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BASTIDORES
"Laboratório" criou confiança entre os dois países
MARCELO STAROBINAS
da Redação
Enquanto as negociações entre
Síria e Israel estiveram bloqueadas nos últimos três anos, um "laboratório" construía a passos pequenos um espectro de confiança
entre os dois históricos inimigos.
Desde 96, após a Operação Vinhas da Ira (ofensiva israelense
contra bases guerrilheiras no sul
do Líbano), representantes de Líbano, Síria e Israel se reúnem semanalmente numa base da ONU
no sul do Líbano. Discutem, principalmente, questões militares da
região de sua tríplice fronteira.
"Sentimos nessa comissão que
há boa vontade do outro lado (sírio)", disse à Folha Pinchas Avivi,
integrante da comissão e vice-diretor para a América Latina da
chancelaria israelense.
Em visita a São Paulo, Avivi, que
também participa do diálogo com
os palestinos, concedeu anteontem a seguinte entrevista:
Folha - Qual tem sido o papel
da comissão na qual o sr. atua?
Pinchas Avivi - Os entendimentos militares que alcançamos na
comissão fizeram os dois governos entenderem que há maneiras
de chegar a acordos. Sei que hoje
os dois lados podem dizer o mesmo sobre a outra parte: "ele é um
inimigo honesto, confio no que
ele disse, e ele não prometerá o
que não pode cumprir".
Folha - É por isso que se fala
que as negociações entre Síria e
Israel já estão avançadas?
Avivi - Os contatos para avançar
as negociações correm por outros
caminhos. Mas o laboratório da
confiança real foi ali. Falávamos
de coisas concretas, que serviam
para que víssemos até que ponto
eles estavam cumprindo ou não o
que falavam.
Folha - E cumpriam?
Avivi - Os sírios sempre cumpriram cada palavra que assinaram. O Golã é um exemplo. Desde
o acordo de separação de forças,
nos anos 70, terroristas não passaram mais pelo Golã. Sentimos na
comissão que há boa vontade do
outro lado também. Eles têm altíssimo nível de honestidade. Eles
são duros porque são honestos.
Vimos que com essa gente podemos fazer negócio.
Folha - É mais difícil resolver a
questão síria ou a palestina?
Avivi - Com os sírios, somos como duas famílias em dois apartamentos no mesmo condomínio.
Abrem a porta quando querem.
Em outras palavras: há um muro
entre os vizinhos. E quando há
um bom muro, há boa vizinhança. Já com os palestinos, estamos
condenados a viver para sempre
como duas famílias morando
num mesmo apartamento, utilizando a mesma cozinha e o mesmo banheiro. Nunca haverá uma
linha que deixe 100% dos israelenses de um lado e 100% dos palestinos do outro.
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