São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003 |
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ELEIÇÕES NA ARGENTINA Declaração, dada a jornalistas estrangeiros, contraria pesquisas, que o colocam em empate técnico Menem afirma que vencerá no 1º turno
MARCELO BILLI DE BUENOS AIRES "Não haverá segundo turno na Argentina", diz Carlos Menem, ex-presidente e atual candidato à Presidência argentina -as eleições ocorrem no dia 27. Ele contraria todas as pesquisas, que mostram um empate técnico entre os cinco principais candidatos e prevêem a realização de segundo turno. O candidato afirma que todas as pesquisas são compradas e que, além disso, muitos de seus eleitores têm "vergonha" de dizer que votarão nele. Menem diz acreditar que realizou o governo "mais bem-sucedido" da história do país -ele governou de 1989 a 1999. O ex-presidente diz que não pode ser responsabilizado pelo colapso da economia argentina. Defende as privatizações feitas nos anos 90 e afirma que acabou com a "corrupção estrutural" na Argentina. Seu único erro, avalia, teria sido um pouco de descontrole nos gastos públicos. Menem, que defendia a dolarização, mudou o discurso, mas defende uma "moeda forte" para a Argentina e avalia que o continente americano terá uma só moeda em "15 ou 20 anos". Diz que não vê incompatibilidade entre um futuro governo Menem e o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegou afirmar que sua primeira viagem internacional seria ao Brasil. Menem concedeu entrevista, na qual a Folha esteve presente, a um grupo de jornalistas estrangeiros no hotel Presidente, considerado o "bunker" de sua campanha, no centro de Buenos Aires. PRIVATIZAÇÕES - Aquilo que o
Estado não pode conduzir, ou seja, as empresas públicas que não
funcionem serão privatizadas.
Restaram poucas, claro. Os serviços que temos atualmente têm
um nível bom por
causa das privatizações. Os argentinos não se
opõem às privatizações -a maioria dos argentinos,
que hoje tem telefone, transporte,
gás, eletricidade.
Quem antes não
tinha aplaude e insiste na necessidade de levar a cabo
um projeto que
possibilite que essas empresas
prestem bons serviços e tenham a
rentabilidade correspondente. A
maioria dos argentinos está a favor do processo de privatização
dos anos 90. GASTO PÚBLICO - Quando deixei
o governo, a dívida externa era de
US$ 120 bilhões. Quando começamos o governo, ela era de US$ 100
bilhões. Em três anos, os irresponsáveis que se encarregaram
do governo elevaram [a dívida" a
cerca de US$ 160 bilhões. Quando
[o presidente
Eduardo] Duhalde deixar o governo vamos ter uma
dívida de US$ 180
bilhões. Quer dizer, 114% do PIB
[Produto Interno
Bruto]. Quando
eu saí do governo
era de 43% ou um
pouco menos. DÍVIDA EXTERNA
- Como vamos encarar o problema
da dívida? Dialogando com nossos credores. Não
vamos pedir abatimentos. Já começamos a negociar porque temos a certeza de
que iremos triunfar no dia 27 de
abril. Vamos pedir uma ampliação do prazo de pagamento e uma
redução da taxa de juros. Atualmente a Argentina paga 9% [ao
ano] de juros. Queremos [baixar a
taxa para" 2% ou 3%. Vamos honrar a dívida externa, não tenha a
menor dúvida. Há US$ 65 bilhões
de dívida que temos com empresas e pessoas físicas no exterior,
há US$ 35 bilhões que devemos
aos organismos multilaterais de
crédito. O resto, que é cerca de
US$ 80 bilhões, é o que se deve para os nossos credores internos.
Vamos a pagar o que devemos. CALOTE - Foi um tremendo erro.
A declaração de calote nos deixou
muito mal no mundo. Ela foi feita
por um presidente [o agora candidato Adolfo Rodríguez Saá] que
em sete dias se foi. Nós tivemos
seis presidentes que renunciaram
e esse é o "pacote" que nos vão
deixar. GOVERNABILIDADE - O triunfo
tem muitos herdeiros, a derrota
tem muitos órfãos. O triunfo, em
qualquer âmbito da vida, imediatamente recebe o apoio daqueles
que talvez o tenham enfrentado
[quem triunfou]. [O racha do peronismo] é uma manobra do governo que vai fracassar: dividir o
peronismo, de maneira torpe e
grosseira, apenas para tentar acabar com minha carreira. Não conseguiram, e as pesquisas mostram
que venceremos. Vamos convocar todos os setores da comunidade para que contribuam para curar as feridas causadas pelos responsáveis pela condução do governo nacional. DOLARIZAÇÃO - Eu não falo do
dólar, mas de moeda forte. O que
ocorreu na Europa? A partir da
União Européia, começou-se a
trabalhar com apenas uma moeda. É o que eu penso que pode
acontecer em todo o continente
americano. Talvez em 15 ou 20
anos. MERCOSUL - Vamos melhorar as
relações [do bloco], como fizemos
com o presidente
Fernando Henrique Cardoso. Não
se esqueçam de
que o Mercosul
nasceu em 1990, a
partir de quando
trabalhamos intensamente para
criar um Parlamento do Mercosul. Nossa preocupação é a necessidade de atrair o Chile e a Bolívia
para o Mercosul. Temos um grande interesse no Chile porque o Pacífico é o oceano comercial por
excelência. [Juan Domingo] Perón dizia: Argentina e Brasil no
Pacífico, Chile no Atlântico. Nós
vamos tornar isso realidade. MERCOSUL X ALCA - Nós estamos
pensando em participar da Alca a
partir do Mercosul. Mas, se isso
não ocorrer, se surgirem inconvenientes, não haverá nenhum obstáculo para constituir uma zona
de livre comércio entre os EUA e a
Argentina. Isso já como uma saída de emergência. LULA - Quanto à [suposta] incompatibilidade com o presidente Lula, eu diria que é uma incompatibilidade fictícia. Não pode haver incompatibilidade quando
tanto o presidente Lula quanto os
demais presidentes do Mercosul
trabalham pelos interesses da comunidade de seus países. Não
existe incompatibilidade no mundo da política quando se dialoga. RESPONSABILIDADE PELA CRISE -
Quando deixamos o governo, a
renda per capita argentina era de
US$ 8.000. Quando eu assumi o
governo, o índice de pobreza era
de 47%. Baixou para 24%. O governo de [Fernando] De la Rúa
-que, como dizem, foi um verdadeiro papel em branco, porque
não fez nada- deixou que o países se perdessem. Quando De la
Rúa renunciou, o índice de pobreza estava em 37%. MEA CULPA - Eu assumo a responsabilidade de um excesso de
gasto público. Mas era fundamental, em um país que crescia
como a Argentina, construir a infra-estrutura para garantir e ampliar o crescimento. CORRUPÇÃO -
Permanentemente se fala da corrupção e colocam
a culpa nos liberais. Não está correto. Nós destruímos a corrupção
estrutural quando
privatizamos as
empresas do Estado, que tinham
prejuízo e eram
fonte de negociatas entre o Estado
e os fornecedores.
Sobrou uma corrupção residual que existe em
praticamente todos os países do
mundo. Mas, quando eu deixei o
governo, a Argentina estava numa posição intermediária no ranking de corrupção. Sabe onde estamos hoje, com estes três anos de
governo? Estamos juntos com
Haiti, Nigéria e outros países onde a corrupção é terminal. |
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