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ONU critica política da Itália para imigrantes
País trata navios com migrantes como lixo tóxico, diz comissária de direitos humanos
Embaixadora do governo Berlusconi rechaça acusações e afirma que a Itália está comprometida em combater o racismo e a xenofobia
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A Itália se viu na berlinda ontem durante o segundo dia de
sessão do Conselho de Direitos
Humanos da ONU, quando a alta comissária das Nações Unidas para o tema, Navi Pillay,
criticou a política do país para
conter a imigração.
Embora não tenha citado o
governo do direitista Silvio
Berlusconi, Pillay evocou um
episódio ocorrido em agosto na
costa italiana, no qual um barco
com dezenas de imigrantes eritreus ficou à deriva e não recebeu ajuda das embarcações que
passavam. Apenas 5, de estimados 80, chegaram vivos.
"Supondo que os barcos em
apuros levam imigrantes, os
navios passam e ignoram seus
pedidos de ajuda, o que viola as
leis internacionais. Em muitos
casos, as autoridades rejeitam
esses migrantes e os deixam à
mercê de dificuldades, quando
não da morte, como se estivessem recusando navios com detritos tóxicos", declarou Pillay.
A crítica rendeu uma réplica
veemente da embaixadora italiana na ONU, Laura Mirachian. Afirmando que seu país
está "comprometido em combater o racismo e a xenofobia e
preservar os direitos humanos", ela disse que a Itália foi
exposta a um tamanho fluxo de
imigrantes que isso "em alguns
casos afetou a ordem pública".
Roma trata a questão como
problema de segurança e criminalizou a imigração irregular.
"Porque o tema é complexo e os
desafios são imensos, ele exigia
uma resposta abrangente. O
envolvimento de organizações
criminosas no tráfico humano
foi provado. A cooperação com
países vizinhos era fundamental", disse Mirachian.
Acordo
A Itália entrou no alvo dos
defensores dos direitos humanos ao assinar acordo com a Líbia em maio. O tratado permitiu patrulhas líbias em águas
entre os dois países e a deportação dos imigrantes pegos no
mar e na costa, independentemente de sua origem, para o
país africano, onde observadores de direitos humanos não
podem entrar.
Após a instauração da chamada "política da devolução", o
total de clandestinos na costa
italiana, que batia nas dezenas
de milhares, caiu quase a zero.
Com a criminalização da imigração, a maioria das pessoas se
tornou temerosa de socorrer os
irregulares, o que leva a casos
como o citado por Pillay. "Os
Estados têm a obrigação de respeitar, proteger e suprir uma
série de direitos humanos de
todos os indivíduos sob sua jurisdição, incluindo todos os migrantes", disse a comissária.
Seu discurso foi obviamente
mal recebido em Roma. "A
ONU deveria ter em mente os
esforços feitos pelo governo
Berlusconi e os resultados brilhantes obtidos", declarou o
ministro da Implementação de
Políticas, Gianfranco Rotondi,
segundo a agência Ansa.
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