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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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DIPLOMACIA

País deve se abster em votação na ONU, mas expressará reservas

Brasil revela "preocupação" com Cuba

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Criticado pela omissão sobre a repressão promovida contra oposicionistas pelo regime de Fidel Castro em Cuba, o governo vai tomar um medida pouco usual na diplomacia. Irá apresentar hoje à Comissão de Direitos Humanos da ONU, que se reúne em Genebra (Suíça), uma declaração expressando "forte preocupação" com a recente onda repressiva na ilha, que já resultou na prisão de 80 dissidentes e fuzilamento, após julgamento sumário -praticamente sem direito à defesa- de três acusados de "terrorismo".
O Brasil tem como prática abster-se ao analisar moções colocadas contra o governo cubano, uma vez que considera que o tema costuma ser politizado por influência do governo norte-americano, que há 40 anos promove um embargo econômico contra a ilha, sem respaldo internacional.
A abstenção será repetida hoje, quando nova moção será apresentada. A declaração acompanhando a abstenção, no entanto, é prática não usual da diplomacia brasileira e demonstra que a repressão na ilha governada pelo ditador Fidel Castro começa a incomodar o Planalto e o Itamaraty.
O governo brasileiro vem sendo criticado pela oposição no Congresso, que quer uma moção de censura ao governo cubano e teve o pedido barrado pelo PT anteontem. Várias figuras do governo, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro José Dirceu (Casa Civil), têm ligações pessoais com Cuba e Fidel.
De acordo o Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro "não deixará de manifestar forte preocupação com julgamentos sumários sem amplo direito a defesa, sobretudo com relação à aplicação da pena de morte".
Apesar da crítica, o Brasil evitará, na declaração de hoje, condenar explicitamente a atitude do regime castrista, muito menos pedir algum tipo de sanção.
Ao mesmo tempo em que o governo brasileiro critica a situação em Cuba, o PT, partido do presidente Lula, e o aliado PC do B ainda buscam "informações" sobre o que tem acontecido na ilha.
"O PT é um partido amigo de Cuba e adota a cautela neste caso. O noticiário a respeito de Cuba é muito contaminado politicamente", diz o secretário-adjunto de Relações Internacionais do partido, o deputado federal Paulo Delgado (MG), para quem "Cuba não é uma ditadura".
Já o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo, se disse "preocupado" com os recentes episódios.
Ontem, em meio a protestos feitos por deputados de oposição no plenário da Câmara, começou sob clima de constrangimento uma visita oficial de parlamentares cubanos à Casa.
O vice-presidente da Assembléia Nacional de Cuba, Jaime Combret, e mais dois deputados foram recebidos pelo deputado Inocêncio Oliveira (PFL-BA), vice-presidente da Câmara, e pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), líder do governo.
Eles foram acompanhados do embaixador cubano no Brasil, Jorge Lezcano. "Falta muita informação sobre o que acontece em Cuba. Muitos dos que estão se posicionando o fazem baseado em notícias de jornais. Eles não sabem o que realmente ocorre em Cuba", disse o embaixador.


Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília


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