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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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PÓS-SADDAM

Após serem atacados, americanos atiraram em grupo que contestava discurso pró-EUA de líder local

Tiroteio em Mossul mata 10 civis

DA REDAÇÃO

Ao menos dez iraquianos morreram e mais de cem ficaram feridos em tiroteio ocorrido na manhã de ontem em Mossul (norte), durante discurso do novo governante local, Mushan al Jaburi.
Segundo testemunhas relataram à agência France Presse, soldados americanos que acompanhavam Al Jaburi reagiram a disparos de franco-atiradores escondidos entre as cerca de 3.000 pessoas que assistiam ao pronunciamento na praça do Governo, no centro de Mossul.
Os soldados americanos abriram fogo contra a multidão, que reagia negativamente ao discurso pró-EUA do novo governante, que falava da varanda de um prédio de seis andares. "Al Jaburi dizia que o fornecimento de água e energia seria restabelecido imediatamente e que, graças aos americanos, haveria democracia", declarou uma testemunha.
A resposta da audiência veio em coro: "Só Allah é Deus, e Muhammad é seu profeta. Só haverá democracia quando os EUA se forem". Al Jaburi reagiu, dizendo que na platéia só havia "fedayin de Saddam", em referência aos paramilitares fiéis ao ex-ditador.
Surgiram então os primeiros tiros contra os americanos, vindos da própria multidão e de telhados de casas nas redondezas. Pedras também foram lançadas contra a guarda dos EUA, formada por 130 homens. O tiroteio durou dez minutos. Até a conclusão desta edição, o comando americano no golfo Pérsico dizia não ter conhecimento do incidente.
Após o confronto, enquanto ambulâncias transportavam os feridos para o principal hospital local, um caça dos EUA fez um vôo rasante sobre a cidade, provocando pânico entre os moradores, que temiam um bombardeio.
Al Jaburi, representante da oposição árabe ao regime de Saddam, foi escolhido para governar Mossul anteontem, após reunião entre líderes dos grupos étnicos e religiosos da cidade, acompanhada pelo comandante das forças dos EUA na região.
Nos últimos dias, após a queda das tropas de Saddam Hussein na cidade, mais de 20 pessoas morreram e 200 ficaram feridas em choques entre grupos armados das comunidades árabe e curda, as duas maiores de Mossul.
Confrontos semelhantes entre árabes e curdos ocorreram em Tikrit, cidade natal de Saddam e último reduto a ser ocupado pelos EUA na invasão do Iraque.
Ao menos quatro pessoas morreram durante o ataque de saqueadores curdos a grupos armados de árabes, que tentavam proteger suas propriedades na parte leste da cidade.
Também houve saques em alguns prédios do governo, mas em menor intensidade do que em outros centros do país, como Bagdá, Basra ou Najaf.
O clima entre as tropas americanas que ocupam Tikrit e a população local é de hostilidade, principalmente depois que as forças dos EUA intensificaram a revista nos postos de controle.
Ontem, iraquianos protestaram após os militares americanos bloquearem a principal ponte que corta o rio Tigre. "Americanos são contra a liberdade e a democracia", gritou um morador. "Saddam voltará", disse outro.
No oeste do país, as forças dos EUA anunciaram a rendição do comandante do Exército iraquiano na Província de Anbar. Ele era responsável pela defesa da fronteira do Iraque com a Síria e tinha 16 mil homens sob seu comando.

Soldados mortos
Mais três militares dos EUA morreram no Iraque ontem, aumentando para 151 o número de baixas da coalizão anglo-americana. A explosão, aparentemente acidental, de uma granada em um posto de controle ao sul de Bagdá matou dois soldados e feriu outros dois. Segundo o Pentágono, o terceiro soldado morreu também na capital, após ser atingido por um disparo por engano de uma metralhadora.


Com agências internacionais


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