São Paulo, domingo, 16 de agosto de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Renúncia viria antes de impeachment, diz analista

de Nova York

O pior cenário que poderia acontecer no final do caso Monica Lewinsky seria o impeachment do presidente Bill Clinton e sua condenação pela Justiça, o que deveria paralisar politicamente o país e criar uma instabilidade suficiente para interferir na melhor situação econômica vista nos EUA nos últimos 50 anos.
Para que isso ocorra, no entanto, o promotor independente Kenneth Starr, que investiga o caso, ainda tem de contar com alguns fatores, segundo o professor de ciência política da Columbia University, Robert Shapiro.
Supondo que o presidente continue a negar o relacionamento sexual, a prova seria a existência de material genético de Clinton no vestido de Monica.
Só que apenas encontrar esse material não basta. Ele teria de ser comparado ao DNA do presidente, e os testes teriam de dar 100% de certeza de que se trata do mesmo material genético. Qualquer porcentagem de incerteza, segundo Shapiro, geraria uma discussão entre especialistas, inclusive com cientistas assessorando o presidente, e colocaria sempre uma dúvida em torno do resultado.
Se os testes tiverem 100% de certeza, poderia ficar comprovado que Lewinsky está falando a verdade e teve um relacionamento sexual com o presidente, mas não que Clinton mentiu à Justiça.
Clinton ainda pode argumentar, como afirmou o jornal ''The New York Times'' na sexta, que respondeu, em seu depoimento no caso Paula Jones, que não teve um relacionamento sexual com Monica baseado na definição de relação sexual estipulada naquele caso.
Ainda que seja comprovado que houve mentira perante a corte, só o falso testemunho num caso que já não mais existe (Paula Jones) não deve ser suficiente para levar o presidente ao impeachment, segundo Shapiro.

Obstrução da Justiça Para levar o Congresso a pedir o impeachment, Kenneth Starr teria de provar que Clinton induziu Lewinsky a dar falso testemunho.
''Vamos supor que chegássemos a esse ponto, que ficasse provado que Clinton fez uma coisa má. Acredito que, antes de o Congresso pedir o impeachment, o presidente renunciaria, para não paralisar o país'', disse Shapiro.
Assim sendo, segundo o professor, o pior que pode acontecer com os EUA é Clinton desviar a atenção da política interna e externa por causa desse caso.
''Clinton é uma pessoa que consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas, se está deixando de fazer uma delas para se dedicar ao caso, já é um estrago'', disse.
Seguindo esse ponto de vista, amanhã pode ser o melhor dia para o depoimento do presidente. Logo depois, ele e todos os congressistas sairão de férias.
''Na volta, haverá ainda preocupação com as eleições no Congresso. Clinton não estará diretamente envolvido nisso e continuará trabalhando. Só não poderá dar entrevistas, pois fariam perguntas sobre o caso'', disse Shapiro.(ABl)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.