São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMÉRICA LATINA

Assessor internacional de Lula confirma "discussões", mas diz que "não há nada decidido em concreto"

Brasil discute pacto nuclear com Chávez

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SALAMANCA

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, insistiu ontem que haverá um acordo de cooperação nuclear entre seu país, Brasil e Argentina, mas, desta vez, não surgiu desmentido algum de parte de autoridades brasileiras.
Ao contrário: Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, confirmou que há discussões entre as partes a esse respeito, embora afirme que "não há nada decidido em concreto".
O que há de concreto, segundo Garcia, é "o interesse do governo venezuelano em compartilhar ações na área nuclear". Compartilhar, no caso, significa que Brasil e Argentina cederão algo à Venezuela, que não tem nessa área nem pesquisas puras nem instalações ou programas concretos, ao contrário de seus eventuais futuros sócios.
É óbvio que juntar no mesmo programa "cooperação nuclear" e "Venezuela" só pode provocar um ataque de nervos em Washington, já empenhada em combater o presidente Hugo Chávez e em evitar qualquer tipo de expansão de programas nucleares, mesmo os pacíficos, no pressuposto de que podem ser apenas a ante-sala do uso militar da energia atômica.
Marco Aurélio Garcia não demonstra a menor preocupação com essa hipótese, a partir do raciocínio de que "o programa nuclear brasileiro é absolutamente transparente e absolutamente protegido de qualquer possibilidade militar".
Mais: "O Brasil é dos poucos países do mundo em que a interdição do uso militar do átomo está inscrita na Constituição".
Para o assessor diplomático de Lula, os Estados Unidos deram já seguidas demonstrações de que "a política nuclear brasileira é a adequada", inclusive na recente visita ao país da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice.
Tudo isso de fato é verdade, mas, ainda assim, permanece o fato de que os Estados Unidos buscam isolar Chávez, adversário de Washington e aliado do ditador cubano, Fidel Castro, e se alarmam com qualquer movimento que possa parecer uma corrida armamentista de parte da Venezuela.
Nem assim Marco Aurélio vê problemas: "Não estamos buscando o reconhecimento de ninguém", diz.
O assessor de Lula evitou também entrar em polêmica com uma jornalista sobre Cuba, Brasil e a resolução da Cúpula de Salamanca que exige o fim do embargo norte-americano à ilha de Fidel Castro.
A mídia espanhola tem informado que os Estados Unidos ficaram incomodados com a resolução, supostamente um apoio a Cuba. Na verdade, é apenas a reiteração de resoluções emitidas pelas Nações Unidas nos últimos 20 anos.
Questionado sobre se o governo brasileiro considera o regime cubano ditadura ou democracia, o assessor de Lula preferiu responder pela tangente: "o Brasil não é uma agência de certificação (de regimes políticos)".


Texto Anterior: Exilado pela ditadura não crê em justiça
Próximo Texto: Garcia vê ação "díspar" dos EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.