|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SUCESSÃO NOS EUA / EM APUROS
Pastor de Obama incendeia disputa
"Hillary nunca foi chamada de negona", disse Jeremiah Wright em sermão que vira hit no YouTube
Líder da igreja do candidato polemizou ao dizer que
os EUA atraíram o 11 de Setembro; senador tenta se afastar e rejeita declarações
DE WASHINGTON
É um dos sermões de despedida do pastor Jeremiah
Wright. O dia é 25 de dezembro
último. O cenário, a Igreja Unida da Trindade de Cristo, em
um subúrbio de Chicago, em
Illinois. Ele está de branco, com
gravata e cachecol roxos e um
colete escuro. "Só percebi nos
últimos dias por que tanta gente está criticando Barack Obama", começa. "É que ele não se
encaixa nos padrões."
Wright, 66, assumiu o comando da Igreja Unida da Trindade de Cristo em 1972. Sob sua
tutela, a igreja protestante virou afrocentrista e, como querem seus detratores, ultra-radical. Ele é o pastor de Obama.
Nessa manhã de Natal, começa a se exaltar. "Hillary nunca foi definida como uma não-pessoa", grita. "Hillary nunca
foi chamada de negona", diz,
usando a palavra pejorativa
"nigger", em inglês.
Em outro sermão, logo após o
11 de Setembro em Nova York,
Wright disse que os EUA foram
responsáveis pelos ataques.
"Bombardeamos Hiroshima,
Nagasaki, explodimos muito
mais do que os milhares em
Nova York e no Pentágono (...)
e agora estamos indignados
porque o que fizemos voltou
para o nosso quintal", disse, citado pelo "New York Times".
A igreja tem o costume de
gravar alguns cultos e vender
depois para os fiéis que o perderam ou querem ter o vídeo por
algum motivo especial. Alguns
foram parar no YouTube e, nas
últimas horas, vieram bater na
porta da campanha de Obama.
Desde que resolveu concorrer à
Presidência dos EUA, o pré-candidato procura se descolar
publicamente da figura de Jeremiah Wright.
Mas, na segunda autobiografia, descreve a importância que
ele teve em sua vida. Ele foi batizado, batizou as filhas na igreja e também se casou ali. O livro, a "A Audácia da Esperança", tomou o título emprestado
de um dos sermões do pastor.
Não o do último Natal, obviamente. Sobre esse, o comando
da campanha a princípio soltou
um comunicado menos duro.
Com o crescer da polêmica na
blogosfera, até virar tema do
programa da CNN "360º", de
Anderson Cooper, na sexta à
noite, Obama escreveu um texto a respeito e foi ao ar na rede
se distanciar do líder religioso,
a quem agora chama de "o pastor de minha igreja".
"Eu discordo veementemente e condeno fortemente as declarações que foram objeto de
controvérsia", escreve o candidato. "Denuncio categoricamente qualquer declaração que
sirva para nos dividir de nossos
aliados. Rejeito diretamente as
declarações em questão do reverendo Wright."
Então, relembra o que escreveu em seu livro. "Em outras
palavras, ele nunca foi meu
conselheiro político; ele foi
meu pastor." Ainda assim, nas
horas seguintes, o comando de
Obama anunciaria que o pastor
foi "desligado" de suas atividades junto à campanha.
(SÉRGIO DÁVILA)
Texto Anterior: Americanas Próximo Texto: Artigo: A humilhação voluntária de Silda Spitzer Índice
|