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Bush diz que episódio é "alerta" para o país
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, disse ontem que o blecaute que atingiu a região nordeste dos EUA e parte do Canadá é
"um alerta" para que o "velho e
antiquado" sistema de energia
elétrica norte-americano seja modernizado.
Bush afirmou que o Congresso
precisa aprovar medidas para aumentar os investimentos na área
de transmissão, que, segundo estimativas, precisaria de US$ 56 bilhões para ser atualizada.
O ex-secretário de Energia dos
EUA no governo Clinton, Bill Richardson, atual governador do
Novo México, resumiu a dimensão do problema: "Somos uma
superpotência com um sistema
elétrico de Terceiro Mundo".
Até ontem, ainda permanecia
obscura a causa do blecaute, com
autoridades norte-americanas e
canadenses divergindo sobre onde teve início a ruptura do sistema
de transmissão que afetou uma
área de 9.600 km2.
Enquanto uma porta-voz do
primeiro-ministro canadense,
Jean Chrétien, afirmava que a
causa havia sido uma sobrecarga
em uma central nuclear na Pensilvânia, o Electric Reliability Council, que monitora o sistema, apontava para um problema em linhas
de transmissão em Ohio.
No dia anterior, o próprio Chrétien havia dito que a queda de um
raio na central Niágara-Mohawk,
no Canadá, havia originado o
apagão. Ontem, desmentiu a informação.
O blecaute de anteontem, que
causou bilhões de dólares em prejuízos e parou unidades importantes de fábricas como a General
Motors e a Honda, além de milhares de escritórios e empresas, já
estava sendo esperado.
No ano passado, o Electric Reliability Council, um instituto financiado por empresas de geração de energia, divulgou relatório
afirmando que a rede estava no limite e alertou que seriam necessários investimentos urgentes para desbloquear gargalos na transmissão de energia.
Os sistemas de geração e transmissão na área afetada e em outras regiões dos EUA são um misto de muitas empresas privadas e
algumas públicas.
Desde o início do processo de
desregulamentação do setor, em
meados dos anos 90, destinado a
baixar tarifas via aumento da
oferta, ocorreram alguns investimentos nos Estados Unidos apenas na área de geração.
As linhas de transmissão permaneceram, basicamente, as
mesmas, controladas por poucas
empresas. Em boa parte dos casos
na região afetada nos últimos
dias, os equipamentos, cabos de
energia e torres têm mais de meio
século de uso.
No final dos anos 90, ainda houve um esforço para tentar modernizar a rede em vários pontos do
país.
Os projetos de investimento, no
entanto, foram abandonados em
2001 na esteira da quebra da
Enron, a até então maior empresa
de energia dos EUA, e do estouro
da chamada "bolha de investimentos", que colocou os EUA no
rumo de uma recessão.
Sem a perspectiva de novas linhas, o governo do Estado de Nova York chegou a construir, em
regime de urgência em 2001, dez
geradores ao redor de Manhattan
para aumentar a oferta de energia
em momentos de pico.
Um dos mais famosos gargalos
nas linhas de transmissão nos
EUA encontra-se no meio da Califórnia e impede que toda a energia em excesso no sul do Estado
seja transmitida para o norte.
Há dois anos, a Califórnia sofreu uma série de apagões causados pelo gargalo, que deixou mais
de 1 milhão de pessoas sem energia no pior dia.
A Federal Energy Regulatory
Commission, agência responsável pela transmissão, também
vem tentando há anos formar novas redes regionais que seriam administradas por empresas geradoras de energia.
A iniciativa, no entanto, tem a
resistência de muitas empresas,
que temem ser alijadas de grandes
mercados pelas concorrentes que
criarem as novas redes.
Ontem, alguns dos pré-candidatos democratas à eleição de
2004 já criticavam Bush por deixar os EUA "vulneráveis".
Uma solução para o problema
deverá agora voltar às prioridades
da agenda do Congresso, dominado pelos republicanos.
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