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Às vésperas de 60 anos de revolução, China aumenta a vigilância
Com proximidade de celebração de data histórica, governo chinês se concentra em providências para impedir protestos
Moradores de avenida palco de parada são orientados a permanecer afastados das varandas e a manter janelas fechadas em 1º de outubro
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
"Caro residente, faça um
bom trabalho de vigilância em
sua vizinhança. Se houver estranhos nos corredores, tente
descobrir quem é e [perante]
qualquer anormalidade, ligue
110 [polícia]. Porte seus documentos para juntos fazermos
um aniversário seguro dos 60
anos da Mãe Pátria e criar uma
sociedade harmoniosa."
Essa mensagem foi enviada
por carta e afixada em elevadores de centenas de conjuntos
habitacionais de Pequim. Às
vésperas do aniversário de 60
anos da chegada do Partido Comunista ao poder na China, o
governo está tomando todas as
precauções possíveis para evitar qualquer protesto -e tirar
qualquer clima festivo da data.
Milhares de senhoras aposentadas e jovens seguranças
dos prédios já ostentam as braçadeiras vermelhas que simbolizam a "vigilância comunitária" e que podem delatar movimentos suspeitos à polícia.
O aniversário de 60 anos é
tratado com os mesmos esmero e paranoia que cercaram a
organização da Olimpíada de
Pequim, no ano passado. Moradores da avenida da Paz Eterna,
por onde passará a parada militar de 1º de outubro, receberam
cartas ordenando que não fiquem nos terraços ou varandas
assistindo à parada e que mantenham as janelas fechadas.
Dezenas de hotéis na mesma
avenida, a maior da cidade com
45 km de extensão, não poderão receber hóspedes nos quartos com face para a Paz Eterna.
O evento que marca os 60
anos, que terá como centro a
praça da Paz Celestial, será dirigido pelo cineasta Zhang Yimou, responsável pelas cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada-2008.
Uma banda militar de 1.321
músicos, um coral de 2.500 vozes e estimados 15 mil militares
devem participar da parada, e
200 músicos de minorias étnicas se apresentarão para tentar
mostrar uma harmonia que
protestos de tibetanos e uigures teimam em desmentir.
O clima de treinamento militar que domina o evento afeta
boa parte de Pequim desde julho, quando alunos de escolas
primárias a universitários passaram a ensaiar para o desfile.
Na Universidade de Economia e Negócios da Capital, alunos começaram a ensaiar no
que seria seu primeiro dia de
férias, em 11 de julho, por oito
horas diárias. Em agosto, milhares de alunos de vários centros começaram a ser levados
ao distrito de Changping, a uma
hora e meia do centro de Pequim, para ensaios "de massa".
Os universitários da Economia e Negócios ganham uma
ajuda de custo de 25 yuans por
dia (R$ 7), recebidos como crédito no cartão da lanchonete
universitária.
Outras escolas decidiram dar
créditos e "pontos" em disciplinas para quem participar da
"prática social". "Todos os
meus amigos participaram,
mesmo que não ganhássemos
pontos. É bom participar dos
60 anos, nossos pais incentivam", disse a estudante Yu, 18.
Dezenas de vídeos e fotos já
circulam pela internet mostrando o treinamento. Grupos
de adolescentes chegam até a
criar formas de tanques, a foice
e o martelo comunistas e o número 60 pela efeméride.
Como na Olimpíada, é provável que o governo sugira ao povo que veja a festa pela TV.
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