São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2000

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IMPASSE NO IMPÉRIO
Para deputados republicanos, os democratas conseguiram convencer o eleitor de que a recontagem dos votos é legítima
Gore vence a guerra de relações públicas

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Na guerra das relações públicas, há sinais de que o vice-presidente dos EUA, Al Gore, está na frente de seu adversário na corrida à Casa Branca, o governador do Texas, George W. Bush.
Nove dias depois das eleições presidenciais norte-americanas mais confusas do último século, parlamentares republicanos admitem que Gore conseguiu ganhar o coração de parte importante da opinião pública.
Provou que, longe de ser uma chicana eleitoral, sua insistência em recontar exaustivamente os votos na Flórida tem como objetivo descobrir, de forma legítima, o vencedor do pleito.
Bush, dizem esses deputados, tentou, mas não conseguiu, retratar Gore como um "mau perdedor", como um candidato que, em sua ânsia de vencer as eleições a qualquer custo, ameaça criar uma crise institucional no país.
Além disso, os democratas parecem estar conseguindo convencer a população de que a estratégia de Bush na Flórida tem aspectos hipócritas e de que o candidato republicano "tem algo a esconder" ao temer uma contagem mais minuciosa dos votos.
"Estamos perdendo a batalha das relações públicas", disse o deputado republicano Sonny Callahan, do Alabama. "Não estamos conseguindo emplacar nossa mensagem e ainda nos acusam de termos sido os primeiros a entrar com uma ação judicial no meio dessa bagunça, o que nos faz parecer hipócritas."
Os advogados republicanos foram os primeiros a recorrer à Justiça, mesmo depois de Bush ter criticado Gore por cogitar a adoção de medidas judiciais. Isso pegou os deputados republicanos de surpresa, porque a decisão foi tomada secretamente pelo comando da campanha de Bush.
Os parlamentares republicanos temem que a imagem desfavorável do candidato piore ainda mais nos próximos dias se Bush, depois de criticar os pedidos de recontagem de votos feitos por Gore, requisitar uma nova apuração em outros Estados.
Esse risco tornou-se real ontem, depois que assessores de Bush cogitaram requisitar uma recontagem em Iowa, Novo México e Wisconsin, Estados onde Bush perdeu por pouco.
Os parlamentares republicanos culpam a equipe da campanha de Bush, que para eles atua de forma desconexa e desligada do partido, e a imprensa, que consideram ser abertamente favorável aos democratas.
Segundo eles, a campanha republicana não os mantêm informados e os impede de usar o microfone do Parlamento e de dar entrevistas à imprensa para apresentar sua versão dos fatos.
"Como é que podemos ajudar Bush se não sabemos qual é o próximo passo que eles imaginam em Austin?", perguntou Mark Soulder, deputado republicano pelo Estado de Indiana. "Fico sem resposta toda vez que me perguntam o que é justo e o que não é justo dentro dessa luta."
Como exemplo do trabalho descoordenado do partido, os parlamentares republicanos dizem ter sido induzidos a erro, no final da semana passada, quando Bush decidiu apelar à Justiça sem avisá-los. Na visão dos republicanos, a campanha democrata é mais "coordenada com as bancadas do partido no Congresso" e estava mais preparada para uma situação como essa.
"Gore percebeu mais cedo que essa era uma campanha de relações públicas", disse o deputado John Thune, de Dakota do Sul.


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