São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2011

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Sem notícias, familiares se desesperam no Brasil

Ao menos 26 ainda não fizeram contato

LUIS KAWAGUTI
BRUNO TORANZO
DE SÃO PAULO

A empresária baiana Joana Amano, 54, se desesperou ao ver ontem na TV vídeos mostrando a cidade de Kesennuma sendo devastada pelo tsunami. O motivo é que a irmã dela, Taeko Amano Okada, 60, mora na cidade, a 50 metros da praia, e não dá notícias desde o terremoto.
"A família está muito aflita com essa falta de notícias. Pelo que vimos na televisão a cidade foi engolida pelo mar. O que nos conforta é que a casa dela, apesar de ficar perto da praia, está em uma colina, mas não sabemos o que aconteceu", disse.
Autoridades japonesas já encontraram 1.254 mortos em Kesennuma, Higashimatsubara e Sendai, cidades da província de Miyagi, e o número deve aumentar.
A farmacêutica Taeko imigrou para o Japão com o marido brasileiro há 30 anos, mas mantinha contato constante com a família no Brasil.
O nome dela está em uma lista do CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) que, até ontem, tinha 26 brasileiros em todo o Japão que não fizeram contato com as famílias após o terremoto.
A lista funciona desde sábado no endereço www.familylinks.icrc.org.
Nela, os usuários colocam os nomes dos parentes desaparecidos e deixam os contatos, esperando que eles mandem notícias.
"Quando uma catástrofe como essa ocorre, uma das primeiras coisas que falham é a comunicação, mesmo no Japão, com toda a sua tecnologia", disse a porta-voz do CICV, Sandra Lefcovich.
A lista também está sendo usada por brasileiros que, há muitos anos, não tinham contato com os parentes no Japão e agora sequer sabem onde começar a procurar.
É o caso do servidor Paulo Henrique Yossimi, 26, e de sua mãe Célia Cristina Issayama, 52.
"Desde 2008 que não falo com a minha mãe. Tivemos uma briga muito séria, e ela se mudou para o Japão. Não sei nem em qual região ela está e tenho medo que seja uma cidade afetada pelo terremoto", disse.
Yossimi mora em São Paulo com outros dois irmãos.
Também na lista está o nome do brasileiro Ilton Toshiaki Hanashiro Yogi, 47, que trabalha em uma empresa de pesca em Onagawa. "A casa do meu pai fica de frente para a praia e da janela dá para ver a usina nuclear que deu problemas. O telefone dele está mudo desde o terremoto", disse Thereza Yogi, 19.
Ela afirmou ter certeza de que o pai está em um abrigo, sofrendo com a dificuldade de comunicação. "Ele sabe muito bem o que fazer em emergências como essa", afirmou ela.
O nome de Yogi também foi parar em uma lista elaborada por meio da internet por membros da comunidade dekasségui, que ontem tinha dez nomes, a maioria da província de Miyagi.
A relação, divulgada na comunidade brasileira por e-mail e uma rede de blogs, já está sendo investigada por diplomatas brasileiros que trabalham no Japão.
Ontem, partiram dois micro-ônibus de Sendai para Tóquio levando 20 brasileiros, num comboio que foi organizado pela embaixada brasileira.


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