São Paulo, quinta-feira, 16 de junho de 2005

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EUA

Exame mostra que não era possível superar os danos no cérebro da doente vegetativa que mobilizou o papa e o presidente dos EUA

Caso Schiavo era irreversível, diz autópsia

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

A autópsia em Terri Schiavo -a mulher cujo caso mobilizou o Vaticano, a Casa Branca e o Congresso dos EUA- revelou que seu cérebro estava profunda e irreversivelmente danificado e que ela estava cega. O resultado confirma os argumentos de seu marido e de especialistas que a examinaram, de que Terri vivia num "persistente estado vegetativo" e que não havia como recuperá-la.
Terri morreu no último dia 31 de março, depois de uma batalha jurídica e política de sete anos entre seus pais e seu marido. O caso monopolizou as atenções nos EUA nos 13 dias em que durou a agonia da mulher, desde o momento em que foi retirado o tubo de alimentação que a manteve viva por 15 anos até a sua morte.
Os pais de Terri, Robert e Mary Schindler, diziam que a filha ainda podia se recuperar se houvesse uma mudança em seu tratamento. O marido dizia que ela não tinha mais chances e que, antes de cair nesse estado, dissera várias vezes que não gostaria de ser mantida viva dessa forma.
Os resultados da autópsia mostram que o cérebro de Terri estava severamente danificado e tinha menos da metade do peso normal. "O dano era irreversível, e nenhuma quantidade de terapia ou tratamento poderia ter regenerado a enorme perda de neurônios", disse o médico responsável pela autópsia, Jon Thogmartin.
A constatação de que Terri estava cega também é reveladora, uma vez que uma das principais discussões foi justamente se ela reagia a estímulos. Num vídeo repetido exaustivamente na TV americana, a paciente parecia seguir o dedo de sua mãe e sorrir quando ela estava na sala.
A autópsia também revelou que ela não sofreu nenhum tipo de abuso por parte do marido, como chegaram a acusar seus pais.
O exame, no entanto, não conseguiu determinar a causa do problema de Terri. Em fevereiro de 1990, ela teve um colapso no chão de sua casa, e seu cérebro ficou vários minutos sem oxigênio, o que a deixou no estado vegetativo. A tese mais provável é que o colapso tenha sido causado por um distúrbio alimentar.
O caso provocou uma intensa controvérsia nos EUA. O presidente George W. Bush chegou a interromper um feriado e voltar às pressas a Washington para assinar uma lei aprovada pelo Congresso que servia exclusivamente para dar aos pais de Terri o direito de recorrer a mais tribunais para tentar manter a filha viva. A intervenção foi em vão, pois, uma a uma, as cortes americanas rejeitaram analisar o pedido.
Ontem, os pais de Terri disseram, por meio de seu advogado, que continuam a acreditar que sua filha não estivesse em persistente estado vegetativo. Os Schindlers vão pedir que outros médicos analisem os resultados.
Na Casa Branca, o porta-voz disse que a autópsia não altera a posição de Bush. "Nossos pensamentos e orações continuam com sua família e seus amigos. O presidente ficou profundamente entristecido nesse caso."
Michael Schiavo, marido de Terri, disse, por meio de seu advogado, que estava satisfeito em ouvir a comprovação de seus argumentos pela ciência.


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