São Paulo, Quinta-feira, 16 de Dezembro de 1999


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BASTIDORES
"Laboratório" criou confiança entre os dois países

MARCELO STAROBINAS
da Redação

Enquanto as negociações entre Síria e Israel estiveram bloqueadas nos últimos três anos, um "laboratório" construía a passos pequenos um espectro de confiança entre os dois históricos inimigos.
Desde 96, após a Operação Vinhas da Ira (ofensiva israelense contra bases guerrilheiras no sul do Líbano), representantes de Líbano, Síria e Israel se reúnem semanalmente numa base da ONU no sul do Líbano. Discutem, principalmente, questões militares da região de sua tríplice fronteira.
"Sentimos nessa comissão que há boa vontade do outro lado (sírio)", disse à Folha Pinchas Avivi, integrante da comissão e vice-diretor para a América Latina da chancelaria israelense.
Em visita a São Paulo, Avivi, que também participa do diálogo com os palestinos, concedeu anteontem a seguinte entrevista:

Folha - Qual tem sido o papel da comissão na qual o sr. atua?
Pinchas Avivi -
Os entendimentos militares que alcançamos na comissão fizeram os dois governos entenderem que há maneiras de chegar a acordos. Sei que hoje os dois lados podem dizer o mesmo sobre a outra parte: "ele é um inimigo honesto, confio no que ele disse, e ele não prometerá o que não pode cumprir".

Folha - É por isso que se fala que as negociações entre Síria e Israel já estão avançadas?
Avivi -
Os contatos para avançar as negociações correm por outros caminhos. Mas o laboratório da confiança real foi ali. Falávamos de coisas concretas, que serviam para que víssemos até que ponto eles estavam cumprindo ou não o que falavam.

Folha - E cumpriam?
Avivi -
Os sírios sempre cumpriram cada palavra que assinaram. O Golã é um exemplo. Desde o acordo de separação de forças, nos anos 70, terroristas não passaram mais pelo Golã. Sentimos na comissão que há boa vontade do outro lado também. Eles têm altíssimo nível de honestidade. Eles são duros porque são honestos. Vimos que com essa gente podemos fazer negócio.

Folha - É mais difícil resolver a questão síria ou a palestina?
Avivi -
Com os sírios, somos como duas famílias em dois apartamentos no mesmo condomínio. Abrem a porta quando querem. Em outras palavras: há um muro entre os vizinhos. E quando há um bom muro, há boa vizinhança. Já com os palestinos, estamos condenados a viver para sempre como duas famílias morando num mesmo apartamento, utilizando a mesma cozinha e o mesmo banheiro. Nunca haverá uma linha que deixe 100% dos israelenses de um lado e 100% dos palestinos do outro.


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