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MÍDIA
Para jornal, ela induziu o público ao erro ao negar vício
Processo de Naomi Campbell expõe relação modelos-drogas
JAMES SHERWOOD
DO "THE INDEPENDENT"
A organização NA (Narcóticos
Anônimos) ganhou uma nova garota-propaganda. A supermodelo
Naomi Campbell está processando o tablóide britânico "The Mirror", que publicou em sua primeira página uma foto em que ela
aparecia saindo de uma reunião
da NA, sob a manchete "Naomi:
sou dependente de drogas".
Ela está processando o jornal
por quebra de confiança e invasão
ilegítima de privacidade -não
deixa de ser um argumento justo,
quando se considera que a placa
acima da porta dizia "Narcóticos
Anônimos". Mas será que a revelação foi tão chocante assim?
O "The Mirror" afirma que
Naomi induziu o público ao erro
quando disse ao "Paris Match"
"nunca tomo estimulantes nem
tranquilizantes", e, depois, à apresentadora de TV americana Barbara Walters, que nunca ninguém
lhe oferecera drogas. Francamente, qualquer pessoa ingênua a
ponto de acreditar na possibilidade de ninguém nunca ter oferecido drogas a uma supermodelo
merece continuar vivendo alegremente alheia à vida real.
As drogas e a moda são amigas
de longa data. Em 1997, a morte
do fotógrafo de moda Davide Sorrenti, por overdose de heroína,
aos 20 anos de idade, levou a
questão às manchetes dos jornais.
Sua namorada, na época, era a
modelo adolescente James King, e
seu irmão, o modelo Mario, namorava a top model Kate Moss.
Hoje atriz, King tinha 14 anos
quando primeiro lhe ofereceram
heroína numa sessão de fotos de
moda. "Eu vivia cercada por drogas. Era algo que estava sempre
presente. O editor, o fotógrafo, todo o mundo fumava ou injetava
drogas, então era natural que eu
fizesse o mesmo. Eu achava que
era assim mesmo que as coisas
funcionavam. Se eu injetava heroína? Não, eu cheirava."
A heroína só teve seu momento
fashion com a chegada da moda
grunge, em 1993, quando Kate
Moss, fotografada para a "Vogue"
britânica por Corinne Day, se tornou o rosto do "heroin chic".
"Eu era esquelética, com olheiras pretas debaixo dos olhos. Era
assim que me queriam. Sinto
náuseas quando me lembro", diz
King. "O vício custava caro, mas
eu tinha dinheiro. Quando se dá
milhares de dólares a uma garota
de 15 anos, ela vai comprar muitos sapatos, muitas roupas
-muito de qualquer coisa que
estiver curtindo no momento. As
revistas escreviam barbaridades a
nosso respeito, mas não paravam
de nos dar trabalho".
Entrevistada para um documentário da emissora Channel 4,
em 1998, Kate Moss disse: "Não
uso mais drogas do que as outras
pessoas. Não as pesadas -especialmente a heroína, depois do
que aconteceu com Davide". Essa
atitude despreocupada demonstra uma sintonia muito maior
com a atitude pública geral em relação às drogas do que o "não" categórico de Naomi Campbell.
Algumas modelos afirmam que
nunca viram drogas sendo consumidas no mundo da moda. "Ouço boatos, mas nunca vi", diz
Cindy Crawford. "Talvez eu seja
ingênua", afirma Christy Turlington. "Experimentei drogas e álcool na escola, mas não desde que
sou modelo. As pessoas não usam
drogas na sala de maquiagem."
Segundo o fotógrafo Peter Lindberg, modelos "precisam dormir
para estarem maravilhosas no dia
seguinte. É impossível uma modelo fazer sucesso e usar drogas."
Mas, como prova a carreira de
Naomi Campbell, isso não é verdade. O que é impossível é uma
modelo dependente de drogas ou
álcool continuar fazendo sucesso
por muito tempo. Uma adolescente aguenta excessos ocasionais, com poucas repercussões físicas no curto prazo, mas uma
modelo de 30 e poucos anos, não.
No que diz respeito a seu envolvimento com drogas, pode-se dizer que Naomi Campbell é mais
vítima do que vilã. Ela era uma colegial de 14 anos quando, em 1985,
foi descoberta e fotografada para
a "Elle" britânica. A vida já é dura
para qualquer adolescente dos subúrbios, mesmo sem as pressões e
tentações do mundo da moda.
Um ponto a favor de Naomi é o
fato de ela ter procurado a ajuda
dos Narcóticos Anônimos: sejam
quais forem seus outros defeitos,
ela não é burra. A história da moda moderna é repleta de exemplos de modelos que não souberam agir com a mesma maturidade. A modelo dos anos 70 Gia Carangi, por exemplo, é mais conhecida hoje por ter sido dependente
de heroína e morrido de Aids em
1986 do que por seu trabalho.
A modelo Imam, mulher de David Bowie, conta: "Já fiz tudo: sexo, drogas e rock'n'roll. Hoje, faço
rock'n'roll e um pouco de sexo,
mas as drogas deixei para trás".
Tradução de Clara Allain
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