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Estudo serviu de base para teoria da "psicologia do mal"
DA CALIFÓRNIA
Pegue dezoito jovens, coloque-os juntos num ambiente fechado e controlado
por duas semanas, divida-os
aleatoriamente entre dois
grupos, um de "guardas",
outro de "prisioneiros" e veja o que acontece. Essa era a
receita original de Philip
Zimbardo, professor da Universidade Stanford em 1971,
quando pôs um anúncio no
jornal: "Precisa-se de estudantes universitários homens para estudo psicológico. Paga-se US$ 15."
Três anos antes, o mesmo
Zimbardo tinha ganho notoriedade nacional por ser um
dos pais do que viria a ser
chamado "Teoria da Janela
Quebrada". Num dia, ele
deixou um carro sem placas,
aparentemente abandonado, numa das então ruas de
maior índice de criminalidade do Bronx nova-iorquino.
Fez o mesmo, com o mesmo
modelo de carro, na rua
principal da pacata Palo Alto, que abriga Stanford, na
época com 15 mil habitantes.
Em poucas horas, o carro do
Bronx foi completamente
depenado. Duas semanas
depois, o da cidade californiana continuava intocado.
Até que Zimbardo pegou
uma marreta.
E quebrou uma das janelas
do carro de Palo Alto. Depois disso, em menos de um
dia, também este seria vandalizado. Daí a tese, que é a
base de ação da moderna
polícia das grandes cidades
norte-americanas hoje em
dia, de que não basta haver
ordem, tem de haver a aparência da ordem; e pequenos
delitos devem ser coibidos
energicamente, pois podem
preparar o ambiente para
grandes delitos.
Mas estamos num domingo ensolarado de agosto de
1971, e Zimbardo já dividiu
seus grupos. Metade foi colocada em "celas" improvisadas no subsolo do prédio
do Departamento de Psicologia, cada um com um número pregado na roupa. A
outra metade recebeu "uniformes" e óculos escuros.
Zimbardo trabalhava com
duas hipóteses. Prisões são
violentas porque presos e
policiais são violentos, daí
estarem presos ou terem escolhidos essa profissão, respectivamente. Ou poderia
ser pela própria natureza da
cadeia, em que guardas uniformizados perdem a responsabilidade individual e
detentos numerados perdem a identidade.
Em poucas horas, o time
dos "guardas" veio com uma
lista de 17 regras que os "prisioneiros" deveriam cumprir. Logo, excessos seriam
cometidos pelos "seguranças". Um deles, mais sádico,
apelidado de "John Wayne"
pelos "detentos", mandou
dois "prisioneiros" ficarem
nus se beijarem. O que se recusou foi enviado para a "solitária". Em três dias, Zimbardo se viu obrigado a interromper o estudo que deveria durar duas semanas.
Ainda hoje, a "Experiência
da Prisão" é considerada a
base da chamada "psicologia
ou a psique do "mal'" e citada
em inúmeros estudos sobre
a violência. A experiência
inspirou inclusive um filme
alemão ("Das Experiment",
exibido no Brasil em 2003).
Histriônico, pavão, Zimbardo tem uma legião de fãs
e alguns críticos. Um deles é
o ex-presidiário Carlo Prescott, consultor da "Experiência da Prisão", que hoje
o acusa de ter exagerado demais o aspecto teatral e se
preocupado de menos com
o científico. Zimbardo responde apenas com um "está
tudo documentado".
(SD)
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