São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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Exilado pela ditadura não crê em justiça

DA REPORTAGEM LOCAL

O currículo de Zaid al Ali impressiona. É formado em direito pelo King's College de Londres, com mestrado na Universidade Sorbonne de Paris e doutorado na Escola de Direito de Harvard. Iraquiano de nascimento, passou sua vida longe do país de origem por conta da ditadura de Saddam.
Agora, ajuda o time legal de defesa do ex-ditador, que merece mas não terá um julgamento justo, segundo crê o advogado. (SD)

 

Folha - O sr. acha que Saddam Hussein terá um julgamento justo?
Zaid al Ali -
Não. Na verdade, muitos procedimentos-padrões de qualquer processo já foram violados nesse caso. Ele não tem livre acesso a seu advogado, foi interrogado pelos juizes sem a presença dele, foi filmado e fotografado sem seu consentimento...
Principalmente não será justo porque, se fosse, ele usaria essa plataforma para revelar muitos fatos embaraçosos para os EUA sobre as relações deste país e da Europa com o Iraque quando ele foi presidente. Um exemplo?
Ele recebeu armas dos EUA e das potências ocidentais na guerra contra o Irã, pois aqueles temiam a expansão da influência do aiatolá Khomeini. Então, se ele for condenado por crimes nesta guerra, pode apontar os outros países como cúmplices, um instrumento jurídico aceitável...

Folha - O sr. não teme que os insurgentes usem o julgamento para matar Saddam Hussein e fazer dele um mártir de sua causa?
Al Ali -
Não creio. Primeiro, porque a segurança será extremamente reforçada. Segundo porque acho que eles têm muito pouco a ver com Saddam e a maior parte deles ignora o julgamento. Note que a captura dele em 2003 não teve nenhum efeito de enfraquecimento na insurgência, como era a expectativa das autoridades norte-americanas.

Folha - O que o sr. acha que vai acontecer a partir de quarta e quais as conseqüências disso?
Al Ali -
Ele vai receber um julgamento rápido, será considerado culpado e será executado, como maneira de silenciá-lo permanentemente. É uma pena, porque os iraquianos têm o direito de saber o que aconteceu com o país deles, quais foram os motivos para que isso acontecesse e principalmente quem forneceu ajuda a Saddam Hussein durante sua ditadura.


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