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IMPASSE NO IMPÉRIO
Problemas com eleição e contagem de votos fazem do Estado alvo de piadas e deixam moradores atônitos
Confusão eleitoral piora fama da Flórida
MIREYA NAVARRO
DO "THE NEW YORK TIMES", EM MIAMI
A imagem da Flórida já não era
lá grande coisa. Parece que desde
a época do seriado de TV "Miami
Vice" o Estado vem sendo criticado por uma coisa após outra: distúrbios raciais, assassinato de turistas, corrupção no governo,
fraude eleitoral, devastadores desastres naturais, uma cadeira elétrica que ateava fogo a suas vítimas e, é claro, o grande debate em
torno de Elián González.
O tipo de comportamento que
deixa o resto do país perplexo
com frequência se dá em Miami,
vista pela maior parte do norte da
Flórida como criadora dos problemas do Estado. Mas, com o resultado da eleição presidencial em
suspenso em razão de cédulas duplamente perfuradas, contagens
equivocadas e processos abertos
por pessoas que votaram no candidato errado em outras partes do
Estado, seus moradores alarmados já estão dizendo que a Flórida
virou a Miami do país.
"Esta é a eleição da pessoa mais
poderosa do mundo, e aqui estamos nós, causando uma pane no
processo todo", disse Paul George, de Miami, professor de história na Faculdade Comunitária
Miami-Dade. "Recebi um e-mail
de um amigo da Espanha dizendo, basicamente, que desta vez é a
Flórida inteira que virou uma República das Bananas."
No "Panhandle" da Flórida -o
"cabo de panela", ou seja, o encrave comprido que se projeta da
parte principal do Estado-, os
residentes que atravessam as divisas do Alabama e da Geórgia para
trabalhar e fazer compras dizem
que as críticas ouvidas nos Estados vizinhos são impiedosas.
"Todo mundo acha que somos
burros", disse Naomi Melvin, que
dirige o comitê executivo do Partido Democrata no condado de
Washington, no Panhandle.
"Meu marido é médico, e eu tenho PhD. Não somos burros."
Na verdade, boa parte da Flórida está tão atônita quanto o resto
do país com o rumo dos acontecimentos desde a eleição. Num Estado de 15 milhões de habitantes e
que inclui áreas tão diversas
quanto o sul, com sua enorme população de origem hispânica, seu
glamour e seu comércio internacional, e o Panhandle, com grande população nativa que cultiva
amendoim, algodão e madeira
para extração e não acha pejorativo o qualificativo "redneck" (algo
como caipira), alguns residentes
vêm assistindo ao que está acontecendo nos condados de Palm
Beach, Volusia e outros quase como se não lhes dissesse respeito.
Na realidade, foi a própria diversidade demográfica do Estado
que possui a quarta maior população nacional que ajudou a provocar a profunda divisão política
hoje escancarada diante do resto
do país. Antigamente dominada
pelo Partido Democrata, a Flórida
viveu um crescimento demográfico explosivo na década de 1980,
que trouxe ao Estado mais republicanos. Para analistas, a mudança de partido de alguns eleitores
brancos e a redistribuição dos distritos eleitorais também contribuíram para a queda no número
total de filiados do Partido Democrata, que hoje chegam a 44% do
total, contra 56% em 1988.
Embora o número de democratas filiados ainda supere o de republicanos, que respondem por
40% do eleitorado, os eleitores da
Flórida demonstram tendência a
trocar de partido. Isso se aplica especialmente aos democratas
brancos da zona rural, que, na hora de votar, costumam levar em
conta fatores como a familiaridade com o candidato e visões conservadoras de questões como impostos e criminalidade.
Por essas razões e devido ao aumento do número de independentes, que hoje formam 16% dos
eleitores registrados, muitos analistas políticos já previam uma
eleição presidencial apertada este
ano. O que não previram foram os
problemas com cédulas confusas,
votos anulados, contagens imperfeitas e outros obstáculos que deixaram muitos eleitores perplexos
com as falhas de seu sistema democrático.
Lance de Haven-Smith, diretor
associado do Instituto de Governo da Flórida, centro de pesquisas
ligado à Universidade Estadual da
Flórida, em Tallahassee, disse: "A
Flórida tem tendência um pouco
maior a sofrer esse tipo de coisa
porque temos grande população
de cidadãos na terceira idade, alta
porcentagem de imigrantes e um
sistema de voto antiquado. Some-se tudo isso, e não surpreende que
ocorram erros e confusão".
Entretanto muitas pessoas no
Estado rejeitam a implicação de
que não sabem votar ou contar
votos, dizendo que, se outras partes do país fossem submetidas ao
mesmo exame de perto que vem
sendo feito da Flórida, outras imperfeições viriam à tona.
Mas os habitantes do Estado
vêm tendo dificuldade em resistir
às farpas. Já alvos de piadas intermináveis na televisão, eles mesmos têm sido seus piores críticos.
Dave Barry, escrevendo no "Miami Herald", sugeriu que as cédulas contivessem fotos dos candidatos, para que fossem menos
confusas. "Os eleitores poderiam
indicar sua preferência usando as
máquinas perfuradoras para
acertar o candidato de sua escolha
no meio dos olhos."
Tradução de Clara Allain
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