São Paulo, segunda, 16 de março de 1998

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"RE-REELEIÇÃO"

Menem manobra por 3º mandato

LÉO GERCHMANN
de Buenos Aires

A Argentina vive um momento de expectativa política em que se desenham vários quadros possíveis e, em consonância com eles, uma estratégia considerada chave pelo presidente Carlos Menem: a transformação da sua segunda reeleição, aquilo que os argentinos chamam de "re-reeleição", no fato eleitoral do momento.
Aliás, a intenção de Menem é manter esse fato nas capas dos jornais argentinos o máximo de tempo possível.
O objetivo é inconfessável publicamente: de todos os cenários, o menos desejado pelo presidente é se ver sucedido pelo governador de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, também peronista (Partido Justicialista).
Menem aceita até a possibilidade de ver a aliança oposicionista UCR-Frepaso ganhar as eleições em 1999. O importante é se manter como protagonista, seja na Presidência, na influência sobre um "menemista" ou na liderança da oposição.
Essas três possibilidades são avaliadas com cuidado. A "re-reeleição" depende de uma manobra jurídica arriscada, já que o Congresso não lhe daria respaldo (o PJ perdeu maioria nas eleições legislativas de outubro).
A vitória da oposição é um remédio amargo, mas digerível. A eleição de Duhalde significaria a transferência da liderança peronista e a impossibilidade de voltar à Presidência em 2003.
Para não deixar com Duhalde a imagem de "candidato natural", Menem já cogitou o nome do seu irmão, o senador Eduardo Menem, na formação de uma verdadeira dinastia. Outra opção, mais plausível, é o ex-cantor popular Ramón "Palito" Ortega, "menemista" de carteirinha e pré-candidato assumido.
Num primeiro momento, a insistência na "re-reeleição" era uma forma de manter o PJ unido. Menem, porém, entusiasmou-se com a idéia.
Seus colaboradores dizem que, depois de perder o filho "Carlito" em 1995 numa situação nebulosa (não se sabe se o seu helicóptero caiu ou foi derrubado) e de se separar da mulher, Zulema Yoma, a política se tornou a razão única da sua vida, uma obsessão.
Fujimori
O entusiasmo aumentou ainda mais com o crescimento de 8,4% registrado no PIB (Produto Interno Bruto) e com uma novidade internacional que causou euforia contida no poder argentino: o fato de o presidente peruano, Alberto Fujimori, ter conseguido concorrer pela terceira vez seguida, sob a alegação de que o primeiro mandato não seria levado em consideração para efeitos de reeleição.
Essa estratégia jurídica é considerada por assessores do presidente. O problema é de imagem. Menem estaria seguindo os passos de Fujimori, com sua aura de golpista, e isso não lhe parece interessante. A solução seria ao mesmo tempo conseguir respaldo popular num plebiscito, a ser realizado em outubro.



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