|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Primária escolhe candidato do PS francês
Três presidenciáveis socialistas disputam pela primeira vez a preferência de 218 mil filiados; Ségolène Royal é favorita
Deputada de 53 anos reuniu boa assessoria e quer vencer
hoje; seria a adversária em abril de Sarkozy, ministro do
Interior e de centro-direita
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pouco mais de 218 mil filiados ao Partido Socialista estarão hoje habilitados, na França,
a participar da eleição primária
que escolherá seu candidato à
sucessão presidencial.
É a primeira vez que essa forma de consulta é praticada pelos franceses. E é também a primeira vez que uma mulher, Ségolène Royal, 53, poderá sair
investida e com chances consistentes de se eleger em maio
próximo para um mandato presidencial de cinco anos.
Concorrem ainda às primárias o ex-ministro das Finanças
Dominique Strauss-Kahn e o
ex-primeiro-ministro Laurent
Fabius. Pelos estatutos do PS,
se nenhum pré-candidato obtiver 50% dos votos, os militantes votarão novamente em uma
semana, para escolher entre os
dois primeiros colocados.
A votação, entre 16h e 22h locais, ocorre nos diretórios do
partido. Em torno de 80 mil votantes entraram recentemente
no PS, depois de intensa campanha de filiação pela internet.
Ségolène Royal tem a seu favor o fato de ser a única capaz
de rivalizar com o poderoso Nicolas Sarkozy, ministro do Interior e virtual candidato da situacionista UMP, de centro-direita. A última pesquisa projeta
para o primeiro turno de 22 de
abril um empate entre ambos,
com 34% das intenções.
Para hoje, não há pesquisas
entre filiados, mas apenas entre "simpatizantes" do partido,
um público diferente e bem
maior. Nelas, Ségolène aparece
com pouco menos de 60%.
Strauss-Kahn vem em segundo
lugar, e Fabius, em terceiro.
O PS está há quase 12 anos na
oposição. Enfrentou sua maior
crise em 2002, quando o então
primeiro-ministro, Lionel Jospin, ficou em terceiro lugar na
eleição presidencial e não disputou o segundo turno, em que
os finalistas foram Jean-Marie
Le Pen, da extrema-direita, e o
atual presidente, Jacques Chirac, do bloco de centro-direta.
Os socialistas permanecem
como a maior força do bloco de
centro-esquerda francês. Têm
bem pouco a ver com o partido
que em 1981 elegeu François
Mitterrand, a partir de uma
plataforma de estatização de
bancos e de empresas.
Com pequenas diferenças de
matizes, os pré-candidatos são
hoje social-democratas, que investem bem menos da ideologia e bem mais em suas imagens pessoais.
É aí que Ségolène Royal tem
levado uma imensa vantagem.
Acusou seus concorrentes de
machismo e os colocou na defensiva. Mesmo como a mais
inexperiente dos três -foi apenas ministra em cargos secundários, como Meio Ambiente,
Família e Infância e Ensino
Fundamental- ela é o grande
fato novo na política francesa.
Tornou-se nacionalmente
conhecida há dois anos, por
derrotar Jean-Pièrre Raffarin
(ex-premiê de Chirac) no controle de uma espécie de Parlamento de uma das regiões do
interior francês.
É apoiada por caciques do PS
como Jacques Lang, ministro
da Cultura dos tempos de François Mitterrand, e por personagens "midiáticos" como Daniel
Cohn-Bendit, líder da agitação
de Maio de 1968 e hoje líder de
algo mais institucional: a bancada dos ambientalistas no
Parlamento Europeu.
O ex-premiê Laurent Fabius
representa as facções mais à esquerda do partido. Quer um
plebiscito sobre a reestatização
de empresas privatizadas. E
procura catalisar os filiados que
temem a transferência da soberania interna à União Européia,
a seu ver "neoliberal". Fabius
votou contra a Constituição
Européia no plebiscito do ano
passado, o que lhe custou uma
cadeira na direção do PS.
Dominique Strauss-Kahn, ou
DSK, como é conhecido, é um
social-democrata que defende
relações privilegiadas com a
Alemanha -quer a fusão dos
Exércitos dos dois países- e a
redução dos gastos do Estado.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Guatemala é alternativa mais perigosa Próximo Texto: Chirac pode se candidatar, diz a sua mulher Índice
|