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COLÔMBIA
Narcotráfico financiaria guerrilheiros e paramilitares
Para Samper, traficantes são
culpados por violência no país
O presidente Ernesto Samper
JUAN JESÚS AZNÁREZ
do "El País
O presidente colombiano, Ernesto Samper, acusa o narcotráfico de colaborar com o aumento da
violência no país, por meio do financiamento tanto da guerrilha
quanto de seus opositores, os grupos paramilitares.
"O narcotráfico potencializa todas as formas de violência", diz
Samper, que admite que membros
de sua campanha à Presidência em
1994 podem ter recebido dinheiro
dos narcotraficantes sem seu consentimento.
Em entrevista ao jornal espanhol
"El País", ele diz que os grupos em
conflito precisam negociar um
acordo de paz no meio da guerra.
"Todos os processos de paz tentados no passado fracassaram
porque se exigia, como primeira
condição, que não houvesse guerra", afirmou. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Pergunta - Em que fase se encontra o combate entre o Estado colombiano e as forças guerrilheiras?
Ernesto Samper - O narcotráfico fortaleceu as guerrilhas, permitiu que elas se armassem de maneira mais efetiva, e fenômenos como
os que estamos vendo no sul do
país demonstram que a guerrilha
está defendendo plantações e laboratórios de coca. Isso tem levado a
uma polarização ainda maior da
guerra e degradado a situação.
Pergunta - Até que ponto o narcotráfico dificulta a paz?
Samper - De forma definitiva.
O narcotráfico financia a guerrilha, com quem tem uma aliança
comercial, não ideológica. E também financia os chamados grupos
paramilitares, com os quais tem
alianças de caráter mais ideológico. E corrompe os mecanismos
constitucionais. Enfim, potencializa todas as formas de violência.
Pergunta - A colaboração internacional para pacificar o país está
funcionando?
Samper - Temos visto, em termos gerais, bastante interesse por
parte da União Européia. México,
Costa Rica, Venezuela e Espanha
desempenham um papel muito
importante. Eles não vão fazer a
paz pelos colombianos, mas podem facilitar as negociações e,
posteriormente, acompanhar o
cumprimento dos acordos.
Pergunta - O que separa o Estado
da guerrilha?
Samper - Gostaria de saber.
Acho que a guerrilha não tem claro
o modelo de país pelo qual luta.
Pergunta - Seu mandato termina
em agosto. O sr. vê avanços até lá?
Samper - Não posso ter a pretensão de achar que, nos meses
que sobram, serei capaz de fazer a
paz. Não posso nem mesmo afirmar que vá conseguir dar início ao
processo. Mas o que posso afirmar
é que estou moralmente comprometido a buscar a paz até o último
momento de meu governo. Esse
problema não se mede em semanas ou meses, mas em mortes. E a
violência nos está custando quatro
mortes por hora.
Pergunta - O ex-presidente César
Gaviria (1990-94) denunciou a entrada de recursos do narcotráfico
em sua campanha eleitoral.
Samper - Não é uma denúncia
nova. É uma suspeita generalizada.
De toda forma, há algumas pessoas que foram consideradas culpadas. Os que participaram em
nossa campanha estão sendo exonerados de culpa pelo Congresso,
pela Procuradoria, pelos juízes, o
que demonstra que, efetivamente,
dissemos a verdade quando afirmamos que não tínhamos conhecimento desses fatos.
Pergunta - Mas Gaviria respondeu com um "não sei" quando lhe
perguntaram se o sr. tinha conhecimento da entrada do dinheiro.
Samper - Não vou polemizar
com o ex-presidente. Eu desejaria
que, como secretário da Organização dos Estados Americanos, ele
não tivesse tanta participação nos
assuntos internos da Colômbia.
Eu gostaria também de saber até
que ponto esse dinheiro entrou em
minha campanha, e até que ponto
houve um aproveitamento pessoal
dos recursos do narcotráfico. Isso
explicaria o fato de o resto dos dirigentes da campanha não ter tomado conhecimento da entrada do
dinheiro. É isso que a Procuradoria está investigando, e eu dou todo o apoio.
Pergunta - Há suspeita de que o
narcotráfico financiou, mais uma
vez, campanhas para o Parlamento. O país tem novamente um Congresso sob suspeita?
Samper - Não tenho certeza se
o dinheiro está vindo do narcotráfico. Tenho a desconfiança de que
seja resultado de corrupção administrativa ou de acordos para defender interesses privados.
Pergunta - O general Harold Bedoya, candidato à Presidência da
República, culpa o sr. por todos os
males da Colômbia.
Samper - Tomei a sábia decisão
de não polemizar com os candidatos. A responsabilidade de um chefe de Estado é não fazê-lo. Quando
deixar o governo, direi o que penso do general Bedoya, e pode estar
certo de que haverá surpresas.
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