São Paulo, quinta-feira, 16 de novembro de 2006

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Primária escolhe candidato do PS francês

Três presidenciáveis socialistas disputam pela primeira vez a preferência de 218 mil filiados; Ségolène Royal é favorita

Deputada de 53 anos reuniu boa assessoria e quer vencer hoje; seria a adversária em abril de Sarkozy, ministro do Interior e de centro-direita


JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pouco mais de 218 mil filiados ao Partido Socialista estarão hoje habilitados, na França, a participar da eleição primária que escolherá seu candidato à sucessão presidencial.
É a primeira vez que essa forma de consulta é praticada pelos franceses. E é também a primeira vez que uma mulher, Ségolène Royal, 53, poderá sair investida e com chances consistentes de se eleger em maio próximo para um mandato presidencial de cinco anos.
Concorrem ainda às primárias o ex-ministro das Finanças Dominique Strauss-Kahn e o ex-primeiro-ministro Laurent Fabius. Pelos estatutos do PS, se nenhum pré-candidato obtiver 50% dos votos, os militantes votarão novamente em uma semana, para escolher entre os dois primeiros colocados.
A votação, entre 16h e 22h locais, ocorre nos diretórios do partido. Em torno de 80 mil votantes entraram recentemente no PS, depois de intensa campanha de filiação pela internet.
Ségolène Royal tem a seu favor o fato de ser a única capaz de rivalizar com o poderoso Nicolas Sarkozy, ministro do Interior e virtual candidato da situacionista UMP, de centro-direita. A última pesquisa projeta para o primeiro turno de 22 de abril um empate entre ambos, com 34% das intenções.
Para hoje, não há pesquisas entre filiados, mas apenas entre "simpatizantes" do partido, um público diferente e bem maior. Nelas, Ségolène aparece com pouco menos de 60%. Strauss-Kahn vem em segundo lugar, e Fabius, em terceiro.
O PS está há quase 12 anos na oposição. Enfrentou sua maior crise em 2002, quando o então primeiro-ministro, Lionel Jospin, ficou em terceiro lugar na eleição presidencial e não disputou o segundo turno, em que os finalistas foram Jean-Marie Le Pen, da extrema-direita, e o atual presidente, Jacques Chirac, do bloco de centro-direta.
Os socialistas permanecem como a maior força do bloco de centro-esquerda francês. Têm bem pouco a ver com o partido que em 1981 elegeu François Mitterrand, a partir de uma plataforma de estatização de bancos e de empresas.
Com pequenas diferenças de matizes, os pré-candidatos são hoje social-democratas, que investem bem menos da ideologia e bem mais em suas imagens pessoais.
É aí que Ségolène Royal tem levado uma imensa vantagem. Acusou seus concorrentes de machismo e os colocou na defensiva. Mesmo como a mais inexperiente dos três -foi apenas ministra em cargos secundários, como Meio Ambiente, Família e Infância e Ensino Fundamental- ela é o grande fato novo na política francesa.
Tornou-se nacionalmente conhecida há dois anos, por derrotar Jean-Pièrre Raffarin (ex-premiê de Chirac) no controle de uma espécie de Parlamento de uma das regiões do interior francês.
É apoiada por caciques do PS como Jacques Lang, ministro da Cultura dos tempos de François Mitterrand, e por personagens "midiáticos" como Daniel Cohn-Bendit, líder da agitação de Maio de 1968 e hoje líder de algo mais institucional: a bancada dos ambientalistas no Parlamento Europeu.
O ex-premiê Laurent Fabius representa as facções mais à esquerda do partido. Quer um plebiscito sobre a reestatização de empresas privatizadas. E procura catalisar os filiados que temem a transferência da soberania interna à União Européia, a seu ver "neoliberal". Fabius votou contra a Constituição Européia no plebiscito do ano passado, o que lhe custou uma cadeira na direção do PS.
Dominique Strauss-Kahn, ou DSK, como é conhecido, é um social-democrata que defende relações privilegiadas com a Alemanha -quer a fusão dos Exércitos dos dois países- e a redução dos gastos do Estado.


Com agências internacionais

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