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São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003
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IRAQUE NA MIRA Descoberta em depósito iraquiano pode ser indício de que Saddam tem armas químicas; EUA reagem com cautela Inspetores acham 11 ogivas químicas vazias
DA REDAÇÃO Inspetores de armas da ONU encontraram ontem, no Iraque, 11 ogivas vazias que poderiam ser usadas para carregar armas químicas. O material, encontrado num depósito de munição no sul do país, estava em "excelente" condição. O porta-voz dos inspetores, Hiro Ueki, disse que as ogivas não foram declaradas por Bagdá em documento entregue em dezembro à ONU no qual deveria listar todos os armamentos. O Iraque disse que o que foi encontrado são velhos foguetes de artilharia mencionados em seu dossiê à ONU. "Gostaria de expressar a surpresa com o barulho que está sendo feito", disse o general Hossam Mohammed Amin, que faz o contato com os inspetores. "Isso nada mais é que uma tempestade num copo d'água." A descoberta poderia servir como argumento dos EUA -que vêm enviando dezenas de milhares de soldados ao golfo Pérsico- para justificar uma guerra. Uma autoridade americana, porém, disse que o achado não chega a ser prova irrefutável contra o Iraque. Uma fonte da equipe de inspetores citada pela agência France Presse disse que as ogivas "não são em si mesmas uma questão importante". Cabe ao Conselho de Segurança determinar se o episódio constitui ou não uma "violação material" de resoluções da ONU, o que poderia servir como estopim para uma ofensiva militar. Diplomatas e líderes europeus tentam buscar uma solução pacífica e pedem tempo para que as inspeções no Iraque sejam completadas. EUA e Reino Unido parecem dispostos a acelerar o cronograma rumo ao conflito, para evitar combates durante o tórrido calor do verão no deserto iraquiano. A revelação de ontem, assim, poderia servir aos seus propósitos. A principal questão a ser respondida com relação às ogivas é se elas contêm traços do agente nervoso VX ou de outro elemento químico, como o gás mostarda. Caso esses elementos sejam encontrados, a revelação constituiria um desmentido das alegações do Iraque de que não mais possui armas de destruição em massa. Cautela dos EUA A reação inicial em Washington foi cautelosa. "Munições químicas são algo que havíamos dito que estavam desaparecidas. Por isso, não fico muito surpreso", disse Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado. Numa lista sobre as omissões do Iraque no documento entregue em dezembro, os EUA diziam que o país não havia revelado o paradeiro de cerca de 30 mil ogivas vazias que poderiam ser preenchidas com agentes químicos. O Iraque produziu milhares de ogivas nos anos 80. Ainda não está claro se as peças encontradas são daquela época ou se foram fabricadas recentemente. A equipe internacional realizará testes de laboratório e com raio X para esclarecer a questão. A descoberta foi feita no depósito de munição de Ukhaider (120 km ao sul de Bagdá). O local já foi alvo de bombardeio americano durante a Guerra do Golfo (1991). Até agora, os inspetores diziam não ter encontrado provas da existência de programas de armas químicas, biológicas ou nucleares no Iraque. O chefe dos inspetores, o sueco Hans Blix, deve fazer em 27 de janeiro uma apresentação à ONU, detalhando o que foi encontrado no Iraque. Washington considera esse dia "uma data importante". Blix disse que seria "o início, não o fim" do processo de inspeções. Pesquisa de opinião Pesquisa do instituto Pew divulgada ontem revelou que 53% dos americanos acham que o presidente Bush ainda não justificou de forma clara uma eventual guerra contra o Iraque. Segundo a pesquisa, que ouviu 1.218 adultos entre os dias 8 e 12 e tem margem de erro de 3 pontos percentuais, 76% dos entrevistados apoiariam o ataque se a ONU encontrasse armas químicas, biológicas ou nucleares no Iraque. Mas 63% não concordam que é o Iraque que tem que provar que não possui essas armas. Com agências internacionais Texto Anterior: Atirador de Washington: Réu menor de idade será julgado como adulto Próximo Texto: "Iraque deve fazer mais", diz chefe dos inspetores Índice |
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