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AMÉRICA LATINA
Assessor internacional de Lula confirma "discussões", mas diz que "não há nada decidido em concreto"
Brasil discute pacto nuclear com Chávez
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SALAMANCA
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, insistiu ontem que haverá um acordo de cooperação
nuclear entre seu país, Brasil e Argentina, mas, desta vez, não surgiu desmentido algum de parte de
autoridades brasileiras.
Ao contrário: Marco Aurélio
Garcia, assessor diplomático do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, confirmou que há discussões
entre as partes a esse respeito, embora afirme que "não há nada decidido em concreto".
O que há de concreto, segundo
Garcia, é "o interesse do governo
venezuelano em compartilhar
ações na área nuclear". Compartilhar, no caso, significa que Brasil e
Argentina cederão algo à Venezuela, que não tem nessa área
nem pesquisas puras nem instalações ou programas concretos, ao
contrário de seus eventuais futuros sócios.
É óbvio que juntar no mesmo
programa "cooperação nuclear" e
"Venezuela" só pode provocar
um ataque de nervos em Washington, já empenhada em combater o presidente Hugo Chávez e
em evitar qualquer tipo de expansão de programas nucleares, mesmo os pacíficos, no pressuposto
de que podem ser apenas a ante-sala do uso militar da energia atômica.
Marco Aurélio Garcia não demonstra a menor preocupação
com essa hipótese, a partir do raciocínio de que "o programa nuclear brasileiro é absolutamente
transparente e absolutamente
protegido de qualquer possibilidade militar".
Mais: "O Brasil é dos poucos
países do mundo em que a interdição do uso militar do átomo está inscrita na Constituição".
Para o assessor diplomático de
Lula, os Estados Unidos deram já
seguidas demonstrações de que
"a política nuclear brasileira é a
adequada", inclusive na recente
visita ao país da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice.
Tudo isso de fato é verdade,
mas, ainda assim, permanece o
fato de que os Estados Unidos
buscam isolar Chávez, adversário
de Washington e aliado do ditador cubano, Fidel Castro, e se
alarmam com qualquer movimento que possa parecer uma
corrida armamentista de parte da
Venezuela.
Nem assim Marco Aurélio vê
problemas: "Não estamos buscando o reconhecimento de ninguém", diz.
O assessor de Lula evitou também entrar em polêmica com
uma jornalista sobre Cuba, Brasil
e a resolução da Cúpula de Salamanca que exige o fim do embargo norte-americano à ilha de Fidel
Castro.
A mídia espanhola tem informado que os Estados Unidos ficaram incomodados com a resolução, supostamente um apoio a
Cuba. Na verdade, é apenas a reiteração de resoluções emitidas
pelas Nações Unidas nos últimos
20 anos.
Questionado sobre se o governo
brasileiro considera o regime cubano ditadura ou democracia, o
assessor de Lula preferiu responder pela tangente: "o Brasil não é
uma agência de certificação (de
regimes políticos)".
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