Itaipu. Acha
que o Brasil paga muito pouco
pela energia que o Paraguai lhe
vende. E sugere um reajuste de
até sete vezes mais do que o
Brasil paga atualmente.
Lugo renunciou à condição
eclesiástica em dezembro. A
Constituição proíbe candidaturas de sacerdotes de qualquer
religião. Mas o Vaticano não
aceitou a renúncia, o que promete uma batalha jurídica para
permitir (ou não) sua campanha.
Racha colorado
O presidente do Paraguai, o
colorado Nicanor Duarte Frutos, opera incansavelmente
uma campanha para emendar a
Constituição e aprovar a reeleição, da qual ele seria o primeiro
beneficiário.
Talvez isso tenha produzido
a possibilidade do fim do império colorado. Ao querer mais
um mandato, Duarte provocou
profundas divisões no partido,
daqueles que esperam que a fila
para a Presidência ande.
Por enquanto, o principal
candidato governista é justamente o vice-presidente, Luis
Castiglioni, 44. Defensor de um
acordo comercial com os Estados Unidos, ele também defendeu a presença de tropas americanas que fizeram exercícios
militares até o final do ano passado no país.
Se o Itamaraty já sabe das dores de cabeça que um reajuste
brutal da energia elétrica produziria no Brasil (daí o temor a
Lugo), também não vê com
bons olhos o plano de Castiglioni, que enfraqueceria ainda
mais o Mercosul.
Além do presidente, do bispo
e do vice, o neto do ditador
Stroessner, conhecido como
"Goli", também quer se candidatar por uma facção que ele lidera no Partido Colorado (há
muros pintados com seu nome
por toda a capital).
O último candidato, preso no
momento, é o ex-general golpista Lino Oviedo, que esteve
preso no Brasil. Líder de uma
facção colorada, criou seu próprio partido.
"Ele ainda é um dos personagens mais populares do país - e
pode ser um último recurso colorado se o esquerdista Lugo
continuar imbatível. Há esse
risco", disse à Folha o deputado opositor Sebastián Acha,
um dos líderes da Concertação,
aliança que apóia Lugo.
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