São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 2011

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Paquistão fica em alerta após voo dos EUA

Pela primeira vez, norte-americanos mandam seus aviões-robôs sobrevoar instalações nucleares do país asiático

Medida deve elevar a tensão entre os dois governos, que cresceu desde a ação que levou à morte de Bin Laden

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD

Pela primeira vez, aviões-robôs americanos foram vistos sobrevoando instalações nucleares militares do Paquistão. As forças da região de Kahuta, onde ocorreu o incidente no fim de semana, foram colocadas de prontidão.
A Folha apurou que moradores viram os aviões-robôs no começo das noites de sábado e domingo na cidade, a 35 km da capital, Islamabad. Militares estacionados na região foram tirados da cama na madrugada de ontem e colocados em prontidão. Kahuta é uma área proibida para estrangeiros, e já houve prisões sob acusação de espionagem de ocidentais.
O governo não comenta. Há um blecaute na mídia local quando o assunto são armas nucleares.
Kahuta sedia os Laboratórios de Pesquisa Khan, principal centro de enriquecimento de urânio para uso em armas atômicas do Paquistão. Lá também são montados os mísseis da família Ghauri, com alcances entre 1.500 km e 2.500 km, capazes de atingir a arquirrival Índia. O nome não é casual: Khan é o sobrenome de Abdul Qadeer, o pai do programa nuclear paquistanês que caiu em desgraça nos anos 90 depois que foi revelado que ele vendia segredos atômicos.
A Coreia do Norte, por exemplo, desenvolveu sua bomba a partir de seus planos -em troca, o Paquistão recebeu tecnologia para mísseis balísticos.

PALAVRA MALDITA
Cair em desgraça é relativo. Khan vive confinado, mas escreve regularmente na mídia local e dá nome a todos os centros de pesquisa nucleares do país.
Símbolos de seu trabalho estão em toda a parte. Na capital, há uma réplica em escala da montanha sob a qual foi explodida a primeira bomba paquistanesa em 1998.
Em Abbottabad, cidade onde foi morto Osama bin Laden, há uma maquete do Ghauri numa avenida central.
Embora dificilmente o governo paquistanês confirme a situação, o fato é que ela eleva ainda mais a tensão entre o país e os EUA. Desde a morte de Bin Laden em maio, as relações entre Washington e Islamabad se deterioraram, com acusações recíprocas -de um lado, de violação de soberania; do outro, de incompetência.
O discurso de que "a bomba pode cair na mão de terroristas" voltou aos círculos políticos americanos. Entre militares e na elite paquistanesa, um plano dos EUA para tomar de assalto suas instalações nucleares é visto como uma certeza -o que explica o nervosismo com a aparição dos aviões.
Para piorar, há a palavra maldita na equação: "drones", termo inglês para aviões-robôs que no Paquistão são controlados pela CIA à distância, dos EUA.
Os americanos utilizam os aviões sem piloto para atacar terroristas em regiões remotas. O governo do Paquistão protesta, mas ao longo dos anos foi dúbio. Há inúmeros relatos da colaboração para a localização de alvos.


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