UOL


São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bush diz que episódio é "alerta" para o país

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, George W. Bush, disse ontem que o blecaute que atingiu a região nordeste dos EUA e parte do Canadá é "um alerta" para que o "velho e antiquado" sistema de energia elétrica norte-americano seja modernizado.
Bush afirmou que o Congresso precisa aprovar medidas para aumentar os investimentos na área de transmissão, que, segundo estimativas, precisaria de US$ 56 bilhões para ser atualizada.
O ex-secretário de Energia dos EUA no governo Clinton, Bill Richardson, atual governador do Novo México, resumiu a dimensão do problema: "Somos uma superpotência com um sistema elétrico de Terceiro Mundo".
Até ontem, ainda permanecia obscura a causa do blecaute, com autoridades norte-americanas e canadenses divergindo sobre onde teve início a ruptura do sistema de transmissão que afetou uma área de 9.600 km2.
Enquanto uma porta-voz do primeiro-ministro canadense, Jean Chrétien, afirmava que a causa havia sido uma sobrecarga em uma central nuclear na Pensilvânia, o Electric Reliability Council, que monitora o sistema, apontava para um problema em linhas de transmissão em Ohio.
No dia anterior, o próprio Chrétien havia dito que a queda de um raio na central Niágara-Mohawk, no Canadá, havia originado o apagão. Ontem, desmentiu a informação.
O blecaute de anteontem, que causou bilhões de dólares em prejuízos e parou unidades importantes de fábricas como a General Motors e a Honda, além de milhares de escritórios e empresas, já estava sendo esperado.
No ano passado, o Electric Reliability Council, um instituto financiado por empresas de geração de energia, divulgou relatório afirmando que a rede estava no limite e alertou que seriam necessários investimentos urgentes para desbloquear gargalos na transmissão de energia.
Os sistemas de geração e transmissão na área afetada e em outras regiões dos EUA são um misto de muitas empresas privadas e algumas públicas.
Desde o início do processo de desregulamentação do setor, em meados dos anos 90, destinado a baixar tarifas via aumento da oferta, ocorreram alguns investimentos nos Estados Unidos apenas na área de geração.
As linhas de transmissão permaneceram, basicamente, as mesmas, controladas por poucas empresas. Em boa parte dos casos na região afetada nos últimos dias, os equipamentos, cabos de energia e torres têm mais de meio século de uso.
No final dos anos 90, ainda houve um esforço para tentar modernizar a rede em vários pontos do país.
Os projetos de investimento, no entanto, foram abandonados em 2001 na esteira da quebra da Enron, a até então maior empresa de energia dos EUA, e do estouro da chamada "bolha de investimentos", que colocou os EUA no rumo de uma recessão.
Sem a perspectiva de novas linhas, o governo do Estado de Nova York chegou a construir, em regime de urgência em 2001, dez geradores ao redor de Manhattan para aumentar a oferta de energia em momentos de pico.
Um dos mais famosos gargalos nas linhas de transmissão nos EUA encontra-se no meio da Califórnia e impede que toda a energia em excesso no sul do Estado seja transmitida para o norte.
Há dois anos, a Califórnia sofreu uma série de apagões causados pelo gargalo, que deixou mais de 1 milhão de pessoas sem energia no pior dia.
A Federal Energy Regulatory Commission, agência responsável pela transmissão, também vem tentando há anos formar novas redes regionais que seriam administradas por empresas geradoras de energia.
A iniciativa, no entanto, tem a resistência de muitas empresas, que temem ser alijadas de grandes mercados pelas concorrentes que criarem as novas redes.
Ontem, alguns dos pré-candidatos democratas à eleição de 2004 já criticavam Bush por deixar os EUA "vulneráveis".
Uma solução para o problema deverá agora voltar às prioridades da agenda do Congresso, dominado pelos republicanos.


Texto Anterior: Caças F-16 são acionados após falta de energia
Próximo Texto: Dia seguinte vira "feriado" para os nova-iorquinos
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.