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Há como controlar o mal, diz OMS
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
A pneumonia asiática ainda pode ser devolvida à natureza antes
que se torne endêmica em países como a China e cause surtos futuros no planeta. A opinião é do chefe do departamento de doenças transmissíveis da OMS (Organização Mundial da Saúde), o americano David Heymann.
"Nós não vamos ver uma repetição da gripe de 1918 [que matou
20 milhões de pessoas] com essa
infecção", disse Heymann, 57, em
entrevista à Folha. "Ela pode ser
controlada."
Segundo Heymann, indícios de que esse controle está próximo foram a eliminação das transmissões no Vietnã e a redução no número de casos em Hong Kong,
Cingapura e Canadá. No entanto ele diz que nenhum país está fora
de risco -nem o Brasil.
Leia abaixo a entrevista, concedida de seu escritório na sede da
OMS, em Genebra (Suíça).
Folha - No dia 17 de março, o sr.
disse que o vírus com o qual estávamos lidando não era tão contagioso e que a probabilidade de uma pandemia era mínima. O sr. mantém essa posição?
David Heymann - Sim, eu mantenho. A doença é moderadamente
transmissível, não é tão transmissível quanto a gripe. Vimos que
países como o Vietnã podem ficar
livres da Sars e acreditamos que
Toronto, Hong Kong e Cingapura
também venham a estar livres.
Cingapura não teve novos casos
em muitos dias, e Hong Kong tem
poucos casos por dia. Acreditamos que essa doença possa ser
empurrada de volta à natureza, de
onde ela veio.
Folha - E como isso pode ser feito?
Estudos recentes mostram que o vírus é bem adaptado a humanos.
Heymann - A China vai ter de
trabalhar duro. Sim, o vírus é bem
adaptado à transmissão humana.
Mas o fato de que países tenham
interrompido a transmissão é encorajador. Então, se nós conseguirmos impedir que essa doença se torne endêmica, teremos cumprido nosso objetivo.
Nós não vamos ver uma repetição da gripe de 1918 [20 milhões
de mortos] com essa infecção. O que nos preocupou foi o fato de que demoramos para saber qual era ou causador, e ainda sabemos pouco sobre ele. Mas ela pode ser controlada.
Folha - O que quer dizer "a China vai ter de trabalhar duro"?
Heymann - A China vai precisar primeiro descobrir onde a doença
está presente, porque parece que ela já se espalhou muito pelo país.
Depois, vai precisar conter o surto onde ele ocorrer.
Folha - Como o sr. avalia a resposta das autoridades mundiais de
saúde em relação à epidemia? Foi rápida o suficiente?
Heymann - Acredito que, depois
que a OMS fez seu primeiro alerta
global, em 14 ou 15 de março, as
autoridades tenham reagido muito prontamente e, assim, evitaram
surtos em muitos países.
Folha - Mas a China teve seus primeiros casos em novembro do ano
passado, e a OMS só divulgou o
alerta em março.
Heymann - Não tínhamos toda a
informação da China. Não sabíamos até março que os casos de
Sars na China eram os mesmos
que os casos fora da China. Em fevereiro, conseguimos estabelecer
uma relação com os casos na China e, no meio de março, conseguimos mostrar que se tratava da mesma doença.
Folha - Quanto tempo o sr. acha
que vai levar para uma vacina chegar ao mercado e, se chegar, como
a OMS vai garantir que ela seja distribuída às regiões pobres?
Heymann - Se a doença não se
tornar endêmica, não precisaremos de uma vacina. Por isso, nossos esforços se concentram em
tentar conter o surto.
Se houver um mercado para a
vacina, se falharmos e ela se tornar endêmica como a tuberculose
e a malária, haverá interesse de
empresas privadas em desenvolver a vacina.
Hoje, sem mercado, cabe ao setor público desenvolver uma vacina, e os EUA estão começando a fazer isso. Uma vacina pública será mais barata.
Folha - A globalização é culpada
pela disseminação da Sars? Nós estamos condenados a ver mais epidemias assim no futuro?
Heymann - Certamente. Doenças infecciosas não respeitam
fronteiras. O que é pouco usual
com relação à Sars é que ela é facilmente transmissível de humano para humano. Outras infecções emergentes nos últimos 30
anos não eram tão transmissíveis,
exceto a Aids.
Folha - O Brasil está livre de risco?
Heymann - Nenhum país está livre de risco.
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