São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2006

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Estrangulado, Hamas ainda resiste a acordo

DA REDAÇÃO

Mergulhados em grave crise econômica e encurralados em um ciclo de violência interno que há meses beira a guerra civil, os palestinos viveram nesta semana uma escalada que chocou até os mais pessimistas.
Na segunda-feira, homens mascarados fuzilaram os três filhos de um assessor do presidente Mahmoud Abbas, todos com menos de 10 anos, numa rua movimentada de Gaza. Anteontem, o premiê Ismail Haniyeh escapou por pouco de um ataque, que foi considerado uma declaração de guerra pelo Hamas.
O estado de desgoverno vem piorando drasticamente desde a vitória do Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) nas eleições de janeiro, que romperam quase quatro décadas de monopólio do Fatah (secular) sobre a causa palestina. O poder, porém, manteve-se dividido, já que a Presidência continuou nas mãos de Mahmoud Abbas, do Fatah, responsável pelo contatos com Israel.
A pressão sobre o novo governo começou antes mesmo da posse, em março. Israel cancelou imediatamente o repasse dos cerca de US$ 60 milhões mensais em impostos que recolhe em nome da Autoridade Nacional Palestina (ANP). União Européia e EUA seguiram o mesmo caminho, congelando a ajuda aos palestinos, equivalente a metade de seu orçamento anual de US$ 1 bilhão.
Conhecido por seus homens-bomba, responsáveis por dezenas de atentados contra civis israelenses, o Hamas manteve uma trégua nas atividades terroristas após chegar ao poder, mas recusou-se a aceitar as condições impostas por EUA e UE para suspender o boicote: reconhecer o direito de existência de Israel, aceitar os acordos já assinados pelo Fatah e abdicar da violência.
Sem dinheiro para pagar os salários dos cerca de 130 mil funcionários da ANP, o Hamas foi perdendo o controle dos territórios palestinos, cuja segurança continuava sob o comando do Fatah. A tensão entre os dois grupos gerou inúmeros confrontos, que deixaram mais de 200 mortos.
Estrangulado, o movimento islâmico foi forçado a aceitar uma aproximação com o presidente Abbas, que propôs um governo de união nacional como única forma de convencer os doadores a suspenderem o embargo.
O acordo seria baseado em um plano preparado por líderes das duas facções detidos em Israel, que incluía o reconhecimento do Estado judeu.

Seqüestro
Entretanto, no dia marcado para a formalização do pacto, 25 de junho, militantes ligados ao Hamas seqüestraram um soldado israelense, desencadeando uma ofensiva de Israel contra Gaza e uma seqüência de prisões de ministros do Hamas. Desde então, foram feitas várias tentativas de retomar o acordo, mas todas foram bloqueadas pela recusa do Hamas em aceitar Israel.
Frustrado, o presidente Abbas prometeu na semana passada que anunciaria, no discurso que fará amanhã, a convocação de eleições antecipadas. Se a promessa de Abbas for cumprida, no entanto, o que parece solução poderá significar o agravamento da crise: o Hamas já disse que considera a proposta uma tentativa de golpe e que não aceitará a dissolução de seu governo.


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