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CUBA
Mulher de dissidente, detido em março e condenado a 20 anos na onda de repressão, afirma que ele está morrendo na prisão
Preso cubano não recebe remédio, diz família
FELIPE ROQUE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM MIAMI
Oscar Espinosa Chepe, 62, economista e jornalista independente (dissidente) condenado a 20
anos de prisão durante a onda de
repressão lançada pelo ditador
cubano, Fidel Castro, em abril
passado, por "traição à pátria",
não recebe tratamento desde que
foi preso, em 19 de março, segundo relatos de dissidentes, familiares dos presos e a ONG francesa
Repórteres Sem Fronteira.
A ONG Anistia Internacional e
o ex-premiê socialista francês
Laurent Fabius já pediram esclarecimentos ao regime cubano,
mas ainda não tiveram resposta.
Espinosa sofre de hipertensão e
de problemas crônicos de intestino. Segundo relatos de ex-prisioneiros, as prisões cubanas são superlotadas, não dispõem de equipamentos médicos suficientes em
caso de necessidade e as rações
alimentares e as condições de higiene são inadequadas.
Sempre segundo o relato de
seus familiares, na Villa Marista
(sede da segurança do Estado, em
Havana), Espinosa estava isolado
em uma cela solitária, e sua saúde
começou a se deteriorar rapidamente. Em 1º de abril e uma semana mais tarde, sua mulher, Miriam Leiva, mandou-lhe remédios por intermédio do médico
do centro de detenção, mas, ao visitá-lo em 16 de abril, ela disse ter
descoberto que seu marido tinha
a pele amarelada e já emagrecera
mais de 13 quilos.
A médica Ileana Prieto Espinosa, sobrinha do prisioneiro, que o
acompanha há anos, diagnosticou uma crise hepática. As duas
mulheres vêm pedindo ao Estado
que o doente seja transferido a
um hospital. O médico de Villa
Marista não recebeu o aval de seu
superior hierárquico, o "instrutor" de Chepe, para lhe repassar
os remédios, disse a família.
Em 23 de abril, Leiva recebeu a
informação, depois de muita insistência, segundo ela, de que seu
marido havia sido transferido,
três dias antes, ao hospital militar
Carlos J. Finlay, de Havana. Lá, no
entanto, ele não passaria por nenhum exame médico enquanto as
questões administrativas referentes ao seu caso estivessem em curso, segundo autoridades cubanas.
De acordo com sua mulher, foi
só quando Espinosa foi transferido à prisão de Guantánamo, a 950
km de Havana, que seu caso ficou
claro para seus familiares. Mas
nada foi resolvido até agora.
No dia 28 de abril, depois de
uma viagem de ônibus de 30 horas a Guantánamo, Espinosa foi
colocado em uma cela em companhia de 26 presos comuns, na qual
a falta de higiene logo fez com que
surgissem novos sintomas (diarréia, perda de sangue), sempre segundo a versão de seus familiares.
A distância entre Guantánamo e
Havana afastou Espinosa de seus
familiares e amigos. Leiva pretendia visitá-lo em 7 de maio, mas recebeu a informação de que seu
marido não estava mais na prisão.
Mesmo assim, em 22 de maio,
ela foi a Guantánamo com Prieto
Espinosa, e um certo "major Guillermo" lhe disse que Espinosa estava no hospital e que se encontrava em "perfeita saúde", não sofrendo mais de "cirrose hepática",
o que fora "confirmado por uma
biópsia realizada por laparoscopia", segundo seu relato.
O exame dos documentos realizado por Prieto Espinosa e por
médicos do velho hospital de
Guantánamo, segundo a família,
mostrou que boa parte dos exames médicos não foi realizada e
que seus exames de sangue indicavam um risco muito elevado de
crise hepática.
Sua visita seguinte seria em de
14 de julho, mas foi adiada para 28
de agosto, pois ele está sujeito ao
"regime de alta severidade" e só
tem direito a uma visita a cada
três meses. Mas, em 31 de maio,
uma ambulância transportou Espinosa ao hospital Ambrosio Grillo, em Santiago de Cuba, também
incapaz de tratar sua doença, de
acordo com seus parentes.
Ele foi transferido, em 4 de julho, à prisão de Boniatico (em
Santiago de Cuba), conhecida como a "ante-sala da morte", e colocado em total isolamento, antes
de ser transferido, mais uma vez,
ao hospital Ambrosio Grillo. Segundo sua família, Espinosa pode
morrer em breve se não receber a
assistência médica devida.
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