São Paulo, quarta-feira, 16 de setembro de 2009

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Às vésperas de 60 anos de revolução, China aumenta a vigilância

Com proximidade de celebração de data histórica, governo chinês se concentra em providências para impedir protestos

Moradores de avenida palco de parada são orientados a permanecer afastados das varandas e a manter janelas fechadas em 1º de outubro


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

"Caro residente, faça um bom trabalho de vigilância em sua vizinhança. Se houver estranhos nos corredores, tente descobrir quem é e [perante] qualquer anormalidade, ligue 110 [polícia]. Porte seus documentos para juntos fazermos um aniversário seguro dos 60 anos da Mãe Pátria e criar uma sociedade harmoniosa."
Essa mensagem foi enviada por carta e afixada em elevadores de centenas de conjuntos habitacionais de Pequim. Às vésperas do aniversário de 60 anos da chegada do Partido Comunista ao poder na China, o governo está tomando todas as precauções possíveis para evitar qualquer protesto -e tirar qualquer clima festivo da data.
Milhares de senhoras aposentadas e jovens seguranças dos prédios já ostentam as braçadeiras vermelhas que simbolizam a "vigilância comunitária" e que podem delatar movimentos suspeitos à polícia.
O aniversário de 60 anos é tratado com os mesmos esmero e paranoia que cercaram a organização da Olimpíada de Pequim, no ano passado. Moradores da avenida da Paz Eterna, por onde passará a parada militar de 1º de outubro, receberam cartas ordenando que não fiquem nos terraços ou varandas assistindo à parada e que mantenham as janelas fechadas.
Dezenas de hotéis na mesma avenida, a maior da cidade com 45 km de extensão, não poderão receber hóspedes nos quartos com face para a Paz Eterna.
O evento que marca os 60 anos, que terá como centro a praça da Paz Celestial, será dirigido pelo cineasta Zhang Yimou, responsável pelas cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada-2008.
Uma banda militar de 1.321 músicos, um coral de 2.500 vozes e estimados 15 mil militares devem participar da parada, e 200 músicos de minorias étnicas se apresentarão para tentar mostrar uma harmonia que protestos de tibetanos e uigures teimam em desmentir.
O clima de treinamento militar que domina o evento afeta boa parte de Pequim desde julho, quando alunos de escolas primárias a universitários passaram a ensaiar para o desfile.
Na Universidade de Economia e Negócios da Capital, alunos começaram a ensaiar no que seria seu primeiro dia de férias, em 11 de julho, por oito horas diárias. Em agosto, milhares de alunos de vários centros começaram a ser levados ao distrito de Changping, a uma hora e meia do centro de Pequim, para ensaios "de massa".
Os universitários da Economia e Negócios ganham uma ajuda de custo de 25 yuans por dia (R$ 7), recebidos como crédito no cartão da lanchonete universitária.
Outras escolas decidiram dar créditos e "pontos" em disciplinas para quem participar da "prática social". "Todos os meus amigos participaram, mesmo que não ganhássemos pontos. É bom participar dos 60 anos, nossos pais incentivam", disse a estudante Yu, 18.
Dezenas de vídeos e fotos já circulam pela internet mostrando o treinamento. Grupos de adolescentes chegam até a criar formas de tanques, a foice e o martelo comunistas e o número 60 pela efeméride.
Como na Olimpíada, é provável que o governo sugira ao povo que veja a festa pela TV.


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