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IMPASSE NO IMPÉRIO
Para deputados republicanos, os democratas conseguiram convencer o eleitor de que a recontagem dos votos é legítima
Gore vence a guerra de relações públicas
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Na guerra das relações públicas,
há sinais de que o vice-presidente
dos EUA, Al Gore, está na frente
de seu adversário na corrida à Casa Branca, o governador do Texas,
George W. Bush.
Nove dias depois das eleições
presidenciais norte-americanas
mais confusas do último século,
parlamentares republicanos admitem que Gore conseguiu ganhar o coração de parte importante da opinião pública.
Provou que, longe de ser uma
chicana eleitoral, sua insistência
em recontar exaustivamente os
votos na Flórida tem como objetivo descobrir, de forma legítima, o
vencedor do pleito.
Bush, dizem esses deputados,
tentou, mas não conseguiu, retratar Gore como um "mau perdedor", como um candidato que,
em sua ânsia de vencer as eleições
a qualquer custo, ameaça criar
uma crise institucional no país.
Além disso, os democratas parecem estar conseguindo convencer a população de que a estratégia de Bush na Flórida tem aspectos hipócritas e de que o candidato republicano "tem algo a esconder" ao temer uma contagem
mais minuciosa dos votos.
"Estamos perdendo a batalha
das relações públicas", disse o deputado republicano Sonny Callahan, do Alabama. "Não estamos
conseguindo emplacar nossa
mensagem e ainda nos acusam de
termos sido os primeiros a entrar
com uma ação judicial no meio
dessa bagunça, o que nos faz parecer hipócritas."
Os advogados republicanos foram os primeiros a recorrer à Justiça, mesmo depois de Bush ter
criticado Gore por cogitar a adoção de medidas judiciais. Isso pegou os deputados republicanos de
surpresa, porque a decisão foi tomada secretamente pelo comando da campanha de Bush.
Os parlamentares republicanos
temem que a imagem desfavorável do candidato piore ainda mais
nos próximos dias se Bush, depois
de criticar os pedidos de recontagem de votos feitos por Gore, requisitar uma nova apuração em
outros Estados.
Esse risco tornou-se real ontem,
depois que assessores de Bush cogitaram requisitar uma recontagem em Iowa, Novo México e
Wisconsin, Estados onde Bush
perdeu por pouco.
Os parlamentares republicanos
culpam a equipe da campanha de
Bush, que para eles atua de forma
desconexa e desligada do partido,
e a imprensa, que consideram ser
abertamente favorável aos democratas.
Segundo eles, a campanha republicana não os mantêm informados e os impede de usar o microfone do Parlamento e de dar
entrevistas à imprensa para apresentar sua versão dos fatos.
"Como é que podemos ajudar
Bush se não sabemos qual é o próximo passo que eles imaginam
em Austin?", perguntou Mark
Soulder, deputado republicano
pelo Estado de Indiana. "Fico sem
resposta toda vez que me perguntam o que é justo e o que não é justo dentro dessa luta."
Como exemplo do trabalho descoordenado do partido, os parlamentares republicanos dizem ter
sido induzidos a erro, no final da
semana passada, quando Bush
decidiu apelar à Justiça sem avisá-los. Na visão dos republicanos, a
campanha democrata é mais
"coordenada com as bancadas do
partido no Congresso" e estava
mais preparada para uma situação como essa.
"Gore percebeu mais cedo que
essa era uma campanha de relações públicas", disse o deputado
John Thune, de Dakota do Sul.
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