São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2007

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Política americana no Iraque pode ajudar Teerã, diz relatório

DAVID MORGAN
DA REUTERS, EM WASHINGTON

O cortejo do governo de George W. Bush ao maior partido xiita do Iraque pode agravar a cisão entre grupos xiitas rivais e, em última análise, ampliar a influência do Irã, diz relatório do International Crisis Group divulgado anteontem. O Conselho Supremo Islâmico Iraquiano (CSII), baluarte do governo de coalizão do premiê Nuri al Maliki, goza de relação estreita com Washington desde a invasão liderada pelos EUA em 2003 -ao contrário do movimento xiita rival liderado por Moqtada al Sadr, clérigo radical que se opõe aos EUA.
Para o ICG, as rivalidades entre as facções xiitas terão mais peso sobre o futuro do Iraque do que o conflito sectário entre xiitas e sunitas, e uma abordagem equilibrada seria mais indicada. "Os EUA apóiam plenamente [o CSII]. Trata-se de uma aposta arriscada", diz a organização sediada na Bélgica. O grupo afirma que a dependência americana de combatentes da milícia do CSII, como contrapeso ao Exército Mehdi, de Sadr, "sairá pela culatra, polarizando a comunidade xiita e criando bases para um conflito endêmico entre as facções xiitas". O ICG descreve a rivalidade como uma disputa de classes entre a elite comercial xiita que o CSII representa e o proletariado urbano xiita, muito mais numeroso, que se alinha a Sadr.
Acredita-se que membros do CSII sejam porção considerável dos efetivos das forças de segurança iraquianas, e o partido detém cerca de 25% dos assentos da Aliança Xiita, a coalizão de Maliki, no Parlamento. "O ganho de poder pelo CSII devido à proteção dos EUA pode abrir as portas a um maior envolvimento iraniano, sobretudo quando as forças de ocupação começarem a se retirar", diz o texto. "O controle do CSII sobre as forças de segurança não é total, muitos grupos o contestam. É possível que a organização busque mais apoio do Irã em sua luta pelo poder."
A organização diz que os EUA deveriam forçar o CSII a realizar mudanças fundamentais, como um expurgo dos membros envolvidos na morte e tortura de pessoas de outras facções e dos defensores de uma retórica divisiva.
O grupo instou o governo Bush a forçar o CSII a abandonar a demanda pela criação de uma super-região xiita com as nove Províncias do sul do Iraque, que atraiu oposição generalizada, sobretudo de Sadr, que se diz um nacionalista.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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