São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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NUCLEAR

Bush contorna tratado para pressionar o Irã

DAVID SANGER
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Por trás da recente guinada do presidente George W. Bush com relação ao programa nuclear iraniano, está um objetivo menos visível: reescrever, na prática, o principal tratado sobre proliferação de tecnologia nuclear, sem, porém, precisar renegociá-lo.
Em declarações públicas e confidenciais nos últimos dias, assessores de Bush aceitam o fato de o Irã ter o direito formal de enriquecer urânio para a produção de energia elétrica.
Mas a Casa Branca conseguiu convencer seus relutantes aliados europeus de que os iranianos deveriam abrir mão desse direito.
Trata-se de uma reinterpretação do TNP (Tratado de Não-Proliferação), pela qual o presidente americano decidiu que há países que não são confiáveis para dispor da tecnologia de produção de combustíveis, por mais que o tratado não diga isso.
Até agora a Casa Branca não declarou publicamente que seu objetivo é reescrever o tratado. Um dos auxiliares de Bush disse que, caso mencionasse o Irã, o governo complicaria mais a questão.
Três dias antes que a Casa Branca anunciasse sua nova política para o Irã -com a adesão ao princípio europeu de que aquele país receberia recompensas econômicas-, Bush fez uma declaração que deixou poucas dúvidas quanto a seus objetivos.
A declaração foi publicada como uma rotineira evocação dos 35 anos do TNP. O Irã não é mencionado. Mas Bush disse não poder permitir "que Estados delinqüentes que violam suas promessas e desafiam a comunidade internacional possam prejudicar o papel do tratado em seu reforço da segurança internacional".
E Bush prosseguiu: "Devemos, portanto, calafetar as fendas que permitem a Estados a produção de material nuclear para a produção da bomba, debaixo do pretexto de programas nucleares civis".
No último domingo, o novo conselheiro de Segurança Nacional, Stephen Hadley, disse na CNN ter novas evidências de um projeto sigiloso do Irã para construir a bomba. Os inspetores da ONU também desconfiam disso.


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