São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

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Livro de Carter que ataca Israel causa polêmica

ERIC LESER
DO "MONDE"

O ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, 82, prêmio Nobel da Paz em 2002, está no meio de uma acirrada polêmica por causa da publicação, duas semanas atrás, de seu mais recente livro, "Palestine: Peace Not Apartheid" [Palestina: paz, não apartheid]. A obra acompanha a evolução do processo de paz na região, dos acordos de Camp David entre Israel e o Egito, assinados em 1978, quando ele era presidente, até as eleições palestinas em 2006, quando comandou uma missão de observação.
Ele atribui parte da culpa pelos revezes no processo de paz aos palestinos e aos EUA, mas considera que a maior responsabilidade cabe à situação política israelense.
Já antes da publicação do livro, a democrata Nancy Pelosi, que será a presidente da Câmara dos Deputados a partir de janeiro, declarou que Carter "não fala pelo Partido Democrata quanto a Israel". Kenneth Stein, diretor do Centro Carter de Defesa dos Direitos Humanos e do Centro de Estudos Israelenses da Universidade Emory, afastou-se do seu posto na organização de Carter, e rompeu com o ex-presidente. Ele considera que o livro "se baseia em análises simplistas e está repleto de erros factuais".
O Centro Simon Wiesenthal, uma das principais organizações mundiais de defesa da memória judaica, está circulando um abaixo-assinado em protesto contra o uso da palavra "apartheid" por Carter. A Liga Antidifamação e o Comitê Judaico Norte-Americano disseram que as críticas "dedicam pouca atenção ao fato de que Israel vem sofrendo ataques incessantes desde que foi criado".
Carter respondeu enfatizando que a palavra "apartheid" não era referência a nenhum racismo de parte de Israel, mas sim "ao desejo de uma minoria dentre os israelenses de confiscar e colonizar terras palestinas". Ele acrescentou que "o livro descreve a abominável opressão e as perseguições que ocorrem nos territórios palestinos ocupados, o rígido sistema de controle de movimentos e a segregação estrita entre cidadãos palestinos e colonos judeus na Cisjordânia. De muitas maneiras, é uma situação mais opressiva do que aquela sob a qual os negros viviam na era do apartheid na África do Sul".
O presidente se referiu às críticas em artigo no jornal "Los Angeles Times". Disse que deseja derrubar "a muralha impenetrável" que impede que o público norte-americano perceba o sofrimento dos palestinos.


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