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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

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CUBA

Mulher de dissidente, detido em março e condenado a 20 anos na onda de repressão, afirma que ele está morrendo na prisão

Preso cubano não recebe remédio, diz família

FELIPE ROQUE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM MIAMI

Oscar Espinosa Chepe, 62, economista e jornalista independente (dissidente) condenado a 20 anos de prisão durante a onda de repressão lançada pelo ditador cubano, Fidel Castro, em abril passado, por "traição à pátria", não recebe tratamento desde que foi preso, em 19 de março, segundo relatos de dissidentes, familiares dos presos e a ONG francesa Repórteres Sem Fronteira.
A ONG Anistia Internacional e o ex-premiê socialista francês Laurent Fabius já pediram esclarecimentos ao regime cubano, mas ainda não tiveram resposta.
Espinosa sofre de hipertensão e de problemas crônicos de intestino. Segundo relatos de ex-prisioneiros, as prisões cubanas são superlotadas, não dispõem de equipamentos médicos suficientes em caso de necessidade e as rações alimentares e as condições de higiene são inadequadas.
Sempre segundo o relato de seus familiares, na Villa Marista (sede da segurança do Estado, em Havana), Espinosa estava isolado em uma cela solitária, e sua saúde começou a se deteriorar rapidamente. Em 1º de abril e uma semana mais tarde, sua mulher, Miriam Leiva, mandou-lhe remédios por intermédio do médico do centro de detenção, mas, ao visitá-lo em 16 de abril, ela disse ter descoberto que seu marido tinha a pele amarelada e já emagrecera mais de 13 quilos.
A médica Ileana Prieto Espinosa, sobrinha do prisioneiro, que o acompanha há anos, diagnosticou uma crise hepática. As duas mulheres vêm pedindo ao Estado que o doente seja transferido a um hospital. O médico de Villa Marista não recebeu o aval de seu superior hierárquico, o "instrutor" de Chepe, para lhe repassar os remédios, disse a família.
Em 23 de abril, Leiva recebeu a informação, depois de muita insistência, segundo ela, de que seu marido havia sido transferido, três dias antes, ao hospital militar Carlos J. Finlay, de Havana. Lá, no entanto, ele não passaria por nenhum exame médico enquanto as questões administrativas referentes ao seu caso estivessem em curso, segundo autoridades cubanas.
De acordo com sua mulher, foi só quando Espinosa foi transferido à prisão de Guantánamo, a 950 km de Havana, que seu caso ficou claro para seus familiares. Mas nada foi resolvido até agora.
No dia 28 de abril, depois de uma viagem de ônibus de 30 horas a Guantánamo, Espinosa foi colocado em uma cela em companhia de 26 presos comuns, na qual a falta de higiene logo fez com que surgissem novos sintomas (diarréia, perda de sangue), sempre segundo a versão de seus familiares.
A distância entre Guantánamo e Havana afastou Espinosa de seus familiares e amigos. Leiva pretendia visitá-lo em 7 de maio, mas recebeu a informação de que seu marido não estava mais na prisão.
Mesmo assim, em 22 de maio, ela foi a Guantánamo com Prieto Espinosa, e um certo "major Guillermo" lhe disse que Espinosa estava no hospital e que se encontrava em "perfeita saúde", não sofrendo mais de "cirrose hepática", o que fora "confirmado por uma biópsia realizada por laparoscopia", segundo seu relato.
O exame dos documentos realizado por Prieto Espinosa e por médicos do velho hospital de Guantánamo, segundo a família, mostrou que boa parte dos exames médicos não foi realizada e que seus exames de sangue indicavam um risco muito elevado de crise hepática.
Sua visita seguinte seria em de 14 de julho, mas foi adiada para 28 de agosto, pois ele está sujeito ao "regime de alta severidade" e só tem direito a uma visita a cada três meses. Mas, em 31 de maio, uma ambulância transportou Espinosa ao hospital Ambrosio Grillo, em Santiago de Cuba, também incapaz de tratar sua doença, de acordo com seus parentes.
Ele foi transferido, em 4 de julho, à prisão de Boniatico (em Santiago de Cuba), conhecida como a "ante-sala da morte", e colocado em total isolamento, antes de ser transferido, mais uma vez, ao hospital Ambrosio Grillo. Segundo sua família, Espinosa pode morrer em breve se não receber a assistência médica devida.


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